Redação Planeta Amazônia
Um total de 150 mil hectares de florestas secundárias — vegetação que se regenera após o desmatamento — foram queimados na Amazônia brasileira em 2023. De acordo com um estudo publicado na revista científica Environmental Research Letters, 88% dessas queimadas ocorreram nos primeiros 20 anos de regeneração, justamente o período em que essas florestas removem mais carbono da atmosfera.
O levantamento, conduzido por pesquisadores do Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia (IPAM), destaca que mais da metade da área devastada, cerca de 82 mil hectares, estava na fase inicial de recuperação, entre 1 e 6 anos.
Segundo os cientistas, florestas secundárias podem absorver até 11 vezes mais carbono do que as florestas primárias — aquelas intactas, sem histórico de desmatamento — nos seus primeiros 20 anos. No entanto, a vegetação regenerada ainda carece de proteção legal em nível federal, incluindo no Código Florestal, o que a torna vulnerável ao fogo e a outros distúrbios.
“Mesmo prestando um papel essencial na mitigação das mudanças climáticas, as florestas secundárias seguem desprotegidas. O desmatamento de florestas primárias para substituição por secundárias não deve ser uma opção, pois representa a liberação de grandes volumes de carbono que levariam anos para ser reabsorvidos”, alerta o pesquisador Celso H. L. Silva Junior, um dos autores do estudo.
A pesquisa também reforça a importância da conservação dessas áreas para o cumprimento da meta brasileira de restaurar 12 milhões de hectares de florestas, conforme estabelecido na Contribuição Nacionalmente Determinada (NDC) do país.
Para mapear as áreas queimadas, os pesquisadores cruzaram dados do módulo de uso da terra do MapBiomas com o banco de informações sobre focos de incêndio do mesmo projeto.
Políticas públicas e necessidade de proteção legal
O estudo aponta avanços locais no Pará, como a atualização da chamada “Lei da Juquira”, que passou a exigir a preservação de florestas entre 5 e 20 anos de idade, desde que alcancem uma densidade mínima. Antes disso, a legislação não estipulava critérios claros, dificultando sua aplicação.
Os autores defendem que a replicação de políticas semelhantes em nível nacional poderia garantir o desenvolvimento saudável de um terço das florestas secundárias da Amazônia, livre de queimadas e desmatamento.