Redação Planeta Amazônia
A vulnerabilidade socioeconômica e os eventos climáticos extremos que marcam o Corredor Seco da América Central ganharam destaque na Conferência do Clima (COP30), em Belém. Especialistas, gestores públicos e organismos internacionais detalharam os impactos das secas prolongadas, das chuvas intensas e da degradação ambiental na região, destacando como ciência, inovação e conhecimento tradicional podem impulsionar ações concretas de resiliência para agricultores e comunidades rurais.
O debate ocorreu no pavilhão do Instituto Interamericano de Cooperação para a Agricultura (IICA), que ao longo da Conferência reúne governos, setor privado, pesquisadores e movimentos sociais para discutir desafios climáticos e socioeconômicos. O Corredor Seco se estende do sul do México ao Panamá, ocupa cerca de 30% da América Central e abriga cerca de dez milhões de pessoas, das quais 60% vivem abaixo da linha da pobreza.
A combinação entre eventos extremos, degradação ambiental e baixa renda torna a região especialmente exposta aos efeitos da mudança do clima. Diante desse cenário, especialistas defenderam abordagens integradas que articulem políticas públicas, conservação e restauração ambiental, acesso a financiamento, inovação tecnológica e geração de oportunidades econômicas. Segundo os participantes, sem ações multidimensionais, a adaptação continuará insuficiente para proteger milhões de pessoas em situação de vulnerabilidade.
Entre os destaques esteve o Projeto Escalar, executado pelo Centro Agronômico Tropical de Pesquisa e Ensino (CATIE), instituição parceira do IICA com sede na Costa Rica. A iniciativa aposta em tecnologias de baixo custo voltadas a pequenos agricultores, com foco no aumento da renda, na geração de emprego local e no protagonismo de jovens e mulheres. O projeto também busca reduzir a vulnerabilidade climática por meio de práticas produtivas mais resilientes e replicáveis.
O painel contou com a participação do diretor-geral do CATIE, Luis Pocasangre; da diretora do Projeto Escalar, Leida Mercado; do subsecretário de Meio Ambiente de Chiapas, Jorge Kanter; do diretor de Ação Climática para a América Latina da World Vision, Luis Corzo; e do diretor-geral do IICA, Manuel Otero. O debate integrou a programação da Casa da Agricultura Sustentável das Américas.
Pocasangre apresentou resultados do Projeto Escalar, que já beneficia 2.614 produtores no Corredor Seco. Ele destacou que o conhecimento local é complementar ao avanço científico. Segundo o diretor, o programa de melhoramento genético do café conduzido pelo CATIE já liberou cinco variedades híbridas, duas delas tolerantes à seca e com desempenho positivo na região.
Para o diretor do CATIE, a participação ativa dos agricultores é essencial no desenvolvimento das tecnologias. Ele alertou ainda para o enfraquecimento dos sistemas nacionais de extensão agropecuária em alguns países, o que dificulta a difusão de soluções no campo.
O diretor-geral do IICA, Manuel Otero, reforçou que a região enfrenta baixos índices de produtividade e forte pobreza rural, cenário que impulsiona fluxos migratórios. Ele defendeu ações que transformem vulnerabilidade em oportunidade, com foco no empoderamento de pequenos agricultores e na construção de uma nova narrativa que valorize o potencial produtivo da região.
Representando o governo mexicano, Jorge Kanter apresentou a atuação do Conselho Estadual de Restauração e Saneamento de Microbacias de Chiapas, destacando a necessidade de soluções adaptadas ao modelo fundiário local, que reúne áreas ejidais, comunitárias e privadas. Ele ressaltou que práticas como agricultura regenerativa, soluções baseadas na natureza e pecuária silvipastoril têm sido fundamentais para apoiar produtores diretamente afetados pela mudança do clima.

