Redação Planeta Amazônia
Conhecer a dinâmica dos rios e das chuvas na região Amazônica é uma informação estratégica tanto para a ciência quanto para os povos tradicionais que habitam no bioma. Uma iniciativa tem ajudado no monitoramento dessas informações.
Pesquisadores do Instituto Mamirauá em parceria com outras instituições como Agência Nacional de Águas e Saneamento Básico e o Serviço Geológico Brasileiro, começaram a coletar dados hidrometeorológicos para monitorar as chuvas e os níveis d‘água dos rios e várzeas na região do Médio Solimões. Estas informações são reunidas em boletins quinzenais que são divulgados em grupos de redes sociais, pelo programa “Ligados no Mamirauá” na Rádio Rural de Tefé, e de forma impressa em algumas comunidades da região.
Ayan Fleischmann, pesquisador do Instituto Mamirauá, expõe a importância da iniciativa para as comunidades. “As pessoas sabem que o nível do rio está subindo ou descendo, mas não sabem a quantidade, então essa informação é fundamental. A dinâmica do rio faz parte da vida das comunidades e os boletins das águas ajudam a disseminar as informações climatológicas e dos níveis d’água”.
Os níveis d’água são medidos em réguas instaladas em diversos locais da região, em especial, próximo às bases de campo do instituto. Para medir a chuva, os pesquisadores utilizam o pluviômetro, uma ferramenta usada para recolher e medir em milímetros, a quantidade de chuva que cai. Desta forma, é possível analisar e comparar os dados obtidos e analisar o clima, bem como, os processos de enchente e vazante dos rios.
“Hoje, o interior do Amazonas tem uma grande carência de dados hidrometeorológicos. Apesar de ser o maior estado do Brasil, ele possui apenas algumas dezenas de estações que medem os níveis d’água e o quanto chove. Por isso é importante termos séries temporais longas e ininterruptas, para compreendermos o ciclo anual da chuva, das cheias e secas no interior do Amazonas, e compreender possíveis alterações e impactos de atividades humanas”, explica o meteorologista e integrante do grupo de pesquisa em Geociências e Dinâmicas Ambientais na Amazônia do Instituto Mamirauá, Rodrigo Xavier.
Além de informar sobre a intensidade de chuva e níveis d’água, os boletins também auxiliam as populações locais no pleno desenvolvimento de suas atividades cotidianas, como explica Priscila Alves, que também faz parte do grupo de pesquisa. “A ideia de confecção dos boletins surgiu da necessidade de divulgação dos dados atualizados de níveis d’água e de chuva para a população da região. A partir dessas informações, podemos saber, por exemplo, quando determinados trajetos utilizados como atalho estarão viáveis para navegação”, afirma.
Para os próximos meses, o grupo de pesquisa do Instituto Mamirauá visa expandir a divulgação do boletim, chegando a mais comunidades do Médio Solimões. “A perspectiva é instalar outras réguas em novas comunidades, para elaborar um monitoramento hidrológico de base comunitária”, diz Ayan.
Um fato curioso detectado pelo trabalho de monitoramento com o pluviômetro, por exemplo, foi o volume de chuva registrado no dia 11/04 em que os medidores alcançaram 115 mm (115 litros por m²) ,”basicamente metade da chuva de março inteiro de uma vez, alcançando o valor de 45 mm em 15 minutos”, explica Rodrigo.