Pastagem, soja e cana ocupam 77% da área de agropecuária no Brasil

Redação Planeta Amazônia

Três a cada quatro hectares de agropecuária no Brasil são ocupados por pecuária (164 milhões de hectares), soja (aproximadamente 40 milhões de hectares) ou cana (cerca de 9 milhões de hectares). Estes são alguns dos achados dos mais recentes mapeamentos de agricultura e pastagem conduzidos pela rede de instituições do MapBiomas. Os dados foram apresentados hoje (6) em evento no Ministério da Agricultura e Pecuária, em Brasília. 

A partir da análise de imagens de satélite cobrindo o período entre 1985 e 2023, os dados apontam que a área ocupada por culturas temporárias, como soja, cana, arroz e algodão, entre outros, aumentou 3,3 vezes, passando de 18  milhões de hectares para 60 milhões de hectares. No caso da soja, o crescimento foi ainda mais expressivo: a cultura passou de 4,4 milhões de hectares mapeados em 1985 para cerca de 40 milhões de hectares mapeados em 2023 – uma área do tamanho do território do Paraguai. Já a área mapeada de lavouras perenes, como café, citrus e dendê, entre outros, cresceu 2,9 vezes nesse mesmo período: de 727 mil hectares em 1985 para 2,3 milhões de  hectares em 2023. O cultivo perene mais frequente é o café, com 1,26 milhão de hectares em 2023. 

Considerando-se a soma das áreas de agricultura, pastagem e mosaico de usos, constata-se expansão em todos os biomas brasileiros nos últimos 39 anos desde 1985, porém em ritmos diferentes: +417% na Amazônia (onde ocupa 66 milhões de hectares em 2023), +256% no Pantanal (2,5 milhões de hectares em 2023), +68% no Cerrado (90 milhões de hectares em 2023), +62% no Pampa (8 milhões de  hectares em 2023), +34% na Caatinga (33 milhões de  hectares em 2023) e +3% na Mata Atlântica (67 milhões de hectares em 2023).  Proporcionalmente, em 2023, o bioma com maior área de agricultura é o Pampa, com 5,6 milhões de  hectares, representando 29% da área do bioma. Porém em área absoluta, os líderes são Cerrado e Mata Atlântica, com 26 milhões de hectares e 20 milhões de hectares.

Expansão da soja e das demais culturas temporárias no Brasil

Os cerca de 40 milhões de hectares da área mapeada de soja no Brasil representam 14% de toda a área de agropecuária no Brasil. Em 2023, quase a metade dessa área cultivada com soja está no Cerrado (19,3 milhões de hectares), seguido com um quarto na Mata Atlântica (10,3 milhões de hectares) e depois na Amazônia (5,9 milhões de hectares), entretanto, o bioma Pampa é o que apresenta maior área proporcional de soja em relação ao seu território: 21% do bioma é destinado à cultura da soja (4 milhões de hectares).

Em um recorte temporal de 1985 a 2008, a soja expandiu 18 milhões de hectares, sendo 30% proveniente de áreas de vegetação nativa (5,7 milhões de hectares), 26% proveniente de conversão de pastagem para soja (5 milhões de hectares) e 44% proveniente de outras áreas já antropizadas anteriormente (8 milhões de hectares). Quando olhado o recorte temporal de 2009 a 2023, com expansão de 17 milhões de hectares, o cenário muda, com 15% de áreas de soja provenientes de vegetação nativa (2,8 milhões de hectares), 36% proveniente de conversão de pastagem e 49% de áreas já antropizadas. As regiões que apresentaram maiores conversões para soja após 2008 foram as regiões do Matopiba (2,8 milhões de hectares) e Pampa (1,2 milhão de hectares). Nota-se também o surgimento de novas fronteiras agrícolas, com a expansão da soja na região da Amacro (72 mil hectares mapeados em 2023) e Roraima (com 76 mil hectares mapeados em 2023).

Intensificação e irrigação da agricultura temporária 

No caso das culturas temporárias, o mapeamento identificou que cerca de 70% das áreas cultivadas com soja de primeira safra praticam mais de um ciclo por ano nos últimos sete anos. A Mata Atlântica apresenta maior proporção de culturas temporárias com dois ou mais ciclos por ano-safra (outubro a setembro). No Pampa, 86% das áreas cultivadas com arroz, ou 1 milhão de hectares, apresentam apenas um ciclo, devido ao sistema de rotação com pousio e campos naturais com gado, tradicionalmente usado na região.

“A maioria das áreas de culturas temporárias do Brasil apresenta mais de um ciclo, com destaque para a Mata Atlântica. As áreas com até um ciclo por ano-safra em geral estão relacionadas à cana, cujo ciclo excede um ano, e ao cultivo de arroz irrigado no Rio Grande do Sul, em função da rotação e pousio. Mesmo áreas com expansão agrícola recente, como na Amazônia e no Cerrado, tendem a apresentar mais de um cultivo por ano. Nessas regiões, em especial, as mudanças climáticas em curso, com aumento da temperatura e redução da chuva, podem impactar consideravelmente a produção no futuro próximo, até inviabilizando um segundo ciclo”, comenta o professor Eliseu Weber, um dos coordenadores do tema de Agricultura no MapBiomas.

