Redação Planeta Amazônia
Manejadores de pirarucu nos municípios de Fonte Boa e Juruá, na Reserva de Desenvolvimento Sustentável (RDS) Mamirauá, receberam capacitação da Fundação Amazônia Sustentável (FAS) sobre boas práticas de pesca, limpeza, armazenamento, transporte e comércio de pirarucu. O curso ocorreu em outubro, de 14 a 19, e capacitou 85 manejadores, de 10 comunidades ribeirinhas.
A iniciativa faz parte do projeto “Sistema de rastreabilidade: inovação e inteligência de mercado na cadeia produtiva do pirarucu da RDS Mamirauá”, lançado em dezembro de 2023, em parceria com a Positivo Tecnologia e o Programa Prioritário de Bioeconomia (PPBio).
O primeiro curso, focado em “Boas Práticas de Pré-Beneficiamento do Pirarucu”, ocorreu na comunidade Tamanicuá, no município de Juruá. A iniciativa reuniu 67 manejadores das comunidades de Tamanicuá, Santa Luzia do Jussara e São Francisco da Mangueira. Já o segundo curso, sobre “Boas Práticas de Beneficiamento do Pirarucu”, foi realizado na unidade produtiva Salgadeira Cabocla, em Fonte Boa, e contou com 18 participantes de sete comunidades.
Ambos os cursos abordam temas fundamentais, como higiene pessoal, tipos de contaminação, evisceração e lavagem, uso de EPIs, legislação sanitária, técnicas de corte e filetagem, armazenamento e resfriamento do pescado. Muitos participantes destacaram que, embora atuem no manejo do pirarucu há anos, não haviam recebido uma capacitação tão completa.
Gracilvani Ferreira da Costa, morador da comunidade Tamanicuá e presidente do Acordo de Pesca São Sebastião, afirmou que a capacitação foi fundamental para garantir a qualidade do pescado.
“O curso é voltado para o manejo do pirarucu, mas também serve para o nosso dia a dia em casa. Como é um fato novo, estamos começando e não trabalhávamos com o pirarucu manejado antes [na comunidade], acredito que os comunitários estão bastante empenhados em passar [o conhecimento] adiante as boas práticas. Agradecemos aos parceiros, pois a comunidade se sente muito feliz por receber a equipe”, afirmou.
Outra participante, Sileia Pinheiro Lopes, moradora da comunidade Batalha de Baixo, destacou a importância de aplicar e compartilhar os conhecimentos adquiridos e observou o aumento da participação feminina no manejo do pescado.
“Antes, tinha muito menos mulheres, mas com o tempo, vieram os cursos e as capacitações. Nós nos esforçamos e hoje temos um número muito maior. Na minha comunidade, as mulheres estão se envolvendo ainda mais no manejo. Agora, quando vamos fazer o manejo do pirarucu, a maioria é mulheres. Com certeza, eu participando desse curso vou estar incentivando outras mulheres”, conta.
Próximos passos
Iniciado em dezembro de 2023, o projeto “Sistema de rastreabilidade” busca melhorar a renda dos pescadores que, anualmente, recebem autorização do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) para o manejo sustentável do pirarucu na Amazônia.
O sistema de rastreabilidade digitaliza as etapas de pesca, pré-beneficiamento, beneficiamento e comercialização para hotéis e restaurantes. Embora toda a cadeia gere empregos e fortaleça a economia local, a maior parte dos lucros ainda se concentra fora da comunidade, com os pescadores ficando com aproximadamente 15% dos ganhos, conforme aponta um estudo da Universidade Notre Dame, de 2019.
Além do peixe comercializado in natura, após o beneficiamento, a pele do peixe é transformada em couro, servindo ao mercado da moda, utilizada para tecidos, sapatos, bolsas e acessórios. Esse aproveitamento de subprodutos contribui para a geração de empregos diretos e indiretos, dessa maneira reforça a competitividade do setor na região.
“Acreditamos que o pirarucu tem um enorme potencial para gerar renda e promover o desenvolvimento sustentável na Amazônia. Com o sistema de rastreabilidade e as ações de capacitação, estamos construindo um futuro onde pescadores receberão um retorno financeiro mais justo pela atividade do manejo”, afirma Elizeu Silva, analista de Empreendedorismo da FAS.