Crédito do Trabalhador: Risco de Endividamento e Pressão Sobre a Política Monetária

(*) Pedro Minella e João Gabriel de Araujo Oliveira

O “Crédito do Trabalhador” é uma nova linha de financiamento voltada para trabalhadores do setor privado, oferecendo juros mais baixos por meio do desconto em folha de pagamento, com a garantia de 10% do montante acumulado no FGTS e 100% da multa rescisória do trabalhador em caso de desligamento. Esse “lastro” pode ser desastroso, uma vez que o trabalhador depende dessa renda quando desempregado. Assim, apesar das intenções positivas dessa política, há diversos riscos e pontos negativos que devem ser considerados.

Vejam, que existe um risco significativo para o trabalhador que contrair esse tipo de empréstimo e, posteriormente, perder o emprego. Como os descontos são realizados diretamente na folha de pagamento, a garantia de quitação do crédito está vinculada ao vínculo empregatício e seus seguros fiduciários (FGTS e multa). Caso o trabalhador seja demitido, ele ainda terá uma dívida em aberto, mas sem um mecanismo automático de pagamento que acumulará juros até a sua reintegração no mercado de trabalho.

Além disso, de acordo com a política monetária do Banco Central, a oferta de crédito com taxas reduzidas pode estimular o consumo e aumentar a pressão inflacionária. Dado que o Banco Central busca controlar a inflação por meio da taxa básica de juros (Selic), a existência dessa linha de crédito subsidiada pode forçar uma elevação ainda maior da Selic para conter a demanda agregada. Isso gera um paradoxo: enquanto o governo busca facilitar o acesso ao crédito com juros mais baixos, o Banco Central pode ser obrigado a subir os juros de forma mais agressiva para equilibrar a economia, tornando outras linhas de financiamento ainda mais caras.

É posto, também, que as políticas fiscal e monetária devem atuar de forma coordenada para garantir a estabilidade econômica e o crescimento sustentável do país a longo prazo. Caso essa sintonia não ocorra, o governo pode enfrentar uma crise de credibilidade que levaria a um aumento do prêmio de risco e, consequentemente, a uma elevação ainda maior das taxas de juros. Em períodos de crise ou incerteza no cenário global, é recomendado que se adotem medidas contracionistas, como a redução do crédito e do investimento, uma vez que ambos influenciam diretamente a inflação.

Ademais, há uma preocupação com o incentivo ao endividamento excessivo dos trabalhadores. A facilidade de acesso ao crédito pode levar muitas pessoas a contraírem dívidas sem uma avaliação adequada de sua capacidade de pagamento a longo prazo. Em um cenário de crise econômica e, consequentemente, do aumento do desemprego, essa política pode resultar em um número expressivo de trabalhadores endividados sem condição de arcar com os compromissos financeiros assumidos, que pode afetar diretamente todo o sistema financeiro (em especial, os Bancos).

Portanto, embora o “Crédito do Trabalhador” tenha como objetivo oferecer condições mais favoráveis de financiamento para os trabalhadores, ele também apresenta riscos substanciais, tanto para os beneficiários quanto para a estabilidade macroeconômica. Qualquer implementação dessa política deve ser acompanhada de mecanismos que minimizem o endividamento irresponsável e os impactos negativos na economia.

(*) Pedro Minella é estudante de Economia do Ibmec e João Gabriel de Araujo Oliveira é professor Adjunto de Economia do Ibmec-DF

By emprezaz

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