Comissão de Saúde debate transferência do serviço de nefrologia da Fundhacre para o setor privado

Redação Planeta Amazônia

A Comissão de Saúde Pública e Assistência Social da Assembleia Legislativa do Acre (Aleac) realizou, na manhã desta sexta-feira (18), uma reunião no plenário para discutir o encerramento do setor de nefrologia da Fundação Hospital Estadual do Acre (Fundhacre). O debate se concentrou na decisão de transferir o serviço para a iniciativa privada, o que gerou preocupações sobre o impacto na qualidade e no acesso ao tratamento para pacientes renais crônicos.

A reunião contou com a presença de representantes do governo, do secretário de Saúde do Estado, Pedro Pascoal, especialistas da área de saúde e pacientes, que expressaram diferentes pontos de vista sobre a transferência do serviço. A principal questão levantada foi a garantia de atendimento adequado para os que dependem do setor de nefrologia, além da preocupação com possíveis dificuldades de acesso ao tratamento no novo modelo privado.

Na abertura da reunião, o presidente da Comissão de Saúde, deputado Adailton Cruz (PSB), destacou a importância de discutir a situação do fechamento do setor de nefrologia da Fundhacre e a transferência para o setor privado. “Sejam todos muito bem-vindos. Essa reunião é da Comissão de Saúde para tratar da situação que está sendo vinculada, inclusive pela imprensa, de que a nefrologia da Fundação será encerrada. Então, para discutir essa situação e deixar o nosso posicionamento”, afirmou, agradecendo a presença de líderes e da imprensa.

Na abertura da reunião, o presidente da Comissão de Saúde, deputado Adailton Cruz (PSB), destacou a importância de discutir a situação do fechamento do setor de nefrologia da Fundhacre e a transferência para o setor privado/foto: Agência Aleac

Em sua fala, Dora Lima, gerente do setor de nefrologia da Fundhacre, esclareceu que uma força-tarefa será iniciada a partir da próxima semana para atender à demanda reprimida de exames necessários para o transplante renal. “A partir de segunda-feira, vocês começarão a ser chamados para realizar os exames, como o ECO e a uretrocistografia, garantindo que o protocolo esteja em dia, especialmente para aqueles que já têm doadores vivos,” afirmou. Ela ainda destacou que a equipe de regulação está trabalhando para agilizar o atendimento aos pacientes na fila do transplante.

Vanderli Ferreira, ativista da nefrologia, expressou sua oposição ao fechamento do setor na Fundhacre, destacando a importância de manter o serviço público em operação. “Sou totalmente contra acabar a nefrologia na Fundação. Precisamos de cardiologistas nas clínicas e de prioridade na realização de exames para transplantes, que estão demorando muito”, declarou. Ele também mencionou a necessidade de organização no quarto turno de atendimento, que atualmente funciona até tarde da noite, e reforçou a urgência em garantir profissionais especializados, como neuro e cardiologistas, para pacientes renais.

Vanderli Ferreira, ativista da nefrologia, expressou sua oposição ao fechamento do setor na Fundhacre, destacando a importância de manter o serviço público em operação/foto: Agência Aleac

O ativista também chamou atenção para a perda de quase dois milhões de reais em recursos que deveriam ter sido usados na ampliação da nefrologia, apontando a falta de readequação de projetos como causa. “Se esse montante tivesse sido usado, teríamos uma nefrologia maior e mais equipada”, afirmou Vanderli. Ele ainda destacou o temor de que o setor seja desativado, como já aconteceu em outros estados, onde o governo deixou de pagar as clínicas e os pacientes ficaram sem saber onde buscar tratamento.

