Cassandra Castro
Na sexta-feira (27), Parintins (a 369 quilômetros de Manaus) será, mais uma vez, o palco do gigantesco espetáculo amazônico, as apresentações dos bois Caprichoso, que entra na arena do Bumbódromo em busca do tetracampeonato, e Garantido, que busca quebrar a sequência de vitórias do boi adversário.
Mas, nos dias que antecedem as três noites de disputa, os dois bois realizam programações que unem tradição e paixão. No começo desta semana, o Garantido realizou seu ensaio técnico, num bumbódromo lotado de torcedores. Na noite de terça-feira (24), foi a vez do Boi Caprichoso realizar o seu,que foi considerado um verdadeiro ” ensaio show”, na definição do próprio presidente do bumbá azul e branco, Rossy Amoedo.

“Essa é a galera da cultura. É um dia de festa, de alegria. Tocamos parte do repertório de 2025 e mostramos grandes momentos do espetáculo. Foi uma celebração para esse povo apaixonado pelo Caprichoso, que se organiza o ano todo para viver as três noites mágicas de apresentação”, destacou Amoedo.
Ele também lembrou que o ensaio técnico foi pensado, especialmente, para os torcedores que não conseguirão garantir lugar nas arquibancadas do Bumbódromo, durante o festival.


Com o tema “É Tempo de Retomada”, o espetáculo apresentado trouxe ao público um aperitivo do que está por vir. Segundo o levantador de toadas do boi, Patrick Araújo, o Caprichoso está com tudo alinhado para surpreender na arena.
O Caprichoso será o segundo a se apresentar na sexta-feira (27), abrindo as duas noites seguintes: sábado (28) e domingo (29), com o seu espetáculo na Arena do Bumbódromo.
No mesmo dia do ensaio técnico do Caprichoso, o Boi Garantido realizou a tradicional Ladainha que ganha as ruas de Parintins em celebração à promessa feita pelo seu criador, Lindolfo Monteverde e também o aniversário do boi-bumbá vermelho e branco.
A ladainha é sempre no Dia de São João e remete a promessa feita por Lindolfo, que após ficar doente disse que, se fosse curado, criaria um boi-bumbá para sair às ruas todos os anos. Até hoje essa promessa é mantida: o Boi Garantido sai da Baixa do São José e percorre as ruas da comunidade, onde é recebido com casas enfeitadas, fogueiras acesas e moradores em festa.

A programação iniciou com a inauguração do Museu Vivo da Baixa, onde o Garantido prestou homenagem a personalidades já falecidas que fizeram parte da história da agremiação. Também foi exibido o documentário Símbolos de Resistência da Baixa da Xanda, que narra a trajetória da comunidade.
A celebração foi conduzida por dona Maria Monteverde, filha de Lindolfo, que, aos 87 anos, mantém viva a tradição deixada pelo pai. Ela também acompanha o boi pelas ruas.
“Eu me sinto feliz, não tem felicidade maior do que a minha. Lembro de toda a minha família, especialmente do meu pai Lindolfo, da minha mãe Antônia e da minha avó Alexandrina. Eles moram no meu coração, sempre! Hoje, estou felicíssima de estar aqui com vocês. Mais tarde quero ir à passeata e vou dançando. Esse é meu destino, minha vida. E vivo muito bem!”, declarou Maria Monteverde.

Para o presidente do Boi Garantido, Fred Góes, manter a tradição da ladainha é preservar a história de Lindolfo Monteverde por meio de sua filha. “Essa memória é muito importante, não apenas por ser uma lembrança, mas por tudo o que ele deixou, pelo legado construído enquanto esteve entre nós. Esse momento é um mergulho na nossa memória, na memória histórica do nosso boi. Dona Maria representa isso. A fala dela, por si só, já é história viva. A tradição não é algo estático; ela caminha conosco desde a infância até a vida adulta”, afirmou.


Tradição
As casas da Baixa são enfeitadas de vermelho e branco para receber a passagem do boi. A parintinense Luciane Ribeiro Lima destacou que a ladainha faz parte das suas memórias afetivas mais antigas, passadas de geração em geração.
“A gente fica superfeliz, porque é uma tradição que vem dos nossos avós e vai passando pra gente, os netos. Essa data é muito esperada. É uma comemoração que emociona. Toda a família se reúne pra esperar o Garantido. Quando o boi passa aqui na frente de casa, a gente sai atrás, acompanhando. Quando eu era criança, a gente queria ir, mas às vezes não deixavam. Mesmo assim, a gente chorava, fugia e seguia o boi. Isso tudo é memória viva”, contou a parintinense.