Redação Planeta Amazônia
Neste 17 de abril, a REPAM se une às vozes das comunidades do campo, dos povos indígenas, quilombolas e de todas as agricultoras e agricultores que, todos os dias, resistem às violências impostas por um modelo de desenvolvimento baseado na exploração, na monocultura e na concentração fundiária.
A data marca a memória dos mártires de Eldorado dos Carajás e ecoa como um grito coletivo por justiça, soberania alimentar, respeito à vida e proteção dos territórios tradicionais.
“As formas de resistência são inúmeras”, afirma Maria Petronila, integrante da coordenação da Comissão Pastoral da Terra (CPT) e membro da REPAM-Brasil. “Cada sujeito, cada comunidade, cada identidade busca suas formas de resistência a partir da cultura, do fortalecimento da identidade, do modo de vida, do modo de ser, de se relacionar com os seus e com a natureza.”
Por trás dessa resistência está a força da organização popular. Cooperativas, associações, redes, teias e movimentos sociais se articulam para defender direitos, enfrentar o avanço do agronegócio e construir alternativas viáveis e sustentáveis. Essa luta coletiva se expressa também na formação política, na incidência e na vigilância constante.
Mesmo em territórios demarcados, as ameaças persistem: projetos de lei como o marco temporal fragilizam direitos já conquistados, enquanto o desmatamento, as mudanças climáticas e a pulverização de agrotóxicos colocam em risco comunidades inteiras.
Ano após ano, a Comissão Pastoral da Terra registra novas vítimas da violência no campo. Pessoas que tombam por defender a terra, os bens naturais, o direito de plantar e colher. Vidas ceifadas pela ganância do latifúndio e pela omissão do Estado, que segue negando direitos básicos como educação, saúde, crédito e infraestrutura para os pequenos produtores e assentamentos da reforma agrária.
A agroecologia é uma das expressões mais potentes dessa resistência. Ela ressurge como prática ancestral, muitas vezes silenciada por violações históricas, mas que hoje é retomada pelas comunidades.
“O cuidado com o meio ambiente, com as sementes crioulas, com as nascentes e os bens naturais é essencial”, diz Maria Petronila. “Algumas comunidades estavam ameaçadas de perder suas sementes, mas hoje estão resgatando esse cuidado com a vida.”
Para isso, é fundamental o fortalecimento das organizações comunitárias. “Vai se consolidando um modelo de autonomia e alternativas sustentáveis de produção, enquanto se defendem os direitos e interesses dos povos. A vigilância sobre os territórios deve ser permanente. Não basta estarem demarcados – é preciso defendê-los todos os dias.”
As formas de resistência no campo são múltiplas. Nascem da força cultural de cada povo, do cuidado com a terra, das práticas milenares que agora emergem com ainda mais potência: a agroecologia, o resgate das sementes crioulas, o manejo sustentável da água e os modelos comunitários de produção e vida. Práticas que valorizam a sociodiversidade, o bem viver e a relação harmônica com a natureza.
Essa resistência também se constrói com formação e incidência política.
“As comunidades vêm buscando capacitação em práticas sustentáveis, formação de lideranças e organização em redes e teias, que unem diferentes identidades em defesa do território e dos direitos.”
Para Maria Petronila, os desafios enfrentados pelo campesinato brasileiro são históricos, estruturais e geopolíticos.
“Há uma negação constante de direitos conquistados com muita luta. O campo segue marcado pela violência física, cultural, espiritual e ambiental. O agronegócio, com seu modelo predatório, continua expulsando famílias com o uso criminoso de agrotóxicos – aplicados até por drones e aviões. É uma verdadeira arma química.”
A ausência de políticas públicas eficazes para comunidades tradicionais, povos indígenas, quilombolas e agricultores familiares contribui para o esvaziamento do campo. “É duro ver famílias abandonarem suas roças por falta de escola, saúde ou acesso a crédito para ampliar a produção.”
Além disso, as mudanças climáticas – agravadas pelo modelo de exploração intensiva da terra – trazem consequências severas: secas, enchentes, queimadas e desmatamento. “Esses impactos ambientais afetam diretamente a permanência das comunidades em seus territórios.”
Neste 17 de abril, é essencial manter viva a memória dos mártires de Eldorado dos Carajás.
“Jamais podemos esquecer. Devemos honrar, reconhecer e memorizar a luta e a vida dos que tombaram. Isso é essencial para que o campesinato não se iluda achando que está tudo bem. Não está. Outros mártires continuam tombando. Vidas seguem sendo ceifadas.”
Maria Petronila conclui com esperança e compromisso: “Como diz a música de Zé Vicente, ‘Haveremos de ver qualquer dia chegando a vitória, o povo nas ruas fazendo a história, crianças sorrindo em toda a nação’.
A memória dos mártires da terra jamais poderá ser esquecida por quem acredita e abraça essa luta. Terra para todos e todas – para os pobres da terra, que dão verdadeiros exemplos de como cuidar da vida.”