Redação Planeta Amazônia
O desafio de tornar realidade um bioplástico da Amazônia, aliando o conhecimento e compromisso ribeirinho com a sustentabilidade e o desenvolvimento de uma economia local de base florestal começa a ganhar corpo e escala a partir de janeiro de 2024. A primeira remessa de ouriço de castanha-do-Brasil, base vegetal do material, será processada no início do ano pela Associação dos Produtores Agroextrativista da Colônia do Sardinha (Aspacs), no município de Lábrea (a 852 quilômetros de Manaus).
De acordo com coordenador da cadeia de Produção dos Ouriços da Aspacs, Antônio Rogério Vieira Mendes Apurinã, os ouriços serão coletados nas comunidades extrativistas durante o período de safra que iniciou em dezembro e segue até o mês março.
Cinco comunidades de povos tradicionais estão envolvidas nesta primeira etapa, sendo três Terras Indígenas (TIs) e duas ribeirinhas, localizadas na Reserva Extrativista (Resex) do Médio Purus. Ao todo, 20 famílias participarão da produção da primeira demanda de matéria-prima processada, cuja estimativa é de 1,5 toneladas de pó de ouriço triturado.
“Esta quantidade é apenas um pouco do potencial que temos aqui. Ao longo do tempo, queremos ampliar para mais territórios dentro do município de Lábrea e alcançar o maior número de pessoas e famílias. Isso representa algo bem significativo para nós porque, além de trazer uma fonte de renda para muitos e dar maior visibilidade para essas famílias, é uma alternativa para a região e para manter a floresta viva na região”, afirma Antônio Rogério Apurinã.
Os desafios logísticos são os maiores: para conseguir chegar até as comunidades que estão a três dias de barco da sede do município, a Aspacs organiza um calendário específico de coleta. Os ouriços são destinados, inicialmente, a um galpão que funciona como o secador, construído dentro do terreno da associação, no ramal do Tauaruã, próximo à cidade de Lábrea. Depois de seis a dez dias perdendo a umidade, eles seguem para o galpão com as máquinas de processamento.
“A que faz a primeira quebra tem capacidade de operar 100 kg por hora e segunda, que transforma esses pedaços em pó, consegue fazer 50 kg de ouriço por hora”, explica o coordenador da Aspacs.
A construção da estrutura ficou pronta em outubro e faz parte do projeto “Bioplástico – Formação de cadeia produtiva para pré-processamento de resíduos orgânicos para o uso na produção de bioplástico”, iniciativa liderada pela fundação World-Transforming Technologies (WTT), organização latino-americana focada em inovações tecnológicas de impacto socioambiental, com suporte financeiro do Fundo JBS pela Amazônia (FJBSA) e do Programa Prioritário em Bioeconomia (PPBIO), política pública da Superintendência da Zona Franca de Manaus (Suframa), coordenada pelo Instituto de Conservação e Desenvolvimento Sustentável da Amazônia (Idesam).
O arranjo inovador entre comunidades amazônicas, empresas, ONGs e pesquisadores de universidades iniciou em 2022 com o trabalho de campo, pesquisa e articulação entre organizações. Em setembro de 2023, completou um ano com a testagem de protótipos já aprovados. A partir daí seguiu-se com a estruturação da coleta no território.
O objetivo é desenvolver e produzir, em escala de produção comercial, um tipo especial de plástico composto parcialmente por fibras do ouriço da castanha-do-Brasil. “O Idesam dedicou-se a mapear e desenvolver a cadeia produtiva adequada para a produção do bioplástico e encontrou, na castanha e seus subprodutos, maior segurança de produção, de sustentabilidade ambiental e de retorno para as comunidades. A Universidade do Estado do Amazonas (UEA), outro parceiro do projeto, esteve focada na pesquisa e desenvolvimento das formulações do bioplástico feito a partir do ouriço desta amêndoa tão brasileira, garantindo padrões técnicos exigidos pela indústria”, explicou o líder de Produção Sustentável do Idesam, Marcus Biazatti.
Estima-se a geração de R$ 4,8 milhões em renda para as comunidades envolvidas, dentro de um faturamento total de R$ 20 milhões nos três anos iniciais de comercialização, assim como uma redução significativa de mais de 300 toneladas de emissão de CO2 nesse período. A perspectiva é de que o novo plástico possa substituir até 18% da produção de polipropileno convencional, já no 3º ano de sua chegada ao mercado, de acordo com o estudo da WTT.