Cassandra Castro
A grande expectativa em torno da COP28, em Dubai, pode ser frustrada devido a um impasse: a queda de braço entre o lobby de grupos ligados à produção de combustíveis fósseis (como o petróleo e seus derivados, carvão mineral e gás natural) e representantes de países em desenvolvimento e subdesenvolvidos que são os elos mais frágeis e mais impactados pelas graves consequências das emissões de efeito estufa (EEE), no planeta.
Mesmo com uma grande chance de o documento final da Conferência do Clima não ser assinado por todos os países e não contemplar as principais questões debatidas no encontro, alguns avanços foram alcançados na avaliação do pesquisador e professor Carlos Sanquetta. Ph.D em Ecologia e em Manejo de Recursos Florestais e em Manejo Florestal e Mudanças Climáticas, o especialista participou de reuniões da COP28 como membro delegado pela ONU.
Uma das conquistas, embora ainda tímida na avaliação de Sanquetta, foi o anúncio inicial de recursos da ordem de U$ 400 milhões destinado aos países que já enfrentam os impactos mais significativos das mudanças climáticas. Na visão dele, os países têm cumprido, em parte, a promessa de aportes financeiros para o chamado “Fundo de Perdas e Danos”.
“São recursos pequenos, pouco expressivos, mas é um começo, representa uma vitória, um avanço significativo”, afirma o pesquisador, que analisa a questão como uma forma de compensação correta e que terá efeitos a médio e longo prazos. Ele acredita que haja uma ampliação do valor destinado para este fim.
Combustíveis fósseis, o calcanhar de Aquiles da COP28
As negociações para se chegar a um consenso em relação ao uso dos Combustíveis Fósseis, grandes emissores dos Gases de Efeito Estufa (GEE) foram longas e sem consenso. A intenção de incluir no texto final da Conferência a meta de eliminação gradual dos combustíveis fósseis não foi adiante. A falta de metas mais incisivas que impliquem num comprometimento mais definitivo dos países signatários foi criticada por vários representantes de países que participam da COP.
Carlos Sanquetta destaca que a redução do uso de combustíveis fósseis sozinha, não traria a solução definitiva para a crise climática. “Mesmo que a esta redução (dos combustíveis fósseis) fosse bastante significativa, os resultados dependeriam de outros setores igualmente estratégicos como a questão dos resíduos, de outros processos industriais, da agricultura, criação de animais”.
Mercado de carbono
Outro ponto importante da COP 28, segundo Sanquetta, foi a participação de John Kerry, ex-vice-presidente americano. “Kerry é bastante participativo nesse processo e agora também é o assessor especial para a questão climática nos Estados Unidos. Ele deu uma declaração muito importante para o mercado de crédito de carbono durante a COP, dizendo que esse mercado se tornará o maior em todo o mundo, mostrando a força que os créditos de carbono têm para alavancar a economia, a tecnologia e o desenvolvimento de alternativas sustentáveis, fazendo parte de uma solução climática global”, relatou o professor.
Para o pesquisador, mesmo sendo um assunto cada vez mais debatido no mundo todo, o mercado de carbono não recebeu o destaque esperado na COP28 por quem acredita nele como um potencial poderoso para alavancar o desenvolvimento sustentável em países com grande ativo ambiental, como é o caso do Brasil.
Sanquetta aponta iniciativas de alguns estados como o Pará, Acre e Tocantins que têm se movimentado para ganhar visibilidade no mercado de carbono, mas alerta que o grande desafio é conciliar diferentes interesses envolvidos. Na análise dele, é fundamental gerar créditos de carbono com alta integridade e buscar se adequar aos padrões internacionais.
“Já existe um mercado de carbono voluntário no Brasil, o que precisa é se adequar aos padrões para ter os critérios básicos de um projeto de crédito de carbono. Não adianta criar coisas desalinhadas com o restante do mundo. Existem padrões, metodologias e talvez o que tenhamos que fazer seja uma adaptação, uma adequação do que já existe à nossa realidade”, afirma.
Uma outra questão avaliada por Carlos Sanquetta é a participação efetiva do setor agropecuário e do agronegócio no mercado de carbono. O pesquisador diz que o segmento segue um ciclo de “ idas e vindas” quando o assunto é reduzir as emissões de GEE e contribuir para mitigar os efeitos das Mudanças Climáticas. Para ele é necessário um aprofundamento na questão. “ É importante que haja uma leitura mais ampla, completa e profissional, tecnificada desse assunto e não só política como tem sido feito para que a agricultura, a pecuária e outras atividades do meio rural, possam se enquadrar”.
O mundo não quer mais consumir produtos com agrotóxicos, uso excessivo de água, áreas desmatadas, pontua o especialista que aconselho o Brasil a se adequar a uma realidade cada vez mais presente que é a da prática de atividades econômicas mais sustentáveis, se não quiser perder o bonde da sustentabilidade. “Precisamos praticar uma agricultura de baixo carbono, sustentável, temos avanços que precisam ser aprendidos, valorizados e praticados em ampla escala em todas as regiões do país”.
O Brasil precisa pegar as soluções de baixo impacto ambiental que já pratica nos diversos segmentos e mostrá-las ao mundo, sem esquecer de fazer “ o dever de casa” e corrigir gargalos ainda existentes no país, como o descarte correto de resíduos sólidos, o desperdício de alimentos e a ampliação do acesso da populações aos serviços de saneamento básico.
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