Redação Planeta Amazônia
Em 2023, a área de influência da BR-319 registrou queda acentuada de desmatamento e redução no número de focos de calor. Os dados são expressivos e mostram o efeito da retomada de fiscalizações e medidas de combate a crimes ambientais. Mesmo assim, em um cenário de baixa governança, a rodovia ainda é um vetor de pressões e ameaças no Amazonas, que coloca em risco a sociobiodiversidade e os serviços ambientais no Interflúvio Madeira-Purus.
A Amazônia Legal, Amazonas, Rondônia e os municípios da área de influência da BR-319, que são áreas monitoradas pelo OBR-319, tiveram os menores registros dos últimos seis anos (2017 – 2023). A Amazônia Legal registrou redução de 62% no desmatamento em relação a 2022, caindo de 1.057.311 hectares (ha) para 403.138ha. A tendência foi acompanhada pelo Amazonas, que teve redução de 66%, saindo de 257.541ha, em 2022, para 87.751ha, em 2023. O mesmo aconteceu em Rondônia, com redução de 73% em relação a 2022, quando teve 119.954ha desmatados, já em 2023 esse número caiu para 32.093ha. Nos municípios da BR-319, a queda foi de 71%, saindo de 168.999ha em 2022 para 49.156ha em 2023.
No entanto, os municípios ao sul da rodovia continuam liderando o desmatamento na região: 89% do total detectado entre os 13 municípios da área de influência da BR-319 está concentrado em seis municípios ao sul da rodovia – Porto Velho, Lábrea, Canutama, Manicoré, Humaitá e Tapauá – que, juntos, registraram 43.786ha dos 49.156ha registrados na região. Como reflexo da situação, quatro deles também figuraram na lista mensal dos dez mais desmatados da Amazônia Legal ao longo de 2023: Lábrea esteve na lista em 4º lugar em março e abril, em 9º lugar em maio, em 8º lugar em junho, em 5º lugar em julho e em 8º lugar em agosto; Porto Velho apareceu em 2º lugar em abril, em 4º lugar em maio, em 2º lugar de junho a agosto, e em 6º lugar em novembro; Canutama esteve na lista em 10º lugar em fevereiro, 3º lugar em abril, 9º lugar em junho e em 5º lugar em novembro; e Manicoré figurou entre os mais desmatados em 7º lugar em abril, 8º em maio e em 4º lugar em junho.
O desmatamento também diminuiu nas Áreas Protegidas. Em relação às Unidades de Conservação (UCs), essa redução foi de 75% em comparação com 2022, indo de 8.255ha para 2.100ha, sendo 1.833ha em UCs estaduais; 238ha em UCs federais; e 29ha em UCs municipais. No total 23, das 42 UCs monitoradas pelo OBR-319 registraram desmatamento, o que representa uma incidência de 55%.
A Reserva Extrativista (Resex) Jaci-Paraná, em Rondônia, segue sendo uma das mais desmatadas da Amazônia Legal. Mesmo com redução de 64% no desmatamento em 2023, de 4.254ha, em 2022, para 1.521ha, ela ainda liderou a lista das UCs mais desmatadas na área de influência da BR-319. Além disso, ela esteve na lista das UCs mais desmatadas da Amazônia Legal em 2023 nos meses de março (3º lugar), abril (4º lugar), maio (2º lugar), junho (2º lugar), julho (5º lugar) e agosto (7º lugar).
A Floresta Estadual (FES) Tapauá foi a UC que apresentou maior redução entre as 10 que mais desmataram no ano: em 2022, teve 1.830ha desmatados, já em 2023 foram 62ha, uma diminuição de 97%. O Parque Nacional (Parna) Mapinguari também teve redução expressiva, saindo de 1.176ha desmatados em 2022 para 60ha em 2023, o que representa um recuo de 95%. Mesmo assim, a UC figurou na lista das mais desmatadas da Amazônia Legal em fevereiro (9º lugar).
Entre as Terras Indígenas (TIs) a redução de desmatamento também foi animadora, pois houve uma redução de 56%, com 1.634 ha registrados, sendo que em 2022, foram 3.678ha. No total, 35 das 69 TIs monitoradas pelo OBR-319 tiveram registro de desmatamento, o que representa uma incidência de 51%.
A TI Tenharim Marmelos – Gleba B foi a mais desmatada, com perda de 376ha, 12% menos em comparação a 2022, quando registrou 429ha. Ela também foi a que foi a que apareceu mais vezes na lista mensal das mais desmatadas na Amazônia Legal, em fevereiro (1º lugar), março (2º lugar), abril (1º lugar), maio (6º lugar), junho (10º lugar), julho (7º lugar) e novembro (3º lugar). Já a A TI Coatá-Laranjal foi a que teve o maior aumento proporcional, saindo de 5ha em 2022, para 81% em 2023, o que representa um aumento de 1.687%. A TI que registrou maior redução de desmatamento foi a Karipuna, saindo de 1.733ha em 2022 para 189ha em 2023, o que representa uma diminuição de 89%.
