Por João Gabriel de Araujo Oliveira (*) e Camila Ramos de Amorim(**)
COP30, um grande nome e movimento para o mundo, no qual juntou as grandes potências globais para debates e conversas acerca do financiamento climático e suas metas sustentáveis, foram uma completa decepção sob a perspectiva científica e acadêmica, entretanto, saindo desse olhar mais crítico e analítico, ao analisar a visão popular desse evento, é possível visualizar os problemas concretos e iminentes que sucederam durante esse período. A priori, grande parcela da população não tinha clareza acerca do que era a COP, dado que, de acordo com o instituto Real Time Big Data, 62% dos brasileiros afirmaram não saber o que é a 30ª Conferência das Partes, revelando assim, uma lacuna e uma assimetria de informações diante a população, fazendo esse desconhecimento evidenciar não apenas um afastamento entre o tema ambiental e o cotidiano social, mas também a ausência de campanhas educativas acessíveis que pudessem democratizar o entendimento sobre a importância de uma conferência desse porte no país.
De mais a mais, mesmo entre aqueles que já ouviram falar do evento, muitos duvidam de que a conferência resulte em ações concretas, posto que, cerca de 70% da população permanece cética quanto à possibilidade de avanços reais, o que compromete com as expectativas populares, ou seja, para boa parte dos habitantes, a COP é vista como um espaço de discursos e promessas — e não como uma fonte real de expectativas de mudança. Sob essa ótica, no ponto de vista dos moradores locais da região de Belém, o evento surgiu como um grande expositor das desigualdades presentes, uma vez que a atenção internacional está voltada ao território, não é difícil observar as precariedades de um sistema estrutural antigo, junto com a inexistência de um saneamento adequado, o que fundamenta esse pensamento coletivo.
Em acréscimo, além de uma deteriorada visibilidade internacional, o Estado passou igualmente a enfrentar uma percepção negativa em âmbito nacional, em virtude do despejo de inquilinos, promovido para permitir a locação dos imóveis a preços inflacionados para turistas e delegações, contudo, a alta de preços afetou não apenas as hospedagens, mas também os aluguéis e os serviços básicos — aprofundando a desigualdade social local. Desse modo, para uma estadia aparentemente melhor para os visitantes estrangeiros, o governo federal propôs uma requalificação urbana e superficial do estado — transporte, saneamento, mobilidade —, no qual acabou causando sobrecarga e inconvenientes para os moradores, em decorrência do grande fluxo de visitantes.
Dessa forma, o povo brasileiro ponderou a conferência com um certo rigor, sendo pautada como hipócrita, uma vez que, para a cúpula ambiental acontecer, a cidade em nome da “sustentabilidade”, executou obras urbanas e rodoviárias que, em alguns casos, resultaram em desmatamento ou na remoção de áreas verdes — uma contradição evidente para quem esperava que a COP priorizasse a preservação ambiental. Nesse sentido, o evento exigiu a implementação de uma infraestrutura de grande porte — incluindo geradores, edificações temporárias e intervenções urbanas — que, segundo diversos setores da sociedade, evidenciou uma contradição estrutural: promover debates sobre clima enquanto se geram impactos ambientais imediatos. Logo, essa percepção crítica manifestou-se em protestos públicos, em declarações de ativistas socioambientais, em reportagens da imprensa e em posicionamentos de lideranças e comunidades indígenas, demonstrando assim, uma insatisfação crescente com a distância entre o discurso ambiental da conferência e os efeitos concretos provocados por sua realização.
(*) Doutor em Economia (Universidade de Brasília), Pesquisador (pós-Doutorado) do Departamento de Economia da Universiade de Brasília, Professor Visitante do PPE da Universidade Estadual de Londrina
(**) Estudante e Pesquisadora de Economia

