A importância das práticas de ESG para o desenvolvimento econômico e social

(*) João Gabriel de Araujo Oliveira

Não é segredo que a pauta central da economia, hoje, é tratar de sustentabilidade e meio ambiente. Desde a Revolução Industrial com início em 1760, os sistemas produtivos em massa passaram a emitir grandes quantidades de GHG na atmosfera, prejudicando o meio-ambiente e afetando o equilíbrio climático do planeta. Com isso, ao longo dos últimos 260 anos, o prejuízo acumulado para o meio ambiente e seus efeitos com relação ao clima, passaram a preocupar a sociedade devido ao avanço do aquecimento global. Assim, medidas e práticas que envolvam a necessidade de um sistema produtivo e financeiro mais sustentável passaram a ser discutidas no âmbito acadêmico e profissional, implicando a responsabilidade a todos de preservação e reestruturação ambiental para a manutenção do planeta e evitar maiores crises climáticas. 

Com isso, uma das práticas desenvolvidas e entre as mais consolidadas no meio, foi o Environmental, Social and Governance (ESG) proposta pela primeira vez no relatório da Organização das Nações Unidas em 2004 chamado “Who Care Wins”. Essa prática proposta, busca nas três vertentes (Ambiental, Social e de Governança, tradução dos termos acima para o português), orientar as empresas para um sistema produtivo mais sustentável, onde o Ambiental se refere à conservação do meio ambiente, o Social à relação da empresa com a sociedade e a Governança têm como foco a gestão dos processos da empresas e a transparência para com a sociedade. O fato é que foi observado que a questão ambiental não pode ser tratada mais como uma particularidade individual, mas uma necessidade de reconstrução para a manutenção da vida na Terra.

Colocando a sustentabilidade e o ESG em prática, verificou-se que não apenas a melhora do meio ambiente é gerada pelas orientações propostas, mas oportunizaram para a sociedade uma reeducação com respeito a preservação e que o desenvolvimento econômico e social que foi (e continua sendo) impactado positivamente por essas práticas. Na visão empresarial, principalmente para os produtos e serviços gerados pelas cadeias globais de valores pôde-se observar que as unidades comercializadas passaram a ter um valor agregado advindo da inclusão da perspectiva sustentável, gerando agregação de valor ao produto ou serviço que se adequou(a) a medida, sendo financeiramente rentável para as empresas. 

Professor João Gabriel analisa a importância das práticas ESG para o alcance de um desenvolvimento econômico e social atrelado à sustentabilidade/foto: Divulgação Ibmec

A questão central é que a adequação das empresas para esse novo sistema, traz benefícios fiscais e de credibilidade, sendo positiva a visão da sociedade para as empresas que se enquadram. Além disso, outro benefício às empresas, foi (e continua sendo) que as instituições financeiras passaram a diferenciar as empresas que se dispuseram a enquadrar-se nas práticas do ESG das que optaram por não se enquadrar, especialmente diferenciando em termos de atendimento e taxas de juros. Assim, passou-se a não apenas a se tornar um atrativo pela questão do meio ambiente, mas para um novo movimento econômico-financeiro no entorno dos problemas ambientais e suas possíveis soluções. O ESG passa, então, a orientar boa parte das políticas empresariais, sociais e governamentais, podendo funcionar como um mecanismo de ajuste de boas práticas empresariais, além disso podendo ser usada como um “carimbo” positivo para a empresa que se adequa.

Com isso, dada a adequação das empresas às práticas propostas e aos incentivos fornecidos a elas, para que se adequam, às facilitações financeiras propostas e o movimento de reeducação, é possível dizer que surgiu um movimento que deixa de ser apenas pontual e individual (no sentido microeconômico), e passou para uma perspectiva macroeconômica que envolve crescimento e o desenvolvimento econômico sustentável (onde há uma preocupação com o meio ambiente e a responsabilidade social por parte dos setores empresariais). Diferente das perspectivas anteriores à década de 1970, onde o crescimento era o principal fator de análise para medir a qualidade de uma economia sólida ou não (em processo de desenvolvimento ou desenvolvida), a sustentabilidade passou a ser uma preocupação central e atrelado a ela (ou até anterior a ela), o desenvolvimento também necessita de uma atenção maior por parte das lideranças econômicas. 

Assim, apesar de uma prática utilizada nas empresas, as práticas de ESG passaram a auxiliar de dentro da empresa para o ambiente macroeconômico, implicando no desenvolvimento sustentável. O tema se tornou tão relevante que as principais instituições multilaterais como o Banco Mundial, FMI, OCDE e outras passaram a ter nos seus quadros pesquisadores aplicados a esta área e desenvolver Bases de Dados para fins de pesquisa em Universidades e Institutos dos mais variados, vale também ressaltar que os organismos governamentais e, em parte, os de terceiro setor também passaram a ter essa perspectiva em seu DNA.

Com isso, é possível concluir que as práticas propostas em 2004 que levaram o nome de ESG, têm sido de fundamental importância para que possam ser alcançados os objetivos de desenvolvimento sustentável. Além disso, as práticas adotadas auxiliam na performance individual das empresas, sendo positivo para elas se enquadrar nas orientações apresentadas, onde a visão externa dos consumidores de produtos e serviços importa e a adequação para essas medidas também torna atrativas as relações da empresa com os sistemas financeiros. A preocupação com o meio ambiente, hoje, é central e aqueles que não se adequarem às medidas sustentáveis poderão ser excluídos do mercado. Não é possível haver mais espaço para prejudicar o planeta. 

(*) Professor de economia do Ibmec Brasília

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