Focos de calor
De maneira geral, o número de focos de queimadas caiu nas regiões monitoradas pelo Observatório BR-319. A Amazônia Legal teve redução de 12% de focos de calor em comparação a 2022; assim como o estado do Amazonas, com menos 8%, e Rondônia, com impressionantes 40% de diminuição. Seis, dos 13 municípios da BR-319 apresentaram redução no número de focos de calor, os demais tiveram aumento, mas, proporcionalmente, houve redução de 26% nas queimadas na área total dos municípios. No entanto, mesmo com a redução, os municípios ao sul da rodovia lideraram os focos de calor na região.
Porto Velho liderou o número de focos de calor entre os municípios da BR-319 com 2.503 focos; e também foi o que apareceu mais vezes na lista mensal dos que mais queimaram na Amazônia Legal ao longo de 2023, em julho (7º lugar), agosto (4º lugar), setembro (3º lugar) e outubro (9º lugar). Lábrea foi o segundo município com maior registro de focos, com o total de 2.420 em 2023, aparecendo na lista em agosto (3º lugar), setembro (4º lugar) e outubro (2º lugar). No entanto, tanto em Porto Velho quanto em Lábrea, a quantidade de focos de calor foi 44% menor que em 2022.
Manicoré também teve redução e registrou 25% menos focos de incêndio em 2023 em comparação ao ano anterior, mesmo assim, foi o terceiro com maior registro, com 1.184 focos, e apareceu entre os municípios que mais queimaram na Amazônia Legal em agosto (9º lugar).
Por outro lado, sete municípios tiveram aumento no número de focos de calor, entre os quais se destacam: Manaquiri, com aumento de 155%; Careiro, com 132%; e Autazes, com 80%.
Outubro foi o mês com mais recordes mensais entre os municípios da BR-319, quando sete municípios superaram a série histórica de 2010 a 2023: Autazes, Beruri, Borba, Canutama, Careiro, Humaitá e Lábrea. Autazes e Canutama bateram mais recordes mensais ao longo do ano totalizando quatro meses cada um.
Setembro foi o pior mês de queimadas para todas as áreas monitoradas pelo OBR-319: a Amazônia Legal registrou 33.247 focos de calor; o Amazonas, 6.990; Rondônia, 2.650; e os municípios da BR-319 somaram, juntos, 3.936.
Em 2023, 31 das 42 UCs monitoradas pelo OBR-319 tiveram registros de focos de calor, o que representa uma incidência de 74%. Em comparação com 2022, houve redução de 43% no registro de focos de calor dentro destas UCs, diminuindo de 1.583 para 898 focos em 2023. No total, 329 focos de calor foram registrados em 16 UCs federais; 567 em 14 UCs estaduais; e dois em uma UC municipal.
A Reserva de Desenvolvimento Sustentável (RDS) do Rio Madeira teve o maior aumento proporcional de focos de calor entre as UCs monitoradas, com 263%, subindo de oito focos em 2022 para 29 em 2023. A Floresta Estadual de Rendimento Sustentado (Fers) do Rio Madeira “B” vem em seguida com aumento de 123%, pois em 2022 a UC registrou 13 focos, já em 2023 foram 29. A Floresta Nacional (Flona) de Balata-Tufari também registrou aumento proporcional expressivo de 48%, indo de 23 em 2022 para 34 em 2023.
Cinco UCs apareceram na lista mensal das que mais queimaram na Amazônia Legal ao longo de 2023, foram elas: Reserva Extrativista (Resex) Jaci-Paraná, em agosto (3º lugar), setembro (4º lugar) e outubro (4º lugar); Parque Nacional (Parna) dos Campos Amazônicos, em junho (4º lugar) e julho (6º lugar); Flona do Bom Futuro, junho (10º lugar) e julho (8º); Fers do Rio Madeira “B”, em julho (8º lugar); e RDS do Rio Madeira (9º lugar).
Entre as 69 TIs monitoradas, 41 apresentaram 509 focos de calor, uma incidência de 59%. A TI Cunhã-Sapucaia teve o maior aumento proporcional, com 240%, subindo de cinco focos em 2022 para 17 em 2023; em seguida vem a TI Coatá-Laranjal, com aumento de 168%, subindo de 19 para 51; e a TI Pirahã, teve aumento de 68%, saltando de 13 para 21 focos. A TI Tenharim Marmelos foi a única monitorada pelo OBR-319 que figurou na lista mensal das que mais queimaram na Amazônia Legal, em maio (6º lugar) e junho (8º lugar).