Por Alexandre Mansur*
Qual é a primeira coisa que vem à sua cabeça quando você lê ou escuta Amazônia? Abundância em recursos naturais, como árvores, plantas, animais e rios? Diversidade e ancestralidade dos povos originários? Desenvolvimento sustentável e comida no prato dos brasileiros? Essas poderiam ser as primeiras respostas para uma pergunta bem simples. Poderiam, se a maior floresta tropical do mundo não estivesse sob ameaça. Lamentavelmente, o que está na ponta da língua de muita gente, quando questionada sobre o que pensa em relação à Amazônia, são preocupações relacionadas ao desmatamento, garimpo ilegal, destruição e um futuro cheio de incertezas.
Nas últimas semanas, uma série de projeções em prédios de Brasília, Belo Horizonte, Rio de Janeiro e São Paulo, foi realizada em parceria com o projeto Projetemos, com frases para provocar reflexões sobre a importância da preservação da floresta amazônica para a produção de alimentos, para a geração de empregos e para o desenvolvimento do país. Na capital paulista, a ação foi realizada na Praça Roosevelt, na região central da cidade, e perguntou para as pessoas que circulavam por ali o que a Amazônia representa para elas. As respostas nos mostram que a onda de destruição que assola a região chegou ao centro do país e que, se há dez anos esse era um papo de “ambientalista chato”, hoje é um dos assuntos mais importantes e urgentes do nosso tempo.
“Eu me lembro bem de agosto de 2019, quando, às três horas da tarde, do nada, o céu de São Paulo escureceu. Aquilo me marcou profundamente. Na hora ninguém entendeu nada, mas depois soubemos que foi uma das consequência das queimadas na Amazônia”, contou o artista visual Harley de Assis Salgado Pereira, 42, à campanha. “Para quem é da Amazônia, como eu sou, é nítida a diferença em relação a dez anos atrás. O que vemos hoje nos entristece profundamente. A diferença está nos rios, no ar e até nos animais que antes víamos mais e, hoje, não vemos tanto. As queimadas afetam muito a vida das pessoas, a fumaça do norte do Pará chega na capital e a cidade fica com uma massa de ar carregada. É muito doloroso. É a ação do homem que está causando tanta destruição”, relatou o estudante de teatro Rick Brandão, 24, que é natural de Belém (PA).
O que mais preocupa a tatuadora Camylla Andrade, 21, ao refletir sobre a Amazônia é a extinção de tantas espécies de animais em decorrência do desmatamento desenfreado. “Isso quebra o equilíbrio natural e vai nos afetar no futuro”, disse. A técnica em Tecnologia da Informação Sheila Melo, 23, reforçou que a destruição do bioma é um grande risco porque pode alterar todo o ecossistema do planeta. “O desmatamento agrava o aquecimento global e a extinção de espécies gera um desequilíbrio mundial. Essa destruição não é necessária. O Brasil é enorme. Somos um grande país agroexportador e temos terra suficiente para plantar sem precisar desmatar”.
Thiago Costa, 34, sabe que o futuro do mundo todo está em jogo. “A destruição da Amazônia coloca em risco a produção de chuvas e a água que as árvores colocam na atmosfera geram os rios voadores. Eu sei que é desafiador explicar essa importância para quem vive em cidades longe da floresta, como aqui em São Paulo, mas é fundamental, porque está tudo ligado. A Nova Zelândia, por exemplo, pensa ao contrário do Brasil. Primeiro, eles conservam a natureza e depois ganham dinheiro com ela. Todo o patrimônio natural deles é atração turística. Gera empregos e renda, movimenta a economia. Imagina qual seria o nosso potencial com a riqueza natural que temos”, enfatizou o rapaz, que trabalha com Tecnologia da Informação.
Esses depoimentos — e tantos outros que chegam por meio das redes sociais — revelam, mais uma vez, que a Amazônia chegou ao centro das discussões políticas nas eleições de 2022, principal objetivo da campanha Amazônia no Centro. Mas não por um motivo nobre, como sua indiscutível e inegociável preservação, mas pela destruição que já afeta a todos. Lançar os holofotes do mundo para a Amazônia é crucial para zerar o desmatamento e fazer com que milhares de oportunidades sejam vistas e aproveitadas, gerando riqueza sem destruição, em harmonia com a floresta. As oportunidades de investimento responsáveis e de baixo impacto ambiental são inúmeras e podem colocar o Brasil de volta em uma posição de destaque no cenário internacional.
Além de tudo isso que falamos aqui, “a Amazônia é ancestralidade, sabedoria e diversidade de povos”, como bem lembrou a atriz Samira Lochter, 39, durante passeio pela Praça Roosevelt. “A floresta nos dá essas riquezas. A destruição é do homem. Cuidar da Amazônia é cuidar dos povos antigos. Lembrar que sua avó fazia um chá curativo quando você ficava doente. O conhecimento dela foi herdado de povos da floresta. Essa é a conexão. Resgatar a Amazônia é resgatar isso. Esse conhecimento antigo como as árvores milenares que ainda resistem lá”.
A única forma de cessar a destruição que está em curso é o voto. É nisso que acredita milhões de brasileiros, como o analista de marketing Marcelo Maita, 39. “Temos que trocar o governo, que desaparelhou todos os órgãos de defesa da Amazônia, o que já era pouco. No passado, tivemos governos que se preocupavam com a Amazônia, mas mesmo assim não era suficiente e nos últimos quatro anos piorou. Acredito que o próximo governo terá que estar muito empenhado em reaparelhar os órgãos públicos. Será muito difícil, mas será um recomeço”.
Estamos a poucas horas do segundo turno das eleições mais importantes desde a redemocratização e temos a chance de recomeçar, de voltar a preservar as florestas, os rios, as plantas e os animais. Neste domingo, por meio do nosso voto, temos a chance de, enfim, fechar a porteira e impedir que a boiada continue passando. Por isso, neste domingo, é dia de votar pela Amazônia e pelo futuro do planeta. A essa altura, ninguém pode dizer que o recado não foi dado.
*Alexandre Mansur é diretor do Instituto O Mundo Que Queremos e coordenador da campanha Amazônia no Centro.