ATROCIDADES E ESPERANÇAS NA AMAZÔNIA

Alejandro Fonseca Duarte
Professor da Universidade Federal do Acre
Pesquisador em Clima e Ambiente da Amazônia

Imagine você receber serviços de embelezamento, de refeição em um restaurante ou cantina, de acomodação em hotel, de aulas numa escola … e após sermos servidos, derrubarmos a machadadas o local que nos prestou o serviço e tocarmos fogo em tudo. Já imaginou?

Agora, imagine você receber os seguintes serviços ambientais da floresta amazônica: purificação do ar que respiramos através da troca de dióxido de carbono por oxigênio, garantia de alimentação pela existência de abundante água no solo e na atmosfera, desfrute da beleza deslumbrante do ambiente, contribuição extraordinária ao equilíbrio do clima do planeta, garantia
contra o surgimento de novas doenças, fonte inesgotável de pesquisas para medicamentos e cosméticos … e mesmo assim, após termos nos beneficiado desses serviços ambientais da Amazônia, nos permitirmos derrubá-la e tocar fogo nela. Já imaginou?

O primeiro daria para imaginar, porque não acontece; o segundo não é imaginação, senão realidade e como consequência há contaminação e poluição de rios, solos e ar; perda da saúde humana; crescimento das ilicitudes, os crimes e a vulnerabilidade social.

Antes das últimas décadas do século passado, já ativistas ambientais e cientistas lutaram e esclareciam pela preservação da Amazônia. O Acre tem Chico Mendes na memória e na floresta extrativista queimada e desmatada.

Nos vinte primeiros dias de setembro a Reserva Extrativista Chico Mendes foi a campeã em queimadas entre as Unidades de Conservação do Brasil.

Há anos, de forma recorrente, o verão amazônico passou a ser a estação da fumaça e o inverno amazônico a estação da alagação. A situação se mantém como reflexo à ausência de políticas públicas para cumprir os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável, em particular, Erradicação da pobreza; Saúde e bem-estar; Água potável e saneamento; Energia limpa e acessível; Ação contra a mudança global do clima e Redução das desigualdades.

Resultados de pesquisas realizadas na Universidade Federal do Acre junto com instituições da Amazônia, nacionais e internacionais têm dimensionado a sazonalidade das chuvas, do escoamento superficial das águas, das queimadas, da fumaça e do impacto da insustentabilidade na saúde. Convido a ler os seguintes trabalhos sobre: poluição, saúde, águas, sedimentos e outros.

Os desafios se espalham em muitas direções. Educação, Ciência e Tecnologia, sem dúvidas são os caminhos pertinentes, mas como fazer para que estes caminhos cheguem no lugar certo e daí, sem retrocessos, fazer com que a sociedade alcance os melhores indicadores de desenvolvimento humano? Poderíamos continuar com muitos times de futebol, de ginástica, de atletismo … mas unirmos num só time para o desenvolvimento sustentável.

Desta forma a Amazônia que a sociedade há de querer não seria a da mineração, pois não existe mineração sustentável; não seria a de cortar a Serra do Divisor para construir uma estrada, pois longe da sustentabilidade de uma Unidade de Conservação de Proteção Integral da Natureza, essa “construção” só ocasionaria maior destruição. A floresta abriga as populações tradicionais e
suas culturas. A Amazônia vai ser recuperada e a união de propósitos nesse sentido já foi plantada com o Arco da Restauração.

By emprezaz

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