As Ambições do Brasil na Presidência do G20

(*) Eduardo Galvão

Neste ano, o Rio de Janeiro sediará mais de 20 reuniões oficiais do G20, recebendo delegações de países com a missão de traçar caminhos para uma transição energética sustentável. O Brasil, presidindo o G20 até novembro de 2024, encontra-se no epicentro dessa discussão global, determinado a usar sua rica biodiversidade e matriz energética limpa como alavancas para liderar uma nova era de sustentabilidade.

Em junho, o Fórum Econômico Mundial divulgou o Índice de Transição Energética (ETI), no qual o Brasil subiu para a 12ª posição, destacando-se como o primeiro entre os países emergentes e terceiro entre as nações do G20. Esse avanço é fruto das políticas progressivas que o país tem adotado, incluindo a recente aprovação do “Regime Especial de Incentivos para a Produção de Hidrogênio de Baixa Emissão de Carbono” (Rehidro). Este regime oferece isenção de impostos para empresas que se qualifiquem, promovendo tecnologias sustentáveis e reduzindo a pegada de carbono da indústria.

No entanto, o caminho para a transição energética tem seus desafios. O governo brasileiro enfrenta a difícil tarefa de alinhar seu discurso verde com as políticas de exploração de petróleo na Margem Equatorial. Enquanto incentiva a exploração, o governo também se posiciona como líder na agenda de sustentabilidade. Para equilibrar esse discurso, é essencial que o Brasil comunique que a transição energética é um processo onde diferentes fontes de energia podem coexistir, evitando repelir investimentos e promovendo um alinhamento internacional mais robusto.

A liderança do Brasil no G20 oferece uma oportunidade única para destravar o fluxo financeiro de fundos internacionais destinados a investimentos em mitigação e adaptação climática. O objetivo é usar o capital político do G20 para conectar esses fundos às prioridades e necessidades do país. Atualmente, esses fundos possuem cerca de 15 bilhões de dólares, com projeções de dobrar nos próximos cinco anos.

Com a presidência do G20 e a realização da COP30 em Belém, em 2025, o Brasil tem a chance de liderar a agenda internacional de transição para uma economia de baixo carbono. No “Kick-off G20 no Brasil”, especialistas destacaram a importância de descentralizar os investimentos e garantir que os recursos cheguem aos países mais pobres, que são os mais afetados pelos efeitos das mudanças climáticas.

O Brasil, com 47% de sua matriz energética proveniente de fontes renováveis, está em uma posição privilegiada para liderar essa transição. Por outro lado, países como Índia e China enfrentam desafios maiores devido aos altos custos de descarbonização de processos industriais e de uso de energia. A criação de um mercado global de créditos de carbono é vista como essencial para evitar assimetrias entre mercados locais. O Brasil vai produzir o hidrogênio verde mais barato do mundo em 2030, mas isso só será útil se houver um mercado global de carbono para integrar países como China e Índia nesse processo.

A criação de padrões internacionais que reconheçam o valor da biomassa e dos biocombustíveis é outra área onde o Brasil pode exercer liderança. Com 79% de sua geração de energia elétrica proveniente de fontes renováveis, o país está bem à frente de nações como os Estados Unidos, que possuem apenas 21%.

Para Eduardo Galvão, Brasil deve aproveitar o protagonismo que vivencia sendo anfitrião de eventos importantes para liderar a transição energética com justiça e inclusão/foto: Divulgação/Ibmec

Internamente, o Brasil precisa investir em infraestrutura para lidar com os impactos das mudanças climáticas e promover uma transição energética que não prejudique a atividade econômica.

O Brasil, como anfitrião do G20, tem a chance de liderar discussões sobre justiça climática e transição energética justa. Esse esforço não é apenas uma questão ambiental, mas também de justiça social e econômica, buscando uma transição que não deixe ninguém para trás. A cooperação internacional será fundamental nesse processo. Os desafios da transição energética e das mudanças climáticas exigem esforços coordenados entre países e setores, garantindo que os investimentos cheguem onde são mais necessários e que os benefícios sejam compartilhados por todos.

O Brasil está em um momento decisivo. A presidência do G20 e a realização da COP30 são oportunidades para o país mostrar suas credenciais ambientais e liderar pelo exemplo, promovendo uma transição energética justa, inclusiva e sustentável, que beneficie tanto o Brasil quanto o mundo.

A história da transição energética do Brasil é uma narrativa de desafios e oportunidades. Ao utilizar sua posição de liderança no G20 e na COP30, o Brasil tem a chance de se posicionar perante o mundo como autoridade e parceiro importante na transição energética, moldando políticas mais sustentáveis para o planeta. Este é um momento para mostrar inovação, comprometimento e liderança em uma das questões mais críticas do nosso tempo.

(*) Coordenador dos MBAs em ESG e em Políticas Públicas do Ibmec

By emprezaz

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