Redação Planeta Amazônia
Uma das principais bases da cultura alimentar no mundo é, para a população paraense, um hábito cultural: o consumo de peixes. No Pará, o consumo sempre esteve acima da média nacional. Enquanto no Brasil se consomem 2,8 kg de pescado por habitante, no Pará o valor é de 11,1 kg/habitante, número 3,96 vezes maior que o nacional. E já que esta é a principal forma de consumo no Estado, a atividade pesqueira acompanha a tendência, tendo destaque nos mercados nacional e internacional.
Esses e outros levantamentos estão reunidos na nota técnica “Pesca paraense 2023”, desenvolvida e lançada pela Fundação Amazônia de Amparo a Estudos e Pesquisas (Fapespa). O trabalho traça um panorama da conjuntura econômica da atividade pesqueira e aquícola do Pará, com vista a colaborar com o atual estágio de discussões a respeito do desenvolvimento desta atividade produtiva no Estado.
A pesquisa preenche parte da lacuna de dados sobre pesca, decorrentes da suspensão da divulgação de estudos relativos à produção pesqueira no país tanto pelo Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama), quanto pelo Ministério da Pesca. Os números nacionais e regionais sobre pesca extrativa não eram divulgados desde 2011. Esta ausência de pesquisa do setor extrativo pesqueiro acarreta na dificuldade quanto à tomada de decisões de políticas públicas no setor.
Por este motivo, a nota técnica reúne dados de produção da atividade aquicultura, único componente do pescado paraense informado oficialmente pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), além de outros indicadores associados à atividade pesqueira e aquícola, como população ocupada, investimentos, estabelecimentos e exportação.
“A nota foi desenvolvida a partir do reconhecimento de que a atividade pesqueira, praticada de forma adequada e sustentável, pode auxiliar na execução de metas mundiais da Organização Mundial da Saúde (OMS) no combate à má nutrição até 2030 e ainda, por meio dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável, os ODS, no combate à fome, garantia da segurança alimentar e melhoria da nutrição da população. Dados da Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura referentes a 2020 indicam que o consumo per capita global de pescado vem aumentando cerca de 1,5% ao ano, fechando 2018 com o consumo de 20,5 kg por habitante. O pescado, portanto, se tornou imprescindível para garantir a segurança alimentar mundial”, reforça Marcio Ponte, diretor da Diretoria de Estudos e Pesquisas Socioeconômicas e Análise Conjuntural, departamento responsável pelo estudo.
Pescado é todo o peixe, crustáceos (camarões), moluscos (ostras e mexilhões) e outros animais aquáticos usados na alimentação humana. O Brasil vem acompanhando o aumento da demanda por pescado. Em duas décadas, a produção cresceu a uma taxa média de 2,5% ao ano, passando de 0,8 milhão de toneladas em 2000 para 1,4 milhão de toneladas em 2021. O aumento está associado, em grande parte, ao expressivo crescimento da aquicultura, que quase quadruplicou no período.
No Pará, a aquicultura quase triplicou em dez anos. Em termos de produção, passou de 5,1 mil toneladas em 2013 para 14,2 mil toneladas em 2022, com destaque para o ano de 2014, quando a atividade aquícola paraense apresentou um expressivo aumento na produção, resultado que elevou substancialmente a participação do Estado na atividade pesqueira do país.
Ranking
Diante da variedade de espécies de peixes da região, a principal espécie aquícola produzida no Pará é o tambaqui. A produção em 2022 desse pescado chegou à marca de 8.004 toneladas, número correspondente ao dobro da produção média nacional. O tambacu ou tambatinga (peixe híbrido entre tambaqui e pacu-caranha), ocupa a segunda colocação de maior cultivo no Pará, com produção de 3.493 toneladas, também bem acima da média nacional. A tilápia ocupa a terceira maior produção do Estado. Outros seis grupos de pescados de maior relevância no mercado paraense são, respectivamente: matrinxã; pirapitinga, piau/piapara/piauçu/piava, pintado/cachara/cachapira/pintachara/surubim, pirarucu, camarão e jatuarana/piabanha/piracanjuba.
Considerando todas as espécies de pescado, a produção brasileira na aquicultura foi de 739,4 mil toneladas em 2022, atingindo rendimento no valor de R$ 8 bilhões. Neste mesmo ano, o Estado do Pará produziu 14,2 mil toneladas do pescado cultivado, o que representou 1,9% da produção nacional e, em termos de posição, conferiu ao Estado o décimo quarto maior resultado do país.
Em relação ao ano de 2013, ano de início da série histórica, a produção aquícola paraense apresentou um expressivo aumento de 179,1%, bem acima da média nacional, que ficou em 55,2%. Em rendimento, o Estado do Pará gerou R$ 185,4 milhões em 2022. Em relação ao ano de 2013, o valor da produção da aquicultura paraense aumentou 415,4%, crescimento bem acima da média nacional de 181,5% e da maioria dos outros Estados que cultivam o pescado.
Destaque
Dentre os municípios paraenses que cultivam pescado, Paragominas se destaca como o maior produtor. Em 2022, a aquicultura do município produziu 3,1 mil toneladas, o equivalente a 22,4% da produção estadual. A aquicultura de Paragominas também é a que gera mais receita para o Estado, com valor da produção de R$ 38,5 milhões em 2022, representando 20,8% do valor gerado na aquicultura estadual neste ano. O segundo e terceiro municípios com maior atividade aquícola foram Marabá (7,6%) e Tucuruí (5%). Ressalta-se que os dez municípios com maior produção na aquicultura paraense representaram 61,7% da produção estadual e, em relação ao ano 2014, que marca o início dos registros, quase todos apresentaram aumento na produção.
Preferências
Dentro dos levantamentos da nota técnica sobre o pescado paraense, o Tambaqui ocupa a colocação de pescado de maior cultivo no Pará. Sozinha, essa espécie representa mais que metade da aquicultura paraense. Em 2022 o tambaqui contribuiu com 56,2% da produção estadual, seguido pelo tambacu (24,5%) e pela tilápia (5,9%). Juntas, essas três espécies representaram mais de 86% da produção estadual.
No comparativo nacional, o Pará foi o quarto maior produtor de tambaqui no Brasil em 2022, com participação de 3,6% do total produzido. Em relação ao ano do início da série histórica em 2013, todas as dez principais espécies produzidas no Pará apresentaram aumento na produção acima de 100%, com destaque para a produção das duas primeiras, tambaqui e tambacu, que ultrapassaram o volume de mil toneladas.