Redação Planeta Amazônia
Desde setembro de 2023, Basílio Guerreiro, biólogo do Parque Zoobotânico Mangal das Garças, em Belém, vem conduzindo uma pesquisa sobre a reprodução de marrecas, uma espécie de ave de nome científico Spatula querquedula. Basílio afirma que as marrecas estão bem adaptadas na região, e por isso, a equipe decidiu sistematizar a reprodução delas. Ou seja, analisar e categorizar diferentes aspectos de forma metódica, para se obter mais informações.
O Mangal possui três espécies de marrecas: a irerê (Dendrocygna viduata), que tem aproximadamente 44 cm de comprimento e é mais ativa à noite, a marreca-vabocla (Dendrocygna autumnalis) que mede aproximadamente 48 cm de comprimento e vive em bandos, porém na época reprodutiva permanece em casal até a criação dos filhotes, além da asa-de-seda (Amazonetta brasiliensis) que apresenta dimorfismo sexual (diferença entre machos e fêmeas). O macho possui o bico vermelho e uma maior quantidade de coloração verde nas asas, enquanto a fêmea possui o bico preto e manchas brancas na base do bico e acima dos olhos. São animais que não voam muito longe, permanecendo mais nas beiras dos rios.
As marrecas vivem na parte externa, soltas, ou no viveiro. Em setembro de 2023, cinco casais de cada espécie foram realocados para a Reserva José Márcio Ayres (o borboletário) com o objetivo de analisar e acompanhar o comportamento reprodutivo. Um mês depois foi constatado que já se tinha cópula e no mês seguinte, seis ninhos.
“Desses seis ninhos houve uma experimentação para ver qual era a mais viável, se a incubação natural, deixando incubar desde o primeiro dia até a eclosão, ou se a melhor alternativa seria colocar no nosso berçário, que tem chocadeira para fazer uma incubação artificial e controlar os parâmetros de temperatura e umidade”, afirma Basílio Guerreiro.
Os ovos receberam acompanhamento diário e, com base nos resultados, o Mangal realizou tanto a reprodução natural quanto a artificial. Os ovos incubados de maneira artificial tiveram uma taxa de eclosão bem maior que os que são incubados naturalmente. Quando um ninho que ainda não começou a incubação é identificado, ele é retirado do espaço e levado para a incubadora na chocadeira que faz a incubação artificial, onde a temperatura e a umidade são controladas, conseguindo índices mais altos.
As marrecas possuem uma regulagem na reprodução de acordo com o índice de chuva. Quando o período chuvoso está se aproximando elas já começam a se organizar para a cópula. Tanto o macho quanto a fêmea constroem o ninho, mas o macho não ajuda propriamente na incubação, ele se torna um guardião contra predadores.
Os ninhos são formados em locais escondidos, quando a incubação é natural, e para a incubação artificial são levados ao berçário que é restrito, sem o acesso do público. A partir de 90 dias, são realizados os exames de sexagem, técnica utilizada para identificar o sexo da espécie.
Os ovos demoram cerca de 26 dias para eclodirem e até o momento já foi possível acompanhar o desenvolvimento de 80 ovos. O Parque possui alguns filhotes iniciais com menos de 10 dias, alguns de 20 e outros já completando 90.
“É um número bastante interessante, pois não sabíamos exatamente quantos ovos seriam por ninho. Imaginávamos que seriam mais ou menos sete ovos e, nos surpreendemos que alguns ninhos tiveram 13 ovos, e os 13 eclodiram de maneira adequada. Foi um rendimento bastante interessante. Futuramente também, se tiver bastante indivíduos que consigam chegar na fase adulta, porque são diversos desafios que eles têm que enfrentar para chegar, como as competições dentro do próprio ninho entre irmãos, eles serão disponibilizados para o órgão ambiental, caso queiram fazer a soltura em lugares que esse animal esteja desaparecendo”, comenta Basílio.
As marrecas podem ser encontradas para visitação dentro da reserva José Márcio Ayres (borboletário) e no Viveiro das Aningas. “As pessoas têm uma curiosidade muito grande, porque eles não estavam aqui antes, por motivo de predação da vegetação. Eles são um pouco danados, gostam de comer principalmente a Vitória Régia, os marrecos beliscam pra caramba, então é a fase que a Vitória Régia não consegue ir muito pra frente porque eles estão predando muito, mas é uma graça. As pessoas vem, olham e começam a perguntar quem é o macho, quem é a fêmea, o que é que eles estão fazendo, por que eles estão juntos, etc”, comenta Basílio sobre a visitação do público.
O Parque já possui outra pesquisa consolidada sobre a reprodução dos guarás. O complexo, além de um espaço turístico, também é um local de pesquisas científicas.