Cassandra Castro
No fim deste mês e início de dezembro, será realizada em Dubai, nos Emirados Árabes Unidos, a 28ª edição da Conferência de Mudanças Climáticas da Organização das Nações Unidas (ONU). A COP 28 vem cercada por grandes expectativas para que sejam definidas ações mais enérgicas em relação ao que os países participantes devem fazer para mitigar a situação cada dia mais dramática do planeta que tem enfrentando consequências severas das mudanças climáticas.
A discussão sobre o Acordo de Paris, assinado em 2015, durante a COP21 vai incluir um balanço sobre como e se as nações colocaram em prática as ações previstas no documento que aponta um objetivo crucial: limitar a elevação da temperatura do planeta a 1,5° C, até 2050.
No Brasil, regiões vivem dois extremos potencializados pelos efeitos climáticos como o El Niño e ações predatórias como queimadas e desmatamento ilegal. Seca severa no norte do país e enchente na região sul.
No Amazonas, todos os 62 municípios se encontram em situação de emergência e quase 600 mil pessoas foram afetadas pela estiagem. O estado também enfrentou o drama de queimadas ilegais que acabaram deixando a capital, Manaus, por várias vezes sob uma intensa nuvem de fumaça.
Em meio a tantas notícias de temperaturas extremas, incêndios, queimadas, enchentes, especialistas enfatizam que a corrida contra o relógio para mitigar os malefícios que o planeta tem enfrentado está cada vez mais desafiadora.
Para o especialista em Mudanças Climáticas e Mercado de Carbono, Carlos Sanquetta, mesmo com boa vontade política e iniciativas de muitos países, o desafio é tirar do papel mais ações e torná-las, de fato, efetivas. “Sem a Convenção-Quadro da ONU e o Protocolo de Quioto, a situação estaria muito pior. Os acordos e tratados são voluntários e certos países dependentes dos combustíveis fósseis e conservadores na questão climática travam as negociações. O Brasil também tem boas iniciativas, mas peca em alguns aspectos, sobretudo, na sua notória incapacidade de conter o desmatamento ilegal”.
Falhas e atrasos no processo
De acordo com o relatório sobre o Estado da Ação Climática 2023, os esforços globais para limitar o aquecimento do planeta a 1,5° C estão falhando em todos os sentidos. O documento divulgado no início de novembro é um esforço conjunto de entidades e projetos que atuam na causa climática.
O levantamento feito revela que os progressos alcançados em todos os indicadores analisados estão muito abaixo do ritmo e da escala necessários para enfrentar a crise climática mundial. O único avanço significativo foi o da venda de automóveis elétricos de passageiros.
“Num ano em que as alterações climáticas têm causado estragos em todo o mundo, é evidente que os esforços globais para reduzir as emissões têm sido insuficientes. A mudança incremental contínua não é uma opção; 1,5°C ainda é alcançável, mas precisamos urgentemente de uma mudança radical na ação climática. O relatório sobre o estado da ação climática descreve metas tangíveis setor por setor para orientar os governos na realização dessa mudança radical, em linha com o limite de 1,5°C do Acordo de Paris”, afirmou Louise Jeffery, do NewClimate Institute e uma das principais autoras do relatório.
Dos 42 indicadores avaliados no relatório, apenas a percentagem referente à venda de veículos elétricos segue um bom caminho para atingir sua meta para 2030.
Para Ani Dasgupta, presidente e CEO do World Resources Institute, uma das entidades participantes na elaboração do relatório, é necessário um maior comprometimento de todos para melhorar a situação ambiental do mundo.
“Está se tornando cada vez mais claro e urgente corrigir o rumo do clima. Já sabemos o que precisa de ser feito, setor a setor, até 2030. O mundo fez alguns progressos – em alguns casos, um progresso exponencial – mas, no geral, estamos atrasados e com várias tendências movendo-se rapidamente na direção errada. Serão necessárias medidas drásticas da parte de todos nós – governos, empresas, cidades – para abraçar a mudança sistêmica necessária para criar um futuro habitável e próspero para as pessoas, a natureza e o clima.”
Mesmo pintando um quadro aparentemente sombrio das ações pouco efetivas na área climática, o documento também aponta algumas medidas necessárias e urgentes para acelerar a ação climática nesta década como, por exemplo, aumentar o uso da energia eólica e solar. A cota destas duas tecnologias na produção de eletricidade cresceu a uma média anual de 14% nos últimos anos, mas este valor precisa atingir 24% para entrar na rota até 2030.
Outra ação emergencial é diminuir a taxa anual de desmatamento que é equivalente ao desmatamento de 15 campos de futebol por minuto em 2022 e precisa ser reduzida quatro vezes mais rapidamente ao longo desta década.
O professor Carlos Sanquetta também enumera o que deve ser feito agora para minimizar os prejuízos ambientais. Para ele, é imprescindível construir um plano de contingência dada a emergência climática, além de investir em ciência e tecnologia de alertas e em equipamentos e pessoal para acompanhar esses problemas de perto. “Não adianta culpar o clima, o El Niño ou La Niña, é preciso ter ações inteligentes e coordenadas. Recursos precisam ser destinados para as ações emergenciais de segurança alimentar e energética para as populações, bem como o monitoramento das baixas nas populações de peixes, botos e outras formas de vida aquáticas. É preciso agir rápido e de forma organizada”, finalizou.