Aleac debate logística e desafios do setor de transporte e impacto do Porto de Chancay na economia acreana

Redação Planeta Amazônia

A Assembleia Legislativa do Acre (Aleac) realizou, na manhã desta sexta-feira (06), uma audiência pública para discutir os desafios logísticos enfrentados pelo setor de transporte de câmaras frias e cargas, além de avaliar os impactos econômicos do Porto de Chancay, no Peru, para o estado. O debate foi promovido por meio de um requerimento apresentado pelo deputado Pedro Longo (PDT).

O parlamentar ressaltou a importância do debate sobre os impactos do Porto de Chancay e os desafios enfrentados pelo setor de transportes, destacando a necessidade de transformar essas mudanças em oportunidades para o Acre. “Essa audiência marca o início de uma discussão que pode trazer grandes benefícios ao nosso estado, mas que exige organização e planejamento para que nossos empresários não sejam prejudicados por concorrências desleais ou entraves burocráticos”, afirmou.

O deputado Pedro Longo destacou a importância do encontro como um alerta para todas as partes envolvidas, incluindo empresários, parlamentares, órgãos estaduais e federais/foto: Sérgio Vale

Longo também reconheceu o papel fundamental dos transportadores na condução dessa pauta e destacou a urgência de atender às suas demandas. “Quero agradecer ao setor de transportes por trazer essa questão à tona. Precisamos buscar soluções para problemas como as dificuldades alfandegárias e a vigilância sanitária, garantindo que o Acre esteja preparado para aproveitar ao máximo essa nova estrutura logística que está se consolidando com o Porto de Chancay”, declarou.

Representando na ocasião o Sebrae/Acre, a consultora Socorro Figueiredo, fez uma explanação sobre o trabalho do setor de transporte do Estado. Em seu discurso, ela falou dos desafios críticos que comprometem a competitividade e arrecadação deste setor, além de deixá-lo à margem de políticas públicas. Segundo ela, atualmente, o segmento de câmaras frias e cargas secas arrecada, respectivamente, R$ 14 milhões e R$ 18 milhões em impostos anuais, mas enfrenta problemas como a evasão do IPVA devido ao registro de veículos em outros estados. “Um carro emplacado em Porto Velho paga o imposto lá, enquanto as empresas utilizam nosso mercado para gerar receita fora”, destacou no discurso. A exclusão do setor de leis como a nº 3.495/2019, que beneficia a indústria local, e a nº 3.889/2021, que incentiva compras governamentais, agrava a situação, deixando transportadores sem acesso a subsídios ou contratações diretas.

Outro problema, de acordo com a consultora, é a falta de representatividade do setor em decisões estratégicas, como o uso do Porto de Chancay. “Como temos tantos transportadores e não estamos sequer com o transporte legalizado para importação e exportação?”, questionou ela, ressaltando a necessidade de inclusão em debates sobre logística e infraestrutura. Além disso, o transporte de mercadorias essenciais como alimentos e material escolar não é realizado por empresas locais, o que reforça a urgência de políticas públicas voltadas para o segmento. “Por que os transportadores do Acre não fazem parte dessas iniciativas?”, pontuou Socorro, sugerindo maior integração e regulamentação.

Representando na ocasião o Sebrae/Acre, a consultora Socorro Figueiredo, fez uma explanação sobre o trabalho do setor de transporte do Estado/foto: Sérgio Vale

Entre as soluções apresentadas estão a ampliação do Programa de Compras Governamentais para incluir o setor de transporte, criando subsídios e fortalecendo a economia local. “Se nossos transportadores começarem a fechar, onde ficarão os empregos e a geração de impostos?”, alertou a consultora, reforçando o impacto social e econômico do segmento. A criação de um marco regulatório também foi apontada como essencial para garantir a sustentabilidade do setor, com políticas que assegurem a participação dos transportadores em iniciativas estratégicas e fomentem sua competitividade.

Adalberto José Moreto, representando a Federação das Indústrias do Acre (FIAC), destacou a relevância do Porto de Chancay para a exportação de café e enfatizou a necessidade de industrializar os produtos para agregar mais valor à economia local. “O Acre já ocupa a décima posição na produção nacional de café, e com o Porto de Chancay podemos expandir ainda mais, mas é fundamental investir na industrialização para aumentar a renda e fortalecer o setor produtivo do estado”, afirmou.

Adem Araújo, representante da Associação de Supermercados do Acre (ASAS), ressaltou a importância de fortalecer o setor de transportes para otimizar importações e exportações no estado, especialmente com o uso do Porto de Chancay. “Enfrentamos desafios pela falta de flexibilidade no transporte, o que limita nossas importações e prejudica setores como o de perecíveis. Estruturar esse segmento é essencial para melhorar nossa logística e reduzir custos, beneficiando diretamente a economia local”, pontuou.

