Comunidades do Rio Manicoré lançam plano inédito de gestão territorial no Amazonas

Redação Planeta Amazônia


As comunidades ribeirinhas que vivem às margens do Rio Manicoré, no sul do Amazonas, se preparam para um marco na gestão territorial comunitária do estado. Nos dias 2 e 3 de dezembro, foi apresentado o Plano de Gestão do Território de Uso Comum do Rio Manicoré (PGTUC), que consolida o primeiro território do Amazonas oficialmente reconhecido como área pública destinada ao uso coletivo e à autogestão das famílias que vivem na floresta

O Território de Uso Comum do Rio Manicoré abrange quase 390 mil hectares de floresta pública. Antes vulnerável à grilagem e à exploração ilegal, a área agora passa a contar com um modelo que coloca as comunidades no centro das decisões sobre organização produtiva, proteção dos rios e conservação ambiental. A iniciativa é considerada uma inovação jurídica e social com potencial de replicação em outras regiões da Amazônia.

A elaboração do plano contou com apoio técnico de organizações parceiras, entre elas a The Nature Conservancy (TNC), que atua desde 2024 na região com ações voltadas ao fortalecimento da governança comunitária e à promoção de soluções de conservação lideradas por povos da floresta.

Segundo Olavo Makiyama, líder em conservação da floresta pública da Amazônia da TNC Brasil, o plano demonstra a força da autonomia local. “O Plano de Gestão é a prova de que quando as comunidades lideram, a floresta permanece em pé. Este é o primeiro Território de Uso Comum do Amazonas, mas seu impacto vai muito além do Rio Manicoré”, afirmou.

Criados para solucionar a falta de destinação oficial de extensas áreas de floresta pública, os Territórios de Uso Comum buscam reduzir invasões, conflitos e desmatamento. O reconhecimento formal do TUC pelo Estado garante segurança jurídica às famílias e fortalece o papel das comunidades como guardiãs da floresta.

O modelo também reforça saberes tradicionais, organiza processos decisórios e cria condições favoráveis à implementação de políticas públicas voltadas à qualidade de vida, renda sustentável e conservação ambiental.

O Plano de Gestão, resultado de meses de oficinas e discussões participativas, reúne regras de convivência, diretrizes para uso dos recursos naturais, diagnóstico social e ambiental, calendário agroecológico e a construção inicial de um Acordo de Pesca para conservação dos recursos pesqueiros. O documento também define cinco eixos de ação: serviços públicos, infraestrutura, sociobioeconomia, monitoramento territorial e pesquisa.

Levantamentos realizados pelas equipes técnicas identificaram 527 espécies de vertebrados, 275 espécies de plantas e 76 fungos, alguns deles novos para a ciência. O plano também reúne dados socioeconômicos de 372 famílias, essenciais para orientar políticas públicas e estratégias de conservação.

As comunidades ainda construíram uma Visão de Futuro que estabelece prioridades para a próxima década, incluindo preservação ambiental, restauração de áreas degradadas, melhorias em educação e saúde, acesso à água tratada, geração de oportunidades para jovens, renda sustentável e segurança territorial.

Para Maria Cléia Delgado Campino, presidenta da Central das Associações Agroextrativistas do Rio Manicoré (CAARIM), o TUC representa um legado. “O TUC é uma forma de proteger o território do Rio Manicoré hoje e para as futuras gerações”, declarou.

A gestão do TUC do Rio Manicoré é realizada pela CAARIM e conta com apoio técnico e institucional do Conselho Nacional das Populações Extrativistas (CNS), Instituto Internacional de Educação do Brasil (IEB), Centro de Estudos em Sustentabilidade da FGV (FGVces), Greenpeace Brasil, TNC, Wildlife Conservation Society (WCS) e Universidade de Lancaster.

By emprezaz

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