Redação Planeta Amazônia
A bioeconomia da Amazônia Legal, formada por milhares de empreendimentos que manejam recursos da biodiversidade de forma sustentável, está sob pressão crescente diante de mudanças no cenário internacional. Um estudo do IPAM (Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia), em parceria com a ABDI (Agência Brasileira de Desenvolvimento Industrial), revela que mais da metade dos 11 mil empreendimentos mapeados na região — cerca de 5,4 mil — estão inseridos em cadeias produtivas vulneráveis a oscilações externas, como tarifas comerciais e restrições de mercado.
A recente imposição de tarifas por parte dos Estados Unidos, que afetou produtos como açaí, cacau, mel, óleos vegetais, pescados e temperos, expôs a fragilidade de um modelo de exportação baseado em produtos primários. Apenas a castanha-do-brasil e a borracha escaparam das novas taxas, enquanto os demais itens geraram cerca de US$ 165 milhões em exportações para os EUA, totalizando 39 mil toneladas.
Segundo os pesquisadores, essa dependência de mercados externos sem agregação de valor local torna os empreendimentos amazônicos suscetíveis a choques econômicos. “Exportar sem transformar significa abrir mão de competitividade e de autonomia”, afirma Rafaela da Costa, pesquisadora do IPAM.
A saída, segundo especialistas, está na bioindustrialização — processo que envolve transformar os recursos da biodiversidade em produtos com maior valor agregado, como cosméticos, alimentos processados e insumos farmacêuticos. Gabriela Savian, diretora de Políticas Públicas do IPAM, destaca que “a bioeconomia não é apenas ambiental, ela é também social, econômica e política. Fortalecê-la exige políticas públicas que promovam inovação, infraestrutura e inclusão produtiva”.
Além disso, os pesquisadores defendem que as cadeias da sociobiodiversidade sejam incorporadas às agendas comercial e industrial do Brasil, com incentivos à agregação de valor local e à diversificação de mercados. Essa abordagem pode transformar a bioeconomia amazônica em um pilar estratégico para o desenvolvimento sustentável e para a valorização dos territórios vulneráveis da região.