Redação Planeta Amazônia
A Conferência do Clima das Nações Unidas (COP30), marcada para novembro em Belém, coloca a Amazônia no centro das discussões globais sobre mudanças climáticas. No entanto, pesquisadores do Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia (IPAM) alertam que o Cerrado não pode continuar à margem das políticas ambientais e climáticas.
Segundo o policy brief divulgado pelo IPAM, o Cerrado — responsável por 60% da produção agrícola brasileira e reconhecido como a savana mais biodiversa do mundo — segue sub-representado na legislação nacional. Dos mais de 30 mil projetos em tramitação na Câmara dos Deputados, apenas oito tratam da proteção específica do bioma.
Apesar de 45% das propriedades privadas ainda manterem vegetação nativa, cerca de 31 milhões de hectares permanecem legalmente passíveis de desmatamento, conforme o Código Florestal. O pesquisador Dhemerson Conciani destaca que a negligência histórica com vegetações savânicas ameaça a competitividade do agronegócio e aumenta os riscos de insegurança hídrica e alimentar.
Desde 1985, o Cerrado perdeu 40 milhões de hectares de vegetação nativa, segundo dados da Rede MapBiomas. As áreas rurais privadas concentraram 72% do desmatamento, com mais de 14 milhões de hectares de pastagens degradadas. O uso recorrente do fogo também preocupa: só em 2024, mais de 9,7 milhões de hectares foram atingidos por queimadas, e em 2025, já são 1,2 milhão de hectares afetados.
“A Amazônia e o Cerrado responderam por 83% do desmatamento em 2024. São ecossistemas interdependentes e precisam ser considerados em conjunto nas políticas de mitigação e adaptação”, reforça Conciani.
Pagamento por conservação
Como alternativa, o IPAM propõe políticas de pagamento por serviços ambientais (PSA), com foco na conservação de áreas nativas e combate ao desmatamento legal. O programa Conserv, criado pelo instituto, já protegeu mais de 27 mil hectares além da Reserva Legal, evitando a emissão de 2 milhões de toneladas de CO₂.
Mesmo após o fim dos pagamentos da primeira etapa, os produtores continuam preservando suas áreas, demonstrando o potencial de mecanismos financeiros sustentáveis para transformar a economia rural.