O secretário de Indústria, Ciência e Tecnologia, Assurbanipal Mesquita, ao parabenizar a realização da audiência pública, ressaltou a relevância histórica da logística para a economia do Acre. “O setor sempre teve grande influência na formação de preços e na produção, sendo essencial para o comércio local”, afirmou. Ele também destacou a importância do porto recém-inaugurado. “Hoje, temos um trabalho estruturado, fruto de uma luta de vários anos, e isso marca um momento de inflexão para o estado, especialmente com a inauguração do Porto de Chancay, que representará uma grande mudança para nossa economia”, completou.

O presidente da Adacre destacou a importância do Porto de Chancay para o desenvolvimento econômico do Acre, ressaltando que o estado não deve ser apenas uma rota de passagem, mas sim um ponto de parada para exportação e importação de produtos. “Precisamos fomentar o estado, gerar receita e não temer os benefícios tributários”, afirmou. Mateus também apontou a necessidade de uma revisão no sistema tributário, como no exemplo do vizinho Rondônia, onde as importações recebem um benefício fiscal significativo, destacando a disparidade do ICMS no Acre, que chega a 17%. “Essa barreira tributária impacta diretamente a importação e a competitividade dos produtos no nosso estado”, concluiu.

O secretário de Indústria, Ciência e Tecnologia, Assurbanipal Mesquita, ao parabenizar a realização da audiência pública, ressaltou a relevância histórica da logística para a economia do Acre/foto: Sérgio Vale

Em seguida, o diretor regional executivo da Polícia Federal, Felipe Peres, destacou a importância de ações preventivas e estruturais para lidar com o fluxo migratório crescente no Acre, que atualmente contabiliza entre 250 e 300 caminhões e imigrantes por dia, “mas que pode alcançar 900, segundo o embaixador peruano”. Durante seu discurso, foi anunciado que o senador Alan Rick destinou R$ 200 mil para a reforma do posto da Polícia Rodoviária Federal, recurso considerado crucial para a melhoria dos serviços. “Esse aumento de tráfego é um grande desafio, não só para a gente, mas também para a Polícia Rodoviária Federal”, ressaltou Felipe, que pediu apoio de congressistas do Acre para acelerar projetos e fortalecer a segurança no estado.

A logística no Acre, marcada por altos custos e desafios estruturais, também foi tema de destaque do discurso do empresário Marcelo Moura, que apontou a necessidade de avanços no setor para atenuar o impacto econômico na região. “Quando compramos mercadorias, pagamos dobrado pelo frete devido à falta de carga de retorno”, ressaltou ele, destacando o potencial do Porto de Chancay para reduzir custos. Entre as propostas apresentadas por ele, estão a criação de um ambiente tributário favorável, com apoio da Assembleia Legislativa e da Secretaria de Fazenda, além da implementação de uma estrutura alfandegária 24 horas. “A união entre deputados, governo e setor privado é fundamental para aproveitarmos o crescimento econômico e evitar que outros estados avancem à nossa frente”, enfatizou Marcelo, mencionando ainda o apoio do senador Alan Rick em iniciativas voltadas à logística regional.

Já Nazaré Cunha, do sindicato dos transportes, agradeceu ao deputado Pedro Longo pela sensibilidade e apoio em buscar soluções para os desafios enfrentados pelo segmento. Destacando a falta de políticas públicas voltadas para o setor, ela afirmou que “estamos soltos, largados” e ressaltou a importância de um esforço conjunto para o desenvolvimento da logística no Acre. A preocupação com a sustentabilidade do setor foi evidente ao mencionar a trajetória de sua empresa, que já conta com 45 anos de história, e o risco de não sobreviver às dificuldades atuais. “Estamos vivendo a era da borracha”, referindo-se ao impacto da implantação do porto no Peru, e concluiu com a necessidade de aumentar a eficiência do transporte, dizendo que “quando a perna do transporte não volta carregada, o custo aumenta e, consequentemente, o consumidor paga mais”.

Durante o encontro, representantes do setor de transportes, especialistas e autoridades destacaram as dificuldades enfrentadas pelos operadores logísticos, como a precariedade das estradas e a falta de infraestrutura adequada para o transporte de cargas perecíveis. Além disso, foram debatidas estratégias para integrar a economia local à dinâmica do Porto de Chancay, que tem potencial para se tornar um importante canal de exportação para produtos acreanos. A audiência pública resultou em propostas que deverão ser encaminhadas aos governos estadual e federal, visando melhorar a infraestrutura e fortalecer o setor logístico no Acre.

Em suas considerações finais, o deputado Pedro Longo destacou a importância do encontro como um alerta para todas as partes envolvidas, incluindo empresários, parlamentares, órgãos estaduais e federais. “Cada um tem seu dever de casa, e todos devem entender sua responsabilidade para que possamos avançar”, afirmou. Ele agradeceu a presença e a contribuição das diversas entidades que já saem com missões estabelecidas. “Vamos formar um grupo de trabalho no início do ano para dar continuidade aos esforços”, concluiu.

By emprezaz

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Postagens relacionadas