Redação Planeta Amazônia
Enquanto os impactos das mudanças climáticas se intensificam, comunidades vulneráveis no Sul Global enfrentam dificuldades para acessar recursos financeiros destinados à adaptação. Um documento da CLIMÁTICA Consultancy, em parceria com o Fundo Casa Socioambiental, aponta que apenas 12% do financiamento climático global chega a países do Sul Global, apesar de serem os mais afetados pelos eventos extremos.
A publicação mostra que, em 2024, o Brasil registrou a pior temporada de incêndios florestais em uma década, com 11 milhões de hectares queimados na Amazônia e no Pantanal, o dobro da área destruída no ano anterior. Além disso, as enchentes no Rio Grande do Sul resultaram em mais de 180 mortes, evidenciando a necessidade urgente de medidas de adaptação. No entanto, enquanto os investimentos globais em mitigação climática somam US$ 1,2 trilhão por ano, os recursos destinados à adaptação são significativamente menores – apenas US$ 21,3 bilhões em 2021, uma queda de 15% em relação ao ano anterior.
Diante desse cenário, o relatório destaca que a filantropia comunitária tem se mostrado uma alternativa eficaz para garantir que os recursos cheguem diretamente às comunidades que já desenvolvem soluções locais para lidar com os impactos climáticos. O Fundo Casa Socioambiental, por exemplo, destinou R$ 55,2 milhões (US$ 10,8 milhões) para 434 projetos em 2023, sendo 60% dos recursos voltados para povos indígenas, quilombolas, pescadores artesanais e comunidades extrativistas.
Entre as iniciativas apoiadas, destacam-se projetos de brigadas comunitárias para o combate a incêndios florestais, segurança hídrica, agroecologia e soluções baseadas na natureza. Além disso, o Fundo Casa lançou, em parceria com a Caixa Econômica Federal, o maior edital de sua história, destinando R$ 53 milhões (US$ 10,6 milhões) para projetos de sociobiodiversidade e resiliência climática.
“O atual modelo de financiamento climático global é burocrático e centralizado, o que impede que os recursos cheguem a quem mais precisa. O Fundo Casa e outros fundos comunitários do Sul Global provam que descentralizar e simplificar o acesso ao financiamento é fundamental para fortalecer a resiliência das populações vulneráveis”, afirma Cristina Orpheu, diretora executiva do fundo.
O relatório ainda aponta que 62% do financiamento global para adaptação é oferecido em forma de empréstimos, não doações, aprofundando a crise econômica em países já endividados. “Os países que menos contribuíram para a crise climática são os que mais sofrem e, ironicamente, ainda precisam arcar com os custos da adaptação”, complementa Cristina.
Recomendações para o Financiamento Climático
O estudo sugere uma série de recomendações para tornar o financiamento
climático mais democrático e eficiente:
✔ Aumentar os recursos para adaptação no Sul Global, equilibrando os
investimentos entre mitigação e adaptação.
✔ Simplificar os processos de acesso a fundos, reduzindo a burocracia para
organizações locais.
✔ Ampliar a participação das comunidades na definição de estratégias e alocação
de recursos.
✔ Valorizar o conhecimento tradicional de povos indígenas e comunidades locais
na criação de soluções climáticas.
✔ Criar mecanismos de resposta rápida para desastres ambientais, garantindo
suporte imediato às comunidades afetadas.
Sobre o Fundo Casa Socioambiental
Desde 2005, o Fundo Casa Socioambiental já apoiou mais de 4.000 projetos em 10 países da América do Sul, com foco em justiça climática, proteção ambiental e fortalecimento de comunidades tradicionais. Sua atuação visa descentralizar o financiamento climático e garantir que os recursos cheguem diretamente às populações mais vulneráveis, promovendo soluções locais e eficazes para os desafios impostos pelas mudanças do clima.