Redação Planeta Amazônia
Um estudo fez uma análise e identificou a forma de comunicação usada entre as tartarugas da Amazônia. A pesquisa desenvolvida pelo Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa), em Manaus, captou em áudio os aspectos da fala das espécies que indicam que há uma troca de mensagens entre os animais em momentos específicos.
O estudo teve início em 2012, em um trabalho de doutorado desenvolvido pela pesquisadora do Inpa, Camila Ferrara. Ela explica que no começo da pesquisa, outros especialistas da área duvidaram da possibilidade da existência de trocas de sons entre as tartarugas.
“Muita gente falava que trabalhava com tartarugas há tantos anos e que nunca havia escutado um som. Eu falava que ia tentar, que não custava nada tentar. Se não desse certo, tinha um plano B para o meu doutorado. Vou arriscar. Foi quando eu decidi trabalhar com a tartaruga da Amazônia, que é considerada uma das espécies mais sociais do mundo”, contou a pesquisadora.
Ferrara destaca que as espécies migram em grupos, saem da água para desovar em grupo, o que resulta também do nascimento de filhotes também em grupo. Esses dados foram a base de escolha da pesquisadora, que conseguiu equipamentos de som para iniciar a análise.
Tartaruga da Amazônia durante desova, no Amazonas. — Foto: Camila Ferrara/Inpa
A pesquisa era um grande mistério, por não saber o que poderia constatar com os estudos iniciais, que duraram um ano. Foi quando conseguiu o resultado que esperava ao captar os sons emitidos pelas tartarugas da Amazônia, conta Ferrara.
“No primeiro ano, comecei a gravar e conseguimos identificar os sons. No ano seguinte, voltamos para analisar se os filhotes também faziam som. Mas veio a dúvida de quando começam a fazer sons e voltamos novamente para gravar os filhotes dentro dos ovos. No começo, foi estranho, até o primeiro momento que eu escutei um ‘pi’ e disse que aí tem coisa”, lembrou.
A pesquisa constatou que o barulho é emitido pelos filhotes ainda nos ovos, instantes antes de nascerem. Com essa descoberta, o estudo seguiu até que Ferrara identificasse em que momentos essa comunicação entre as tartarugas da Amazônia acontecem.
Assim, foi possível constatar o cuidado parental entre as fêmeas e os filhotes, conforme a pesquisadora. As fêmeas ficam nas áreas de reprodução esperando pelos filhotes, que migram juntos para a floresta alagada, em áreas de alimentação e proteção.
“Entendemos que elas utilizam o som durante toda a vida. Eu trabalhei principalmente no período reprodutivo, mais especificamente na época em que as tartarugas migram para desovar, até o nascimento dos filhotes e depois retornam. Mas a gente sabe que durante o cortejo, na migração, na comunicação entre elas, as tartarugas se coordenam para sair da água e desovarem. Os sons descobertos são bastante complexos e podem ser comparados com os das baleias, macacos e golfinhos, afirma Ferrara.
Foto: Camila Ferrara/Inpa
Os sons descobertos são bastante complexos, que segundo Ferrara, podem ser comparados com os das baleias, macacos, golfinhos.
A pesquisadora finaliza falando que a espécie fica ameaçada nos períodos de desova porque vem à superfície e é caçada na região, ficando vulnerável no período de desova e nascimento dos filhotes. Ela alertou aos órgãos de controle sobre a necessidade de cuidado com os animais, para que sejam sempre preservados.