(*) Eduardo Galvão e Renata Calmon (**)
Conhecido por suas vastas florestas tropicais e diversidade ecológica, o Brasil enfrenta uma ameaça existencial. Um estudo alarmante da NASA indica que algumas áreas do país podem se tornar inabitáveis nos próximos 50 anos devido ao aumento das temperaturas e da umidade. Esta situação é uma consequência direta das mudanças climáticas globais, que estão transformando rapidamente o ambiente brasileiro.
O aquecimento global não é mais uma ameaça distante; é uma realidade que já estamos vivenciando. Nos últimos anos, o Brasil tem registrado temperaturas recordes e eventos climáticos extremos que afetam diretamente a vida cotidiana da população. Em 2023, o país experimentou os sete meses mais quentes já registrados, um indicativo claro de que as mudanças climáticas estão acelerando.
O estudo da NASA destacou que, se as emissões de gases de efeito estufa continuarem no ritmo atual, algumas regiões do Brasil poderão exceder a temperatura de bulbo úmido de 35°C até 2070. Essa temperatura é crítica porque, quando combinada com alta umidade, torna impossível para o corpo humano se resfriar através do suor, levando a um risco elevado de desidratação e problemas cardíacos.
Para enfrentar esses desafios, as políticas públicas locais devem ser robustas e proativas. A gestão ambiental eficaz começa na base, com iniciativas que podem ser implementadas por governos municipais e estaduais. Aqui estão algumas estratégias essenciais:
1. Reflorestamento e conservação: É vital interromper o desmatamento e iniciar programas agressivos de reflorestamento. A recuperação de áreas degradadas não só ajuda a sequestrar carbono, mas também restaura a biodiversidade e a resiliência ecológica.
2. Infraestrutura verde: Investir em infraestrutura que suporte a resiliência climática, como sistemas de coleta de água da chuva, telhados verdes e parques urbanos, pode ajudar a mitigar os impactos do calor extremo e das inundações.
3. Educação e conscientização: Campanhas educativas para informar a população sobre as práticas sustentáveis e a importância da preservação ambiental podem mobilizar a sociedade a adotar comportamentos mais ecológicos.
4. Legislação ambiental rigorosa: A criação e a aplicação de leis ambientais rigorosas são cruciais. Isso inclui regulamentações contra o desmatamento ilegal e políticas de incentivo para práticas agrícolas sustentáveis.
5. Tecnologia e inovação: Apoiar a pesquisa e o desenvolvimento de tecnologias limpas e sustentáveis pode posicionar o Brasil como líder na luta contra as mudanças climáticas.
Existem exemplos inspiradores, made in Brazil. Para ilustrar a eficácia dessas políticas, podemos olhar para algumas iniciativas de sucesso já em andamento no Brasil. No estado do Acre, programas de REDD+ (Redução de Emissões por Desmatamento e Degradação Florestal) têm mostrado resultados promissores na conservação das florestas. Esses programas não apenas ajudam a reduzir as emissões de carbono, mas também melhoram a qualidade de vida das comunidades locais através de incentivos econômicos para a conservação.
Outro exemplo é a cidade de Curitiba, conhecida mundialmente por seu sistema de transporte público sustentável e seus inúmeros parques e áreas verdes. As políticas de planejamento urbano de Curitiba focam na sustentabilidade, demonstrando que é possível desenvolver cidades modernas sem sacrificar o meio ambiente.
As mudanças climáticas exigem uma resposta rápida e coordenada. Não temos o luxo de esperar mais décadas para agir. Cada ano de inação apenas agrava a situação, tornando as soluções mais caras e menos eficazes. No contexto brasileiro, isso significa que as ações devem ser tomadas agora para garantir que nossas cidades e regiões rurais permaneçam habitáveis.
O Brasil está em uma encruzilhada. As mudanças climáticas estão avançando rapidamente, e as consequências de não agir são catastróficas. No entanto, ainda há esperança. Com políticas públicas locais bem elaboradas e a mobilização dos setores da sociedade, é possível mitigar os piores impactos para as próximas gerações.
É preciso lembrar que temos um prazo para implementar essas soluções. As ações para combater as mudanças climáticas devem ser iniciadas imediatamente, com metas claras e prazos específicos. O futuro do Brasil depende das escolhas que fazemos hoje.
A mudança climática é um desafio global, mas as soluções começam em casa. Cada cidade, estado e cidadão tem um papel a desempenhar.
(*) Coordenador do MBA em ESG e professor de Políticas Públicas do Ibmec DF e diretor de Public Affairs para Brasil da consultoria Burson
(**) Cientista política, especialista em Meio Ambiente e Sustentabilidade pela FGV e Gerente de Public Affairs Brasil da consultoria Burson.