A presidente da Fundhacre, Ana Beatriz de Assis, destacou durante o discurso, a gravidade da situação enfrentada pelo setor de nefrologia devido ao desabastecimento de materiais essenciais para o tratamento de diálise. Ela afirmou que a equipe foi pega de surpresa pela não entrega dos insumos pela empresa contratada, o que forçou a necessidade de remanejar 64 pacientes da Fundação para clínicas particulares, a fim de evitar a interrupção dos tratamentos. “Não estava nos nossos planos a não entrega de qualquer material que envolvesse os pacientes da nefrologia. Até porque a gente não está pensando em números, estamos pensando em vidas, ” frisou. A gestora informou que a empresa responsável já foi notificada e que a Fundhacre continua trabalhando para resolver a questão o mais rápido possível.

 Além disso, Ana Beatriz anunciou que a Fundhacre abrirá um setor de emergência exclusivo para atender pacientes em diálise, evitando que eles tenham que recorrer ao Pronto-Socorro em situações críticas. Ela explicou que esse novo espaço será equipado com profissionais especializados, como médicos, enfermeiros e técnicos de enfermagem, para garantir a segurança e a qualidade do atendimento.

“Estamos nos preocupando em abrir essa emergência dentro do hospital, com cadeiras e equipamentos adequados, para que o paciente de diálise saiba que o lugar dele para uma assistência emergencial será lá”, afirmou. Ana Beatriz também ressaltou que a equipe intra-hospitalar será ampliada, assim como os pontos de atendimento em outras unidades de saúde, como o Unacon e o Hospital do Idoso.

Após ouvir os pacientes presentes no encontro, o secretário de Saúde, Pedro Pascoal, esclareceu que o serviço não será encerrado. “Fechar o serviço de nefrologia significa que nós estamos extinguindo a nefrologia do ato. Em momento algum o governador falou que seria extinto. Pelo contrário, nós precisamos reforçar o nosso serviço”, afirmou. Ele destacou a necessidade de otimizar os recursos disponíveis para garantir mais ações no setor de saúde, sem comprometer o atendimento aos pacientes.

Após ouvir os pacientes presentes no encontro, o secretário de Saúde, Pedro Pascoal, esclareceu que o serviço não será encerrado/foto: Agência Aleac

Pascoal ressaltou ainda que o planejamento está focado em garantir o suporte necessário para procedimentos como transplantes renais, que dependem da disponibilidade de leitos de UTI. “No dia 15 deste mês, tivemos uma taxa de ocupação de 92% dos 71 leitos de UTI. Para realizar um transplante, é preciso ter um leito de UTI garantido no pós-operatório imediato”, explicou. O secretário ainda garantiu que a equipe especializada de nefrologia será mantida, mesmo com uma redução no quantitativo de máquinas e cadeiras, e que os pacientes continuarão a ser atendidos em um centro especializado para evitar exposição a outras emergências hospitalares.

“Vocês compreenderam como vai funcionar? Entenderam que nenhum serviço vai ser encerrado? De agora em diante, no Pronto- Socorro vai ter o quê? Atendimentos de pacientes com Pneumonia, tuberculose, meningite, politraumatismo. E vocês precisam ser atendidos num centro especializado, num local onde entendam de pacientes de diálise”, afirmou Pedro Pascoal, enfatizando a necessidade de manter os atendimentos de nefrologia fora do pronto-socorro.

Ao encerrar a audiência, o deputado Adailton Cruz destacou seu compromisso com os pacientes e trabalhadores do setor de nefrologia, ressaltando a importância de uma assistência digna. “Podem contar com a gente a hora, o minuto, o segundo que precisarem”, disse o parlamentar, lembrando a própria experiência pessoal com o tratamento de hemodiálise de seu pai. Ele também se comprometeu a realizar visitas não anunciadas às clínicas que prestam esse serviço para verificar as condições e “cobrar para que sejam resolvidos” possíveis problemas. Cruz garantiu que o setor de nefrologia na Fundação Hospitalar não será fechado e reforçou que estará presente na próxima terça-feira, às 16 horas, para discutir de forma mais detalhada as demandas com os profissionais da área.

By emprezaz

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