Redação Planeta Amazônia
Com pelo menos 40 mil espécies vegetais, a Amazônia é um dos locais com maior potencial para a bioeconomia no mundo. Sua rica biodiversidade pode gerar 833 mil novos empregos no setor de bioeconomia segundo um dos mais amplos estudos sobre como desenvolver a economia dos estados da região sem destruir a floresta. No Pará, estado que vai sediar a conferência do clima da ONU 30 em 2025 – a COP 30 – sobram exemplos de negócios a serem destacados neste Dia da Amazônia. O Serviço de Apoio às Micro e Pequenas Empresas no Pará (Sebrae/PA) tem atuado para que esses empreendedores estejam preparados para aproveitar a tendência global, impulsionada por consumidores cada vez mais conscientes, e a visibilidade que a realização da conferência no estado já está trazendo — e que deve aumentar à medida que o evento se aproxima.
“Queremos fortalecer atividades da economia da floresta que já existem, deixando claro que os pequenos empreendedores podem e devem aproveitar nossa vasta biodiversidade, os saberes ancestrais, as aptidões e as potencialidades do local em que vivem para gerar renda e oportunidades perenes”, afirma o diretor-superintendente do Sebrae no Pará, Rubens Magno. “Na COP 30 esperamos receber 60 mil pessoas, que são também consumidores, ou seja, são mais oportunidades de negócios para esses empreendedores. É o momento para que micro e pequenos produtores locais mostrem ao mundo os produtos e serviços únicos e sustentáveis que o bioma amazônico proporciona”, completa.
Quando a riqueza de oportunidades da bioeconomia da Amazônia se encontra com a criatividade de seus empreendedores, o resultado é um enorme potencial de desenvolvimento da economia local. A economia criativa já é responsável por 7,4 milhões de postos de trabalho no Brasil e pode gerar mais de um milhão de novos empregos até 2030, segundo levantamento recente do Observatório Nacional da Indústria (ONI), núcleo da Confederação Nacional da Indústria (CNI). Dela fazem parte empreendedores como a estilista Maria das Graças Bulhões Arruda ou apenas Graça Arruda, criadora da grife Madame Floresta. Esta marca de moda autoral, genuinamente paraense, tem participado, por intermédio do Sebrae no Pará, de capacitações, feiras, eventos de moda, desfiles e exposições desde sua criação, em 1999. “O Sebrae no Pará também realizou consultorias de chão de fábrica para a qualificação da mão-de-obra”. A inspiração para as peças é a rica natureza amazônica. “Buscamos referência na natureza, na cultura amazônica e nas artes manuais para criar peças ecologicamente corretas, com tecidos biodegradáveis, à base de fibras vegetais e uso criativo dos recursos têxteis”, explica a proprietária.
A marca também trabalha o resgate e a manutenção do modo artesanal de fazer roupa e valoriza a forma ancestral de costura por meio do uso de costura manual, bordados, aplicações, patchwork, crochê e outras artes manuais, respeitando o tempo, o processo criativo e as pessoas. “Trabalhamos com moda autoral sustentável, com resíduos têxteis gerados pelo ateliê para evitar o descarte no meio ambiente. Estamos fazendo também a transição para um sistema de energia solar, cuidamos dos colaboradores e nos preocupamos com o preço justo. Usamos, por exemplo, botões com casca de coco, de ouriço, de castanha do Pará e da concha de ostra descartada do meio ambiente.”
Outro exemplo é a Seiva Amazon Design, uma marca de acessórios e biojoias que usa látex, pó de serragem e de caroço de açaí para criar moda sustentável na Amazônia. A empresa nasceu em 2021, baseada nos recursos da floresta. A fundadora Lídia Abrahim, designer por formação, explica que procurou o Sebrae no Pará quando criou a marca e foi essa parceria que a ajudou a aprimorar a ideia de fazer um produto inovador, deixando para trás os modelos feitos com prata, ouro e pedras. “Por uma questão pessoal e por tudo o que esse tipo de produto envolve, como a extração mineral, busquei a sustentabilidade e a preservação. Daí a opção pelas biojoias.”
Além das peças diferenciadas que produz, a Seiva Amazon Design também atua junto às comunidades, mostrando como usar os recursos naturais de forma consciente. “Precisamos usar os recursos de uma maneira eficiente e ecológica. Com o látex, por exemplo, estamos tentando construir um novo ciclo – no qual as pessoas sejam valorizadas e que a renda seja revertida para a comunidade”, afirma. “Com esse trabalho, percebi o envolvimento da nova geração, sendo que 99% são mulheres interessadas em produzir a biojóia”, disse.
Mais uma empreendedora apoiada pelo Sebrae/PA, Maria Araújo, criou a Coraterra, um ateliê de tingimento natural e estamparia botânica, que já envia pedidos para todo o Brasil. Junto com a neta, a empreendedora resgata processos manuais de tingimento natural para criar peças únicas, coloridas e sustentáveis. “É incrível como podemos extrair tinturas de plantas, folhas, raízes, cascas e até mesmo de alguns frutos. No meu quintal produtivo, tenho algumas plantas, como pariri, pata-de-vaca, goiaba e amora, que possibilitam uma paleta de cores única, geram renda e ajudam na conscientização sobre o presente e o futuro”, relata.
A criatividade das paraenses não surpreende apenas na moda. Outra empresa familiar reúne gerações de mulheres para celebrar a riqueza da amazônica com produtos à base de cacau nativo. A Cacauaré alia inovação e saberes ancestrais para criar uma variedade de produtos, como barra 100% cacau, granola, nibs e geleias. “Buscamos transmitir não apenas o sabor, mas também os laços afetivos e as tradições que envolvem nossa produção”, destaca a CEO da empresa, Noanny Maia. Para ela, a capacitação é fundamental, pois o conhecimento sobre boas práticas ajuda a agregar valor e a conquistar clientes. “Já exportamos para os Estados Unidos e queremos aproveitar a visibilidade da COP 30 para ganhar novos mercados nacionais e internacionais.”
O foco das empreendedoras é a COP 30, que, acreditam, trará um volume de vendas diferenciado. Por isso, algumas já estão fazendo adaptações nas modelagens, nas estampas e nos sabores para agradar também os visitantes.