O avanço das culturas temporárias contribuiu com a expansão da irrigação no Brasil. Ao todo, foram mapeados 3 milhões de hectares de agricultura irrigada no Brasil, sendo que quase dois terços (61%) do que foi mapeado usa pivô central e um terço (33%) inundação (basicamente, áreas de cultivo de arroz em terras baixas). Outros sistemas de irrigação não foram mapeados. A quase totalidade (97%) das áreas irrigadas mapeadas com pivô central corresponde a culturas temporárias. A área total mapeada com agricultura irrigada é cerca de metade da área irrigada informada pela Agência Nacional de Águas (ANA), devido à dificuldade de detecção e mapeamento por imagens de satélite, o que será aprimorado nas próximas coleções.

A conversão de áreas de pastagem no Brasil

Ao todo, foram mapeados aproximadamente 164 milhões de hectares de pastagens, ou 60% da área de agropecuária. Trata-se de um crescimento de 79% em relação aos 92 milhões de hectares ocupados em 1985. A pastagem é atualmente o principal uso antrópico do território brasileiro. Mais de um terço (36%, ou 59 milhões de hectares) das pastagens brasileiras ficam na Amazônia, onde cobrem 14% da área total do bioma. Cerca de um terço (31%, ou 51 milhões de hectares) ficam no Cerrado, onde as pastagens ocupam 26% do bioma. Juntos, Amazônia e Cerrado respondem por dois terços (67%) das pastagens brasileiras.

De acordo com dados do MapBiomas, o Cerrado perdeu 500 mil hectares de vegetação típica de áreas úmidas entre 1985 e 2023 – principalmente para pastagem/foto: Rafael Coelho IPAM

Os biomas com maior área proporcional de pastagem são Caatinga, Cerrado e Mata Atlântica, com 23 milhões de hectares (27% do bioma), 51 milhões de hectares (26% do bioma) e 29 milhões de hectares (26% do bioma), respectivamente.  No caso da Mata Atlântica, 84% das atuais áreas de pastagem foram abertas há mais de 30 anos. No caso do Cerrado, 72% das áreas de pastagem atuais foram abertas há mais de 20 anos. 

Os pesquisadores observaram uma tendência de aumento na conversão de áreas de pastagem para outros usos em todos os biomas brasileiros. Na Amazônia, cerca de 40% da conversão das pastagens ocorreu nos últimos 10 anos; no Cerrado, esse percentual é de 42%. Em termos de área, o Cerrado lidera na extensão de pastagens convertidas desde o início da série histórica, em 1985: quase 35 milhões de hectares. Na Mata Atlântica, foram pouco mais de 25 milhões de hectares. 

Os pesquisadores também avaliaram as transições da cobertura e condição de vigor da pastagem entre 2000 e 2023. Os resultados mostram que 80,5% das pastagens formadas entre 2000 e 2023 (47,5 milhões de hectares) são oriundos de Florestas (Formação Florestal, Savana, etc.). Mais da metade desse total (51%) deram origem a pastagens de médio vigor (17,4 milhões de hectares) ou de baixo vigor (6,9 milhões de hectares). Outros 23,2 milhões de hectares deram origem a pastagens de alto vigor.

Quando se analisa a transição entre pastagens, o cenário é mais animador: houve um ganho líquido de 10,5% na condição do vigor das pastagens brasileiras entre 2000 e 2023, pois foi constatada uma melhora da condição de vigor de 25%, ou 43,2 milhões de hectares, das pastagens com baixo e médio vigor. Em 14,5%, ou 15,3 milhões de hectares houve piora na condição de vigor em áreas que anteriormente tinham alto e médio vigor.

Ao avaliar a transição das pastagens para outros usos, constata-se que 87,1% do total de pastagens que foram convertidas para agricultura entre 2000 e 2023 apresentavam uma condição de vigor entre médio e baixo. Cerca de 42% da área de pastagem abandonada e/ou regenerada para vegetação nativa entre 2000 a 2023 vem de pastagens com uma condição alta de vigor.

Em 2022, as pastagens cultivadas no Brasil produziram cerca de 3,18 gigatoneladas de biomassa, ou, em média, 19,5 toneladas por hectare, com maiores e menores valores associados às pastagens da Amazônia (aproximadamente 25 toneladas por hectare) e Caatinga (cerca de 11 toneladas por hectare), respectivamente. “Considerando o tamanho do rebanho brasileiro em 2022 encontrado em áreas de pastagens cultivadas (aproximadamente 209 milhões de unidades animais – UA, sendo 1 UA = 450 kg) e o consumo médio de forragem por UA, há espaço para otimismo quanto ao potencial de intensificação sustentável da pecuária brasileira, ao mesmo tempo que a liberação de áreas de pastagens para outros usos”, explica o professor Laerte Ferreira, coordenador da equipe de pastagem  do MapBiomas .

Uma grande novidade que o MapBiomas Coleção 9 traz em relação ao mapeamento e monitoramento das pastagens brasileiras é a estimativa anual da produção e estoques de forragem. “Esse dado é de fundamental importância para se avaliar a capacidade de suporte das nossas pastagens, com vistas a adoção de práticas de manejo mais eficientes e sustentáveis no âmbito da atividade pecuária no Brasil”, destaca Laerte Ferreira. 

By emprezaz

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