Cassandra Castro
É quase impossível falar de Amazônia sem usar superlativos. Imensa em extensão, são aproximadamente 421 milhões de hectares, reduto de uma biodiversidade gigantesca, tão grandiosa, amada e cobiçada por possuir riquezas que parecem não ter fim. A grandeza da Amazônia é, ao mesmo tempo, motivo de admiração e, nos últimos anos, também de preocupação.
Se no passado não tão distante assim, questões ligadas ao Meio Ambiente pareciam ser assunto para apenas alguns estudiosos e os impactos da degradação ambiental davam a impressão de que jamais trariam consequências mais sérias para o planeta, hoje são temas de Simpósios, Congressos, Cúpulas, reuniões que tentam frear as consequências cada vez mais sérias das mudanças climáticas.
Dados divulgados pelo Sistema DETER, do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE), apontam que o desmatamento acumulado nos quatro primeiros meses de 2023 na Amazônia, atingiu 1.132 km², uma área 38% menor em comparação ao mesmo período do ano anterior. Mas, esta diminuição ainda está longe de ser uma informação que traga tranquilidade ao mais importante bioma brasileiro.
A região amazônica e aqueles que nela vivem são os elos mais fracos de uma verdadeira “queda de braço” entre interesses econômicos que parecem não se importar com práticas nocivas ao meio ambiente e a conservação da vida da floresta e dos que nela habitam.
A solução para a crise climática começa pelas pessoas
Antonio Borges acredita que o caminho para frear e quem sabe, até retroceder o quadro preocupante da crise climática passa pelo aprendizado e busca de uma relação equilibrada do homem com a floresta. Ele é fundador e CEO da PlantVerd, uma empresa fornecedora de serviços florestais e que busca, por meio do reflorestamento, causar um impacto positivo no meio ambiente e em todo o seu entorno.
Na opinião do empresário, a floresta não pode ser vista como algo intocável e sim, como um fator de transformação das pessoas. O Brasil, mesmo com todos os desafios de possuir dimensões continentais que dificultam o combate a problemas como o desmatamento, grilagem de terras e garimpo ilegal, é um prestador de serviços ambientais para o mundo.
Na avaliação de Borges, o país deve receber contrapartidas por estes serviços, mas estes recursos devem ser bem definidos e usados em áreas estratégicas. “O dinheiro tem que vir com métricas reais para ser usado em áreas como a biotecnologia, segurança das fronteiras, no desenvolvimento de ferramentas para os produtores, na modernização da agricultura”, afirma Antonio.
Ele acredita que é vital uma reforma estrutural para resolver problemas sociais como a fome, a pobreza, a falta de acesso à educação. “Não basta olhar apenas para a crise climática e se esquecer das pessoas”.
Conhecimento tradicional como exemplo e aliado
Marcos Woortmann, cientista político e coordenador de políticas socioambientais do Instituto Democracia e Sustentabilidade (IDS) acredita que o caminho para encontrar soluções e evitar que cheguemos a um quadro irreversível para a crise ambiental é dar voz às comunidades tradicionais e povos indígenas. “ Não é possível ter uma efetividade neste desafio tão grande sem a participação efetiva das comunidades tradicionais e povos indígenas. Eles têm uma gestão ambiental comprovadamente melhor do que a do Estado que se traduz num menor número de invasões e proteção do meio ambiente melhor feita por essas comunidades do que pelos agentes de um Estado que não está estruturado à altura desse desafio”, afirma Woortmann.
Na avaliação do especialista, uma questão fundamental para dar mais força e segurança a essas populações é a garantia da titulação de terras que já estão em processo de reconhecimento. “Sejam elas reservas extrativistas, territórios quilombolas, reservas indígenas. Já existem oito reservas indígenas prontas para homologação e por alguma razão, isso ainda não foi anunciado, caso isso não aconteça, o governo deve ser cobrado por isso”.
Outro problema levantado por Marcos Woortmann é a ainda pouca importância dada pelo Brasil aos povos tradicionais, se comparada com o que se vê no exterior. Para ele, isso acontece devido a um viés presente tanto na esquerda, quanto na direita, de assimilação e colonialismo interno presentes no nosso país.
É recorrente em encontros cuja temática passa pelo Meio Ambiente que as populações tradicionais tenham poucas oportunidades para falarem e se posicionarem a respeito. Na opinião de Woortmann é preciso um maior engajamento político do governo, não só retórica.
Caminhos para a solução e alternativas
A ciência afirma que ainda dá tempo de minimizar o estrago causado pela degradação ambiental na Amazônia, mas isso passa por uma série de medidas para a reestruturação do Estado na Região Amazônica, aponta o cientista político. “ Precisamos estruturar o judiciário para que as multas ambientais sejam efetivamente cobradas, que processos tenham continuidade e resultem em condenações e que haja fiscalização em tempo real com efetivo condizente e tecnologia que impeça que o desmatamento ocorra. Temos que falar em evitar o dano e depois gerar alternativas para que o dano não ocorra”.
Marcos Woortmann dá exemplos de alternativas concretas para quebrar o ciclo vicioso que destrói a floresta como o incentivo à produção de alimentos, o ecoturismo e o turismo de base étnica. Ele afirma que é necessário ir ao cerne da questão que é econômico. “Nós queremos a mata em pé, mas para ela existir tem que existir emprego e renda para a população daquele território”.
Para ele, o governo começou a dar os primeiros passos, mas são necessárias ações mais concretas, mais amplas, com maior financiamento e sobretudo, engajamento político e estruturação do Estado na região amazônica.