Brasil lança projeto pioneiro de conservação florestal pela metodologia VM0048

Redação Planeta Amazônia

No ano em que sediará a COP 30, o Brasil larga na frente no mercado de soluções baseadas na natureza em projetos de alta integridade. O projeto de conservação ambiental Rio Preto, em Mato Grosso, coordenado pelo Future Climate Group, uma das maiores empresas de negócios climáticos do Brasil, está prestes a alcançar um feito inédito: a aprovação como o primeiro projeto de conservação florestal do mundo aprovado pela nova metodologia VM0048 da certificadora Verra, organização norte-americana sem fins lucrativos. A VM0048 é a metodologia mais rigorosa já desenvolvida para créditos de carbono. O marco coloca o Brasil na vanguarda dos mercados de carbono justamente quando o país se prepara para sediar a COP 30, em novembro, em Belém.

“Estamos prontos para mostrar ao mundo o que o Brasil pode fazer. O projeto Rio Preto, que já está em fase avançada de implementação, servirá como um modelo global, demonstrando como a alta integridade e a inclusão social podem ser motores de financiamento para a natureza. Sermos os primeiros a ter um projeto aprovado sob a rigorosa metodologia VM0048 é um motivo de orgulho e um sinal claro de que estamos à frente em soluções de alta integridade”, comenta Fábio Galindo, CEO da Future Climate.

Um novo paradigma de credibilidade

A VM0048, lançada em 2023, representa um salto em transparência e rigor científico. Baseia-se em dados de clareza fundiária, gestão de riscos, proteção da biodiversidade e benefícios sociais mensuráveis. A Verra – que opera o principal programa de créditos de carbono do mundo, o Verified Carbon Standard (VCS), e está alinhada com os Core Carbon Principles (CCPs), do Integrity Council for the Voluntary Carbon Market (ICVCM) – substituiu, com esse novo método, as antigas linhas de base, que eram definidas caso a caso por um mapeamento jurisdicional de risco de desmatamento conduzido com dados independentes.

Diferentemente das abordagens anteriores, a VM0048 utiliza uma década de dados históricos de desmatamento, mapas de risco jurisdicionais e modelos avançados para projetar as emissões evitadas de forma mais confiável e auditável. O Brasil foi priorizado na implementação do padrão, pois é um dos primeiros a ter acesso aos novos mapas de risco de desmatamento, já finalizados para os estados do Pará e de Mato Grosso, com dados provisórios para Amazonas, Rondônia e Acre.

Em novembro de 2024, o ICVCM aprovou a VM0048 como uma das três metodologias REDD+ (Reducing Emissions from Deforestation and Forest Degradation, mecanismo internacional que visa combater as mudanças climáticas em países em desenvolvimento) consideradas de alta integridade, dentro de seu benchmark rigoroso. Com a aprovação, espera-se que créditos emitidos sob a VM0048 possam receber o rótulo CCP de qualidade ainda em 2025.

Preços superiores para créditos de carbono de alta integridade

Analistas de mercado estimam que os créditos gerados pela VM0048 terão valorização significativa, com preços muito superiores aos dos chamados vintages (antigos), reflexo dos critérios mais rigorosos e da crescente demanda por compensações de alta integridade.

De fato, estudos indicam uma clara diferenciação de preço conforme a qualidade do crédito. Dados da Morgan Stanley Capital International (MSCI) mostram que o preço médio dos créditos voluntários despencou para cerca de US$4,8 por tonelada em 2024 — uma queda de 20% em relação a 2023 — justamente devido às preocupações com integridade de muitos projetos antigos.

Compradores corporativos, contudo, já vêm mudando de postura: cada vez mais empresas buscam créditos de maior qualidade, ainda que custem mais, focando sobretudo em soluções com alta permanência (como remoções de carbono) que negociam a preços múltiplos da média de mercado.

Com a alta procura de compradores por créditos de alto padrão, a Future Climate enfatiza que a escolha de quem vai adquirir seus créditos não será guiada apenas pelo aspecto financeiro. “Estamos priorizando parceiros verdadeiramente comprometidos com a ação climática e com impacto real, e não aqueles que buscam apenas visibilidade em marketing verde”, declara Laura Albuquerque, Chief Climate Officer da empresa, reforçando que a reputação dos compradores e o uso responsável dos créditos serão critérios na seleção.

