Redação Planeta Amazônia
“Amazônia perdida”, é o que alerta o estudo de uma das revistas mais respeitadas do mundo: a devastação da Amazônia está se tornando irreversível. Dois estudos publicados nessa quinta-feira, 26, pela revista Science, reuniram trabalhos de 54 cientistas que fazem um alerta: a velocidade de destruição da Amazônia já pode ser irreversível.
A revista destaca que a ação do homem na Amazônia é centenas, talvez milhares de vezes mais rápida do que os fenômenos naturais climáticos. Que as transformações que poderiam levar milhões de anos, agora estão sendo vistas em poucas décadas. A floresta tem uma capacidade de recuperação que se renova a cada temporada de chuvas. Mas a devastação acelerada pela atividade humana já compromete esse processo.
Um dos autores do estudo, o pesquisador brasileiro do Instituto de Estudos Avançados da Universidade de São Paulo (IEA-USP), Carlos Nobre, explica que estamos muito próximos de um ponto sem volta. “Passando esse ponto, entre 30 e 50 anos, nós vamos perder entre 50 e 70% da floresta, que se tornará um ecossistema aberto, muito degradado com imensa perda da biodiversidade”, diz o pesquisador.
Isso significa que as matas antes densas e fechadas agora se tornarão campos extensos sem árvores. Assim, o desmatamento continua a ser o principal fator de destruição das florestas, mas o relatório aponta que outras formas de degradação, como incêndios, poluição e erosão do solo, já atingem 38% da floresta amazônica.
O professor da Universidade da cidade de Nova York, geólogo brasileiro Pedro Val que também assina um dos artigos, diz que o primeiro passo é o combate ao desmatamento. “Se você derruba florestas, você começa a impactar a quantidade de água que tem naquele sistema, de troca de energia, de calor. Aumenta a quantidade de chuvas e tempestades que afetam o solo. Isso causa erosão e perda de nutrientes o que prejudica a capacidade da própria floresta de usar estes nutrientes para se regenerar”, explica.
De acordo com o estudo, sem um ecossistema equilibrado, a floresta, ao invés de absorver gás carbônico, o principal causador do efeito estufa, vai passar a fazer o contrário, emitir e isso gera um problema não só para o Brasil, mas para o mundo. “A floresta armazena mais de 150 bilhões de toneladas de carbono, e vão se tornar mais de 200 bilhões de toneladas de gás carbônico emitidos para atmosfera tornando impossível atingir as metas do Acordo de Paris, de manter a temperatura abaixo de 1,5°C”, afirma o geólogo.
Os autores colocam que as consequências vão além da perda da biodiversidade: trazem problemas humanitários, como insegurança alimentar e migrações em massa e por isso, recomendam urgência nas ações para proteger a Amazônia.