A transição do uso dos combustíveis fósseis para fontes de energia mais limpas passa por comprometimento e ações coletivas

Cassandra Castro

A Conferência da ONU sobre o clima realizada este ano em Dubai, nos Emirados Árabes Unidos, foi cercada de expectativa e entrou para a história por ter aprovado no seu texto final a inclusão da transição dos combustíveis fósseis, um assunto que sempre foi o “calcanhar de Aquiles” nas metas mundiais de diminuição de emissões de gases de efeito estufa na atmosfera.

Para os que atuam em diversas frentes com o objetivo de agregar forças para diminuir e mitigar os efeitos devastadores que estão cada vez mais acentuados no mundo, é importante o comprometimento de todos os atores sociais e ações que, de fato, tragam soluções.

Na avaliação de Kamila Camilo, ativista e empreendedora social e que esteve como palestrante na COP28, o evento foi um dos mais desafiadores dos últimos tempos.

Essa foi a COP com maior compromisso monetário, estamos falando de USD 700 Bi na mesa. A pergunta que fica é: como esse recurso vai chegar de verdade nas mãos de quem precisa? Essa e outras respostas nós precisamos ser incansáveis em monitorar e cobrar, não podemos achar que tudo se resolve em duas semanas de conferência”.

Para Kamila Camilo, ativista e empreendedora social, COP 28 foi um dos eventos mais desafiadores dos últimos tempos/foto: Divulgação

Para Kamila, a inclusão dos combustíveis fósseis nas mesas de negociação e no texto final é um avanço, embora ainda pequeno. “Estamos falando de em quase 30 anos essa ser a primeira vez em que a descontinuação da produção e do consumo de combustíveis fósseis entra no acordo. O texto é suficiente? Não. Mas é um grande começo, e a gente por pouco não chegou nem a isso. Agora, enquanto sociedade civil cabe a nós cobrar nossas lideranças para que tomem medidas ambiciosas e invistam, de fato, numa transição energética justa e equitativa”.

Outro ponto que a empreendedora destaca é que o evento provou a importância da diplomacia para costurar soluções que não deixem de lado as vidas que estão em jogo no meio do turbilhão causado pelas mudanças climáticas e suas implicações.


Práticas sustentáveis na iniciativa privada

A caminhada para encontrar soluções que causem menos impacto ao meio ambiente passa também por iniciativas do setor privado. Um exemplo é o que a Jungheinrich Brasil, uma das líderes globais em intralogística tem feito para exercer suas atividades de uma forma mais sustentável.

A empresa oferta ano mercado empilhadeiras elétricas. Os equipamentos não emitem ruídos, calor, fumaça ou vibrações. Para se ter uma ideia, uma empilhadeira à combustão (para cargas de 2,5 toneladas) movida a GLP, emite cerca de 16 toneladas de CO2 na atmosfera por ano. Esta mudança de paradigma energético faz sim diferença ao meio ambiente. Mas, a conscientização para a importância de atitudes como essa é um processo gradual.

O gerente corporativo comercial da empresa, Raphael Souza, acredita que a implantação de práticas sustentáveis por parte das empresas passa por mudanças de mentalidade. A exemplo do que acontece com as pessoas que geralmente não gostam de mudanças que vão tirá-las de uma situação confortável e que também têm uma visão mais imediatista, sem preocupação com as consequências futuras das suas ações.

Raphael Souza acredita que as iniciativas em busca de ações sustentáveis passam, primeiramente, pela mudança de mentalidade de pessoas e empresas/foto: Divulgação

Basicamente, acontece a mesma coisa com as empresas que são geridas por pessoas. O impacto ambiental ele acontece, em geral, a médio e longo prazo e nós não conseguimos, muitas vezes, entender o mal que estamos fazendo nesse momento”, argumenta Raphael. “A mesma lógica vale para a questão da mitigação dos impactos ambientais, quando uma empresa começa a realmente pensar nisso, exige esforço para mudar o status quo e empenho da liderança, além de uma mudança de cultura e mentalidade”.

A mudança de mentalidade na Jungheinrich passou pela reflexão em torno do ambiente já vivido dentro da empresa e numa construção conjunta de um propósito mais ampliado que inclui o cuidado das pessoas e do mundo onde elas vivem.

Foi pensando neste propósito que a empresa decidiu criar a campanha “ O meio ambiente ganha em dobro”, explica Raphael Souza. “Para cada máquina à combustão substituída por uma elétrica plantamos, junto com Associação Copaíba, 30 árvores e ainda — por isso o meio ambiente em dobro — 1160 árvores deixam de precisar neutralizar o CO2 que seria emitido por essa máquina se ela estivesse em operação. Esse foi o primeiro passo realizado para deixar alguma coisa para as gerações futuras, mas que pudesse realmente já mostrar impacto imediato.

O Brasil precisa alinhar interesses econômicos à agenda ambiental

Um segmento que tem demonstrado crescimento constante e é um mercado promissor é o de veículos eletrificados (elétricos e híbridos). A transformação significativa do setor automotivo já é uma realidade em países como a China e os Estados Unidos e tem potencial para também se consolidar no Brasil, na análise de Rafael Levy, CTO e um dos fundadores da 100 Open Startups, plataforma de conexão entre grandes empresas e startups.

“No Brasil, embora os números ainda sejam mais modestos, com cerca de 10 mil emplacamentos mensais de carros eletrificados, dos quais apenas 31% são 100% elétricos, a expectativa é de um aumento anual de cerca de 80% em 2023. As projeções da Anfavea apontam para um crescimento de 61% em 2024, o que, a meu ver, ainda é uma estimativa conservadora. Fatores como a redução de 14% no preço das baterias neste último ano e o lançamento de veículos a preços mais acessíveis estão impulsionando este crescimento”.

Rafael Levy aponta políticas governamentais como fatores que freiam os avanços energéticos no Brasil/foto: Divulgação

Mesmo sendo um país com cerca de 90% da energia elétrica sendo gerada por fontes renováveis, o Brasil ainda apresenta algumas contradições que podem frear a consolidação dos carros elétricos no mercado.

Rafael Levy aponta políticas governamentais como fatores que freiam os avanços energéticos no país. “Em janeiro de 2023, por exemplo, foi introduzida uma nova taxação sobre a energia solar, impactando o ritmo de crescimento do setor. Apesar de ainda observarmos uma expansão significativa, a taxa anual de crescimento reduziu de 75% para aproximadamente 60%. Adicionalmente, o governo federal anunciou a implementação de impostos sobre veículos elétricos a partir de janeiro de 2024. A Anfavea, uma das principais promotoras dessa taxação, já projetou que o crescimento nas vendas de veículos elétricos para 2024 será em torno de 60%, uma queda em relação aos mais de 80% observados em 2023”, afirma o empresário.

Na avaliação de Levy, os obstáculos regulatórios recentes representam um desafio para os avanços energéticos e ambientais. “É imperativo que o governo brasileiro busque alinhar em suas políticas os interesses econômicos com as metas de sustentabilidade e responsabilidade ambiental. A transição para fontes de energia mais limpas não é somente uma obrigação ecológica, mas uma valiosa oportunidade econômica a longo prazo. Para assegurar um futuro mais verde e sustentável, é fundamental que o governo, juntamente com o setor privado e a sociedade civil, trabalhe coletivamente para superar esses desafios e promova o avanço contínuo na jornada da sustentabilidade energética”, finalizou.


By emprezaz

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Postagens relacionadas