Cassandra Castro
Nunca o mundo precisou tanto de união e ações coordenadas para combater e mitigar os impactos globais das ameaças climáticas. No Dia da Amazônia, comemorado nesta quinta-feira (5), a pergunta que muitos fazem é se há motivos para comemorar a data.
Mesmo em meio a iniciativas que objetivam promover o desenvolvimento sustentável e a bioeconomia, valorizando o saber ancestral de populações tradicionais e povos originários, o drama visto nos principais biomas brasileiros ( Pantanal, Cerrado e Amazônia) é a prova incontestável de que as ações realizadas pelo poder público e também pela sociedade, não têm sido suficientes para evitar catástrofes anunciadas.
Na região norte, além dos decretos de situação de emergência publicados, ações como suspensão de aulas, como no caso de Rio Branco, na rede municipal de ensino e, posteriormente, nas escolas também da rede estadual, somam-se a alertas das autoridades de saúde para que as pessoas, dentro do possível, evitem se expor à fumaça das queimadas e tomem medidas para evitar as consequências de respirar um ar tomado por substâncias tóxicas.
Outro desafio potencializado com o passar dos anos é o da seca severa que tem alterado a paisagem de vários estados da Amazônia Legal e trazido dificuldades para as populações locais, além de ameaçar a vida da fauna e flora.
Em entrevista concedida ao Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa/MCTI), o meteorologista Renato Senna, que também é coordenador de hidrologia do Programa de Grande Escala da Biosfera-Atmosfera (LBA/Inpa-MCTI), explicou sobre as causas e os prognósticos da seca severa no Amazonas. Para o pesquisador, 2024 vai caminhando para uma situação mais grave do que a registrada no mesmo período de 2023. “ O trimestre setembro, outubro e novembro se caracteriza pelo final da estação seca e transição para o início da estação chuvosa. Neste momento, os oceanos Atlântico e Pacífico, principais responsáveis pela determinação do comportamento das chuvas na região amazônica, se encontram mais próximos da neutralidade, ou seja, não indicam condições de melhora significativa nas chuvas”.
Em 2023, o Rio Negro atingiu 12,70 metros em 26 de outubro, em Manaus. O nível foi o menor já registrado desde que a medição começou no porto da capital amazonense, em 1902. No interior do estado, foram registradas cenas dramáticas como a morte de botos e a paralisação de atividades econômicas diretamente ligadas ao ciclo das águas, como o turismo.
As consequências de eventos extremos cada vez mais recorrentes, vai desenhando uma realidade muito cruel para os seres humanos, a fauna e a flora locais, destaca o meteorologista. “ As comunidades ribeirinhas, os povos nativos, a fauna e a flora são muito afetados, pois eventos de seca prolongada geram acúmulo de matéria seca junto ao solo da floresta, criando condições muito favoráveis aos eventos de incêndios e grandes queimadas, muitas vezes de origem criminosa. Em eventos de seca as populações tradicionais têm dificuldades em diversos aspectos sociais e econômicos, com a limitação de transporte, saúde, educação, insumos, mercadorias e até mesmo água potável.
Mas, será que em meio a tantas adversidades e desafios climáticos, algo foi aprendido e pode ser aplicado para mitigar os impactos sobre o meio ambiente e as pessoas? Na opinião de Renato Senna, é importante entender a nova realidade vivida no Brasil e na região amazônica. “ As secas e as cheias tornaram-se mais frequentes e intensas desde a virada do século XXI, estes eventos deverão se tornar parte da nossa nova realidade, e, portanto, devemos adaptar nossos estudos para essa nova realidade”.
Para Luciana Sonck, mestre em planejamento territorial e CEO da Tewá 225 – consultoria de impacto positivo que traz soluções para desafios socioambentais para empresas, organizações e governos, é essencial discutir medidas para mitigar essa crise e garantir a proteção do bioma Amazônia.
Segundo dados recentes do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE), em 2024 foram registrados até o fim de agosto, 53.620 focos de incêndio, um aumento de 80% em relação ao mesmo período do ano passado. As queimadas concentram-se majoritariamente nos estados do Pará (36%), Amazonas (29%) e Mato Grosso (16%).
A intensificação dos incêndios no início de setembro também provocou a formação de “rios voadores” que transportam a umidade da Amazônia para outras regiões, criando um imenso corredor de fumaça que alcançou capitais como São Paulo e se aproxima das regiões sul do país.
Luciana Sonck apresenta pontos que devem ser abordados pelas empresas, governos e organizações sociais para enfrentar os desafios climáticos atuais:
- Fortalecimento das leis ambientais e fiscalização: A implementação mais robusta do Código Florestal é crucial para lidar com o aumento das queimadas e prevenir futuros desastres;
- Planejamento territorial sustentável: É importante desenvolver planos nacionais de adaptação climática que considerem todas as esferas, incluindo os municípios, para garantir uma abordagem eficaz e integrada;
- Medidas efetivas de adaptação climática: A adoção de estratégias eficazes para a adaptação climática ajudará a mitigar os impactos das mudanças climáticas e a proteger a Amazônia a longo prazo.
“O Dia da Amazônia, nos recorda a importância de fortalecermos esse que é um dos maiores biomas do planeta e cada vez mais vemos os impactos das queimadas nas cidades amazônicas. Por isso, é essencial fortalecermos as leis ambientais e fiscalização, medidas de adaptação climática específicas para os municípios e práticas sustentáveis que garantam o valor da floresta amazônica de pé”, finaliza Luciana Sonck.