Por José Menezes Grecco (*)
Uma coisa não podemos negar (mesmo tendo pessoas que negam), o ser humano está acabando com o meio ambiente. Interesses obscuros, preferem lucros exorbitantes a salvar o planeta, mas queria lembrar que caixão não tem gaveta, então, não adianta ficar mais rico, porque no inferno o diabo não se compra com dinheiro. Temos exemplos pelo mundo todo do que vem acontecendo, principalmente no Brasil. No sul, enchentes que estão destruindo tudo, no centro-oeste, calor insuportável, e infelizmente, no norte, vemos incrédulos os nossos grandes rios secarem de tal forma que não acreditamos, e o que é pior, prejudica toda uma cadeia produtiva, de sustentação, e pior ainda, prejudica as pessoas que dependem deste recurso natural.
Mas mesmo com todos esses problemas, governos, empresários, interesseiros e outros agregados não estão preocupados e inventam soluções que não resolvem nada para a população, somente aos interesses escusos que lhes vêm à mente. Um exemplo disso? A Ferronorte, uma obra bilionária, que na última vez que vi, estava orçada em 29 bilhões de reais, e se encontra graças a Deus, ainda no papel por não ter recebido licença ambiental. Não sou contra o progresso, o desenvolvimento, mas esta obra vai ter um impacto terrível se for liberada. Desapropriações, destruição do meio ambiente, entre outros tantos problemas. E a quem interessa essa obra? Ao agronegócio, que infelizmente hoje é o que mais devasta áreas para plantio e pecuária. Sim, precisamos deles, pois são eles que trazem alimento para nossas mesas, mas se continuar assim, sem perceber o tanto que destroem, logo não teremos mais humanos para serem alimentados.
Então pergunto: por que uma obra que só vai beneficiar um segmento, se podemos fazer outra obra com um custo bem menor, com menos tempo de construção e que além do agro, também poderia atender outros setores que são cruciais? Por que não construir uma ferrovia ligando Manaus (AM) até, pelo menos, Humaitá (AM) ou mesmo Porto Velho (RO)? É possível, viável, e causaria um impacto pelo menos 30% menor na floresta amazônica. Como é possível isso? Só aproveitar o leito da atual BR-319, que já rasgou a selva amazônica e transformá-la em uma ferrovia. Claro que obras teriam que ser feitas, mas a pior parte que seria a destruição do meio ambiente, com mais derrubada de árvores praticamente não existiria, pois ela já foi rasgada quando construíram essa BR, que é uma vergonha, pois só tem atoleiro. E outra coisa: vilas já estão crescendo ao longo de seu trajeto, e como exemplo cito Careiro (AM), uma outra comunidade que não consegui identificar o nome, mas que já virou uma cidade no meio da floresta, além do que, quem olhar o traçado da BR-319 pelo Google Maps, vai poder verificar o tanto que já foi desmatado na beira da rodovia. Se vier o asfalto, essas invasões vão adentrar a floresta com certeza. Então, por que não aproveitar o traçado aberto e construir uma ferrovia?
Pode-se construir um terminal em Careiro da Várzea (AM), COM MODAL RODOVIÁRIO, FERROVIÁRIO E FLUVIAL. Hoje vemos a dificuldade de navegação no Rio Madeira, aumentando os custos da navegação por balsa até Porto Velho, onde escoa uma parte da produção do Polo Industrial de Manaus, além do que, a viagem tanto entre Manaus como a Porto Velho ou Belém, por rio demora pelo menos 5 dias. E como poderia funcionar? As fábricas do polo embarcariam sua produção em containers, que seriam levados por balsa até o Careiro, lá seriam embarcados em vagões próprios, ou vagões plataformas para carretas, além de vagões cargueiros normais. Mas podem estar se perguntando, mas e as pessoas? Porque não ter um trem de passageiros ligando o Careiro até Humaitá, e posteriormente Porto Velho? Até mesmo, um vagão cegonha poderia ser utilizado para embarcar os carros caso alguém queira ir de carro, vagão este que iria engatado no trem de passageiros. Isso é viável porque a Vale tem dois trens de passageiros no Brasil, um ligando São Luís (MA) até Marabá (PA), e outro ligando Belo Horizonte (MG) para Vitória (ES), e compartilhando a linha com os trens cargueiros de minério.
A distância oficial de Manaus até Humaitá pelo traçado da BR-319 é de aproximadamente 800 Km, que dariam para ser percorridos em um dia (no caso dos cargueiros) e pelo menos, 15 a 18 horas pelo trem de passageiros. Enfim, um projeto que escoaria toda produção do Polo, e traria tudo que Manaus e região precisam do sudeste, por ferrovia (insumos, matéria prima, combustível, alimentos), além do que, a produção de grãos do Mato Grosso e Rondônia poderia ser embarcada e carregada em navio no porto do Careiro da Várzea, e seria uma verdadeira ligação de desenvolvimento, com impacto baixo para a floresta. Ainda teríamos geração de emprego, não só por causa das obras de toda a estrutura, como mão de obra para operação nos terminais, fabricação de vagões e locomotivas entre tantas outras alternativas. Se a ferrovia chegar até Porto Velho (RO), ainda poderia ser um fôlego para interligar com a antiga Madeira-Mamoré.
Aí cabe a pergunta. É viável? Sim, é, desde que os políticos se preocupem em ter seus nomes na posteridade como os novos desbravadores do norte do nosso país, pensando na sustentabilidade e preservação do maior patrimônio do Brasil, a floresta amazônica, ou então, fiquem na sua insignificância, como os corruptos que se venderam por conchavos com minorias que acham que mandam aqui. Tudo é possível? Sim, é, desde que os governantes tenham boa vontade e parem de olhar para o próprio umbigo.
(*) Escritor, Articulista e Diretor Teatral