Cassandra Castro
Uma árvore majestosa que pode chegar a quase 50 metros de altura e mais de 5 metros de diâmetro. A castanheira é uma espécie encontrada por grande extensão da bacia amazônica e ocorre desde o sudeste da Amazônia brasileira, região dos territórios do povo Mẽbêngôkre – Kayapó – até a Bolívia, Peru, Colômbia, Venezuela e Guianas. O seu fruto é a castanha-da-Amazônia, também conhecida como castanha do Pará, ou, no exterior, como castanha-do-Brasil.
A atividade de coleta da castanha é realizada de forma tradicional e para o povo Kayapó, ela é uma importante fonte de alimento que, nas últimas décadas, também tem sido uma alternativa econômica para cerca de 600 famílias de 50 aldeias Kayapó localizadas nas Terras Indígenas Kayapó, Baú e Menkragnoti, no sul do estado do Pará e norte do estado do Mato Grosso. O trabalho realizado pelos indígenas contribui para a conservação de aproximadamente 9 milhões de hectares de florestas em uma região que vive sob constante ameaça.
A união de esforços tem feito com que a produção de castanha alcance novos destinos, com o produto ganhando o mercado internacional. As organizações criadas e dirigidas pelos Kayapó surgiram com o objetivo de fortalecer a cadeia da castanha nos territórios indígenas. Foi assim que surgiu a BaY Cooperativa Kayapó de Produtos da Floresta ( COOBAY), cuja ação tem proporcionado o acesso da castanha-da-Amazônia colhida pelos Kayapó a mercados diferenciados.
O biólogo Adriano Jerozolimski atua há anos junto aos povos indígenas da região. Ele é atualmente assessor da Cooperativa COOBAY e responsável pelo trabalho de articulação de novas parcerias para fortalecer a cadeia produtiva da castanha, valorizando o produto e também o trabalho realizado pelos povos originários.
Adriano conta que desde 2006 as organizações atuam para estruturar a cadeia produtiva da castanha com ações como a construção de galpões para armazenagem do produto. O trabalho também quis envolver ainda mais comunidades em torno da atividade extrativista.
As famílias que residem nos territórios Kayapó vivem da coleta da castanha e do cumaru que são cadeias sazonais, e também do artesanato que é uma atividade continuada e que permite a entrada de recursos.
As atividades da cooperativa têm agregado valor ao produto e por meio de parcerias, os produtores tiveram acesso a financiamentos públicos e conquistaram degraus importantes para expandir mercados, como a participação no Programa de Aquisição de Alimentos (PPA) e também a integração dos Kayapó cooperados à rede Origens Brasil. Ela promove negócios sustentáveis na Amazônia em áreas prioritárias de conservação, com garantia de origem, transparência, rastreabilidade da cadeia produtiva e promoção do comércio ético.
Além da produção da castanha in natura, com casca, da forma tradicional, também é através de parcerias que a cooperativa consegue beneficiar a castanha, explica Adriano. “Nós optamos pela terceirização para beneficiar a castanha. Emitimos nota fiscal, vendemos e prospectamos novos mercados”.
A cooperativa tem conquistado o mercado internacional com o fornecimento de castanhas para a Inglaterra. Já foram exportadas 6 toneladas de castanha beneficiadas para o país e o desafio é sempre buscar novos mercados porque a oferta é grande, destaca Adriano Jerozolimski.
Além de fornecer um produto de procedência segura e garantir renda para as famílias, o trabalho realizado pelos kayapó tem um valor inestimável para a manutenção da floresta.
O cultivo da castanha da Amazônia ganha um significado ainda maior em meio aos desafios climáticos enfrentados por todo o mundo. “ É importante criar políticas públicas para fortalecer essas cadeias produtivas, valorizar o trabalho dos povos”, conclui Adriano.
Um dos próximos passos da BaY Cooperativa Kayapó de Produtos da Floresta (COOBAY) é a criação de um e-commerce para ampliar ainda mais os horizontes e quem sabe, levar um produto amazônico sustentável para todo o planeta.