Da redação do Portal Amazônia
Quais empresas conseguem garantir que a carne que compram e vendem – e que chega até os consumidores – não está associada a desmatamento da Amazônia em nenhuma etapa de produção? Para responder a essa pergunta, o Radar Verde, um novo indicador que avalia a efetividade das políticas de controle da cadeia de produção de frigoríficos e supermercados, apresenta hoje os resultados de sua primeira edição. O Instituto do Homem e Meio Ambiente da Amazônia (Imazon), instituição de pesquisa referência internacional, e o Instituto O Mundo Que Queremos (OMQQ), organização com foco em projetos socioambientais, elaboraram a metodologia do indicador, o primeiro de acesso público sobre o tema no Brasil.
O levantamento foi realizando pela primeira vez em 2022 e será anual. Os resultados desta edição revelaram uma não participação de empresas e a recusa daquelas que responderam à pesquisa em ter seu desempenho divulgado publicamente. Entre os frigoríficos convidados, 94,5% não participaram do levantamento. Outros 5,5% responderam, mas não autorizaram a divulgação de seus resultados. O mesmo aconteceu no segmento varejista: 96% dos supermercados convidados não responderam. Os 4% que aceitaram participar não autorizaram a publicação de seus resultados. “A forma como cada frigorífico e cada supermercado responde à demanda por transparência e comprovação é uma informação que consumidores, investidores e grandes clientes corporativos precisam saber e que devem levar em consideração na hora de tomar decisões”, diz Alexandre Mansur, diretor de projetos do OMQQ.
A equipe do Radar Verde identificou 113 grupos frigoríficos ativos na região da Amazônia Legal, elegíveis para participar do indicador. Do total, 90 empresas tinham alguma forma de contato público (e-mail e/ou telefone), para onde foi enviado um convite para responder ao questionário. Das 90 empresas, cinco aceitaram participar do levantamento e preencheram o questionário. Elas receberam a avaliação de suas políticas de controle da cadeia de produção, elaborada pela equipe do Radar Verde, mas não autorizaram a divulgação pública de sua classificação final no indicador.
Para avaliar as políticas de controle da cadeia de produção dos supermercados, a equipe do Radar Verde listou os 50 maiores varejistas do país, segundo o ranking de 2021 da Associação Brasileira de Supermercados (Abras). Os 19 maiores supermercados da Amazônia Legal também foram convidados a participar. Do total de 69 varejistas contatados O Mundo Que Queremos pela equipe do Radar Verde, três aceitaram responder ao questionário. Assim como os frigoríficos participantes, elas também receberam da equipe do Radar Verde a avaliação de suas políticas de controle da cadeia de produção, mas não autorizaram a divulgação pública de sua classificação final no indicador.
Os critérios que compõem o Radar Verde são baseados em três pilares. O primeiro é a existência de uma política de compra responsável de gado ou carne. O segundo é a qualidade da política e seu potencial para contribuir para redução do desmatamento. O terceiro é a demonstração do nível de execução da política pela empresa. “Mesmo que as empresas não consigam ter um controle total de seus fornecedores, o Radar Verde avalia o grau de esforço e a distância que elas estão de garantir o objetivo final, que é uma carne 100% livre de desmatamento”, afirma Ritaumaria Pereira, diretora-executiva do Imazon. De acordo com as respostas das empresas a um questionário, cada frigorífico e supermercado é classificado em uma de cinco categorias:
- Verde: a pontuação indica que a eficácia da política é muito alta
- Verde-claro: a pontuação indica que a eficácia da política é alta
- Amarelo: a pontuação indica que a eficácia da política é intermediária
- Laranja: a pontuação indica que a eficácia da política é baixa
- Vermelho: a pontuação indica que a eficácia da política é baixa
O Brasil é o segundo maior produtor mundial e o maior exportador de carne bovina. O país produz cerca de 15% de toda a carne bovina consumida globalmente. Estudos sugerem que a atividade pode funcionar como um dos motores do desmatamento na Amazônia. Um levantamento do Mapbiomas mostra que as áreas de pastagem triplicaram na Amazônia nos últimos 30 anos. Hoje, ocupam 13% do bioma. Quase metade do rebanho brasileiro (43%) está concentrado sobre a área da maior floresta tropical do planeta. Entre 1990 e 2020, o rebanho bovino na região cresceu 256%, enquanto no restante do país apenas 3%.
Pela maneira como a cadeia de produção de carne está estruturada no Brasil, faltam informações públicas para garantir que a carne consumida no país e também exportada não está associada a desmatamento durante sua produção. O ciclo é longo e fragmentado. Os animais podem passar por diversas fazendas ao longo de sua criação, desde o nascimento até o período de abate. O Radar Verde analisa se os frigoríficos e os supermercados são capazes de garantir que a carne que compram e vendem não passou por uma fazenda que desmatou em nenhum dos elos dessa cadeia. Isso inclui os fornecedores diretos dos frigoríficos e supermercados (ou seja, de quem eles compram) e seus fornecedores indiretos (de quem os fornecedores de seus fornecedores compram).
No próximo ano, haverá uma nova edição do levantamento elaborado pelo Radar Verde. Todas as empresas serão convidadas de novo. A expectativa é aumentar a conscientização delas sobre a importância da transparência de suas políticas de controle da cadeia de produção como ferramenta para coibir o desmatamento na Amazônia. “O Radar Verde é uma oportunidade de as empresas demonstrarem a responsabilidade de suas operações”, diz Alexandre Mansur, do OMQQ. “Já se sabe que é possível aumentar a produção pecuária na Amazônia sem derrubar nenhuma árvore”, afirma Ritaumaria, do Imazon. “O consumidor merece saber quais são as empresas que garantem o desmatamento zero em sua cadeia de produção. O Radar Verde quer ser um atalho para essa informação.”
O relatório completo você pode conferir aqui!