Coalizão propõe estratégias para ampliar financiamentos em projetos de bioeconomia e restauração

Redação Planeta Amazônia

Embora desafiadora e complexa, a agenda de regeneração e bioeconomia na Amazônia tem potencial para gerar um impacto sistêmico e transformador — não apenas na região amazônica, mas também em outros territórios. É o que defendeu Gabriel Azevedo, diretor-gerente de ESG no IDB Invest, durante o painel “Destravando investimentos privados para bioeconomia, restauração e agricultura regenerativa: o caminho para a COP 30”, realizado nessa terça-feira (27) no II Fórum Brasileiro de Finanças Climáticas e de Natureza, no Rio de Janeiro. O debate reuniu membros da Coalizão Financeira para Restauração e Bioeconomia do Brasil (BRB FC), iniciativa multissetorial lançada em novembro do ano passado, na ocasião do G20, com o objetivo de mobilizar capital privado em larga escala para a restauração florestal e o fortalecimento da bioeconomia de base comunitária no país.

Moderado por Marina Cançado, fundadora da Converge Capital e da Ato, o debate contou ainda com a participação de Danielle Carreira, líder de Engajamento para Setor Financeiro no World Economic Forum (WEF); e Alessandra Fajardo, conselheira sênior para a COP-30 e Integração Estratégica no Conselho Empresarial Brasileiro para o Desenvolvimento Sustentável (CEBDS).

No encontro, Gabriel chamou atenção para os principais gargalos que ainda limitam a entrada de capital privado nesse campo, como o desconhecimento sobre o tema, a insegurança jurídica e regulatória e a ausência de projetos com escala e estrutura compatíveis com as exigências do sistema financeiro.

“Estamos falando de algo que pode mudar estruturalmente o sistema. Há proponentes em várias escalas, mas poucos projetos atingem o grau necessário para atrair capital. Seja pela estruturação financeira ou pela governança, ainda falta alcançar um padrão mínimo. A missão nobre por si só não move o investidor. Precisamos de rentabilidade e de endereçar os riscos”, afirmou.

foto: Lucas Teixeira

O painel abordou mecanismos financeiros alternativos para destravar capital em larga escala, uma das motivações centrais para a criação da BRB FC. A iniciativa tem como meta mobilizar US$ 10 bilhões até 2030 para projetos de restauração e bioeconomia, com foco na recuperação de pelo menos cinco milhões de hectares de florestas brasileiras. A longo prazo, a Coalizão também pretende contribuir para a redução de uma gigatonelada nas emissões de carbono até 2050.

Karen Oliveira, diretora de Políticas Públicas e Relações Governamentais da The Nature Conservancy (TNC) – uma das instituições que compõem a BRB FC – apresentou os primeiros dados do estudo “Mapeamento de Empreendimentos de Povos Indígenas e Populações Tradicionais, Fundos Comunitários e Organizações Facilitadoras”. A pesquisa faz uma radiografia inédita dessas comunidades e de como acessam recursos financeiros, além de apontar caminhos para novos aportes voltados à bioeconomia de base comunitária.

Os dados do estudo reforçam a urgência — e a oportunidade — de investir diretamente em iniciativas lideradas por povos indígenas e comunidades locais. A proposta está alinhada a uma das metas da Coalizão: mobilizar pelo menos US$ 500 milhões até 2030 para apoiar esse tipo de empreendimento na Amazônia e em outros biomas brasileiros. “Estamos falando de soluções efetivas que já existem e que queremos potencializar com base nos bons resultados que a Coalizão já conquistou”, afirmou Karen.

O objetivo é aumentar o potencial de investimento e, ao mesmo tempo, contribuir para o controle do desmatamento. A diretora da TNC alertou, entretanto, para as limitações dos mecanismos de financiamento atuais. “Muitas vezes, as linhas disponíveis não permitem cobrir custos essenciais para essas iniciativas”, disse.

Nesse contexto, Gabriel destacou o papel estratégico da BRB FC como articuladora entre investidores e proponentes e como agente de influência sobre políticas públicas. “A Coalizão pode continuar atraindo atenção para o potencial transformador e sistêmico dessa agenda, que ultrapassa o Brasil e a América Latina. É uma pauta global”, afirmou. Para ele, regenerar cinco milhões de hectares na Amazônia traria ganhos significativos em termos de clima e biodiversidade, além de impacto social. “É impressionante o que isso pode representar”, disse, acrescentando que cabe à Coalizão desafiar as lógicas tradicionais de análise de risco. “O pessoal de risco ainda não sabe analisar esse tipo de proposta. Somos pioneiros. Ninguém nunca fez isso antes.”

A BRB FC já conta com 21 membros de diferentes setores, incluindo representantes do poder público, da iniciativa privada e da sociedade civil, no Brasil e no exterior. Recentemente, somaram-se à iniciativa o Conselho Empresarial Brasileiro para o Desenvolvimento Sustentável (CEBDS) e a S.Oleum. Entre os integrantes, estão investidores, governos, empresas, organizações ambientais e lideranças indígenas — todos comprometidos em promover a bioeconomia e ampliar a escala da restauração florestal no país.

By emprezaz

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Postagens relacionadas