Redação Planeta Amazônia
O avião de pesquisa Halo, chegou na quinta-feira (1) no aeroporto internacional de Manaus, no Amazonas para realizar uma pesquisa sobre as mudanças climáticas. O jato especial que é equipado com vários instrumentos para estudo da alta atmosfera, começou neste domingo (4), a sobrevoar a Amazônia. Pela distância a que estará do chão, o Halo dificilmente será notado pelos amazônidas enquanto estiver nos céus da floresta. O aparelho na forma de cone vai medir a pressão e o fluxo de ar.
A aeronave do Centro Aeroespacial da Alemanha (DLR) vai passar 50 dias sobrevoando a Amazônia a até 15 km de altitude para estudar a interação da floresta com a alta atmosfera, que com a ajuda da torre mais alta já construída na América Latina vai poder coletar todos os dados necessários para concluir a pesquisa.
Um dos coordenadores do projeto e professor da Universidade de São Paulo, o físico Paulo Artaxo, explica que é a primeira vez que vão ser feitas medidas de gases de efeito estufa em alta atmosfera numa região tropical do planeta.
A iniciativa é um projeto de pesquisa de cerca de US $20 milhões, sendo em sua maioria bancado pela maior instituição de pesquisa alemã, a Sociedade Max Planck em parceria com a Fapesp (Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo). A pesquisa de sobrevoo na Amazônia tem o objetivo de coletar amostras de ar nessa altitude para entender a formação dos agregados de aerossóis que provocam a chuva na floresta e entender como ela interage com o Atlântico.
A pesquisa visa entender as mudanças climáticas na Amazônia, que em 2018 teve a emissão de gás carbônico (CO2) dobradas, segundo estudos. Mas um dos focos da pesquisa é entender como o ciclo de evaporação e chuva na floresta depende dos chamados “compostos orgânicos voláteis”: moléculas complexas de carbono que evaporam facilmente.
Com o sobrevoo, o grupo espera preencher uma lacuna de dados no entendimento da atmosfera sobre as florestas, que já é bem mapeada por satélites e dados coletados pelos aviões em altitudes menores. A altitude entre essas duas camadas ainda é uma área relativamente mal conhecida, que os instrumentos do Halo emitirão mostrar melhor. Com a COVID-19, os trabalhos tiveram que ser adiados, em vista que estava previsto para começar na primavera de 2020.
Com uma estrutura que envolve cerca de 80 cientistas instalados em uma base improvisada no aeroporto internacional de Manaus, coordenada pelo Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais), pela Universidade de São Paulo (USP) e pelo Inpa (Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia). No lado alemão a iniciativa é do Instituto Max Planck de Química.
A série de sobrevoos que o Halo fará agora em dezembro e janeiro integra o projeto CAFE-Brazil (Chemistry of the Atmosphere: Field Experiment in Brazil), enfocado no papel da floresta diante das mudanças climáticas. O projeto também envolve a Universidade Estadual do Amazonas, que participa do projeto com um barco científico.
— Esperamos obter novas informações sobre os processos químicos na atmosfera acima da floresta tropical e também sobre as interações entre a biosfera e a atmosfera, a fim de explicar melhor o papel fundamental da floresta tropical no sistema terrestre — diz Jos Lelieveld, do Max Planck, o líder científico da pesquisa.