Compradores finais têm demonstrado disposição em pagar um ágio por créditos de procedência confiável. Essa tendência sugere que, à medida que mais projetos como o da Future Climate cheguem ao mercado, deve haver uma filtragem natural: créditos certificados sob metodologias robustas atraindo compradores dispostos a remunerar pela segurança climática oferecida, enquanto projetos de baixa qualidade tendem a perder espaço.

O Projeto Rio Preto

O Projeto Rio Preto está localizado na Reserva Rio Preto, no norte do Mato Grosso, na região da bacia Platina – a segunda maior bacia hidrográfica do Brasil. O projeto está na categoria REDD+ e tem como objetivos a conservação florestal e a redução do desmatamento, com a promoção do modo de vida dos povos tradicionais locais.

A reserva onde o projeto será aplicado tem uma área aproximada de 7 mil hectares, sendo 4 mil deles de floresta preservada, além de 2 milhões de árvores protegidas, 100 espécies de flora e mais de 500 espécies de fauna. São mais de 70 nascentes na região e uma equivalência de 3 milhões de toneladas de carbono estocadas entre árvores e solo.

Coordenado pela FutureClimate desde 2019, o projeto foi aprovado, no último mês de julho, na metodologia Verra VM0048. Sendo o mais avançado na nova metodologia, deverá ser o primeiro no mundo a emitir créditos sob esse novo marco.

O inventário florestal de biomassa por hectare do projeto, última etapa de campo, está em curso e será concluído neste mês de setembro, sendo seguido por auditoria independente acreditada pela Verra, em outubro. A revisão e avaliação final da Verra estão previstas para dezembro, com a emissão dos primeiros créditos esperada para dezembro de 2025 — logo após a realização da COP 30. Esse cronograma torna provável que o Brasil apresente, em pleno palco da conferência climática, resultados concretos de um projeto piloto sob o mais alto padrão de integridade existente.

O Rio Preto foi concebido no modelo proprietário da Future Climate batizado de “Beyond Carbon” e se estrutura em quatro pilares:
● Integridade: conformidade legal, técnica e socioambiental;
● Biodiversidade: proteção do ecossistema amazônico;
● Gestão de riscos: monitoramento e prevenção do desmatamento;
● Impacto social: programas comunitários que geram benefícios para populações locais.

Entre as iniciativas já em andamento, estão: a criação de uma cadeia de produção de mel comunitário, uma parceria com a prefeitura de Santo Afonso para operar um viveiro de mudas nativas, e uma horta comunitária voltada à alimentação de crianças e idosos da região.

Brasil no centro das finanças climáticas

O anúncio do primeiro projeto VM0048 ocorre em um momento decisivo para o Brasil. Como anfitrião da COP 30, o país estará sob os holofotes internacionais para demonstrar liderança em soluções climáticas inovadoras e eficazes. Iniciativas pioneiras como esta da FutureClimate enviam um sinal poderoso a investidores globais de que o Brasil pode entregar projetos de carbono de alta qualidade, em escala e com inclusão social — exatamente o tipo de iniciativa considerado essencial para dar credibilidade aos mercados de carbono.

Os Core Carbon Principles e metodologias como a VM0048 são justamente exemplos dessas estruturas de integridade que vêm sendo implementadas para separar o joio do trigo no mercado de carbono. Um relatório recente da BloombergNEF (provedora global de pesquisas estratégicas e análises, focada na economia de baixo carbono) sugere que a adoção de padrões universais e confiáveis pode impulsionar o mercado voluntário de carbono para um valor anual de até US$1,1 trilhão em 2050, contra apenas US$30 bilhões atuais.

Nesse contexto, o fato de o Brasil sediar a COP 30 amplifica a importância de exemplos domésticos bem-sucedidos. O país detentor da maior parcela da floresta tropical remanescente do mundo encontra, em projetos como esse, uma vitrine do que pode ser um novo capítulo das finanças climáticas: aquele em que cada crédito de carbono representa, de forma comprovada, uma tonelada de emissões evitadas ou removidas, com benefícios reais para ecossistemas e comunidades.

Ao abraçar as metodologias de ponta e enfatizar integridade, o Brasil se posiciona no centro das soluções climáticas globais, catalisando investimentos e inspirando confiança de que os mercados de carbono podem, enfim, cumprir seu potencial como ferramenta eficaz no combate à mudança do clima.

By emprezaz

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