Segurança alimentar global depende da Amazônia, diz diretor do IPAM

Redação Planeta Amazônia

O diretor executivo do IPAM (Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia), André Guimarães, fez um apelo para que as florestas tropicais, localizadas no hemisfério sul do planeta, sejam levadas em conta nas mesas de debate na COP30 (30ª edição da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudança do Clima), a ser realizada em novembro, em Belém. Como representante da sociedade civil da convenção neste ano, Guimarães participou nessa quinta-feira (31/07) da Conferência Global de Clima e Saúde, que reuniu representantes do Ministério da Saúde, movimentos sociais e governos de outros países em Brasília.

Ao marcar presença na sessão “Processos participatórios na COP30” da conferência, o agrônomo alertou que as florestas precisam ser consideradas na “equação” dos debates climáticos, já que, sem elas, a segurança alimentar do país e do restante do planeta estaria em risco. “Temos que entender que 50% da comida do mundo é produzida no cinturão tropical do planeta. Eu estou falando do Brasil, da Indonésia, do Congo, da Tailândia. Nós conseguimos fazer isso porque temos floresta”, afirmou Guimarães.

Segundo ele, as florestais são uma peça “fundamental” para a agricultura, por disponibilizarem e distribuírem a água das chuvas e, consequentemente, para a saúde da população mundial por conta do fornecimento de alimentos. Guimarães deu como principal exemplo a Amazônia, responsável por irrigar a agricultura brasileira, já que mais de 90% do agronegócio no país não tem sistema de irrigação próprio. Como vem sendo defendido e demonstrado em estudos elaborados pelo IPAM, a liderança brasileira na produção de soja depende de padrões de chuva gerados pelas florestas.

“Se bagunçarmos o sistema da Amazônia, estaremos colocando o PIB [Produto Interno Bruto] brasileiro e a segurança alimentar do país e do planeta em risco. Não há como assegurar a segurança alimentar do planeta Terra e atingir as metas do Acordo de Paris sem a integridade da Amazônia”, declarou.

Guimarães citou ainda relatório da FAO (sigla em inglês para Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura) que diz que o Brasil será responsável por quase metade do crescimento do fornecimento de alimentos até 2050. De acordo com ele, é uma “responsabilidade enorme” para o país e, por esse motivo, é necessário prestar uma atenção especial nas florestas brasileiras.
 

foto: Anna Júlia Lopes/IPAM

“Se não cuidarmos das florestas, vamos, sim, ter perda de biodiversidade e alteração nos padrões de chuva, mas nós vamos ter também um problema de fome. O Brasil alimenta um bilhão de pessoas todos os dias e fornece 10% da comida do mundo. Se o Brasil não existisse hoje, a soja seria 30% mais cara”, explicou.

Ao lado de nomes como Alice Amorim Vogas, diretora de programa para a COP30, e Ethel Maciel, enviada especial da saúde na convenção, Guimarães também alertou para o risco da exploração de petróleo na Amazônia — na perspectiva da saúde mundial — e cobrou que o tema envolvendo os combustíveis fósseis seja debatido em Belém.

Segundo ele, o Ministério da Saúde brasileiro deveria participar das conversas envolvendo a perfuração de poços na região, porque o petróleo jogaria mais carbono na atmosfera, aquecendo o planeta e fazendo com que a floresta amazônica seque, tornando-se suscetível ao fogo. Por esse motivo, na avaliação de Guimarães, a exploração de petróleo poderia influenciar negativamente no papel da Amazônia de fornecer água, o que afetaria a agricultura nacional. “Essa equação de olhar para a floresta é fundamental na agenda climática. Temos que olhar para ela como um provedor de serviços de alimentos, abrigo, água e também como uma salvaguarda para a nossa saúde no planeta”, afirmou.
 

Ao finalizar sua fala, o diretor executivo celebrou os avanços feitos pela sociedade civil nas edições anteriores da COP, como o REDD+, estratégia proposta para promover incentivos aos países em desenvolvimento que tomarem ações para a mitigação das mudanças climáticas. O setor já foi citado em carta do presidente da convenção, o embaixador André Corrêa do Lago, por conta de sua importância nas discussões.

Como enviado especial da sociedade civil em Belém, Guimarães afirmou que a classe levará às mesas de negociação a questão dos combustíveis fósseis e suas implicações, além do debate envolvendo a segurança alimentar, as florestas tropicais e a saúde do planeta.

By emprezaz

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