Nesta quarta-feira, 21 de setembro, é comemorado no Brasil o Dia da Árvore. No entanto, não há muito o que celebrar visto que, o desmatamento na Amazônia em agosto deste ano explodiu em relação ao mesmo mês do ano passado. Foram derrubados 1.661 km² de floresta, um aumento de 81% em relação aos dados de 2021. O valor é o segundo maior do histórico recente do bioma. A área desmatada é comparável ao tamanho da cidade de São Paulo.
Os dados são referentes ao Deter, programa do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) que tem como objetivo auxiliar trabalhos de fiscalização ambiental através de avisos de desmatamento. O projeto teve início em 2004 e em 2015 houve um melhoramento dos sensores de detecção de desmatamento. Por esse motivo, o histórico recente do Deter tem início em agosto de 2015. Os três estados que concentraram desmatamento no mês passado foram Pará, Mato Grosso e o Amazonas.
Os municípios que mais desmataram em agosto foram: São Félix do Xingu, no Pará, com mais de 92 km² derrubados; Altamira, também no Pará, com quase 89 km² de desmate; e Apuí, no Amazonas, com 66 km² de floresta no chão. Uma investigação de 2021 do Greenpeace apontou que João Cleber (MDB), prefeito de São Félix do Xingu, no Pará, tem desmatado, pelo menos desde 2008, áreas de sua fazenda Bom Jardim. A propriedade fica em uma floresta pública não destinada na Amazônia e não tinha autorização para desmate. Esses fatores indicam ilegalidade no processo e grilagem -como é conhecida a ocupação ilegal de terras.
Além disso, em janeiro deste ano, houve o assassinato do ambientalista José Gomes, o Zé do Lago, junto com sua esposa e a enteada, em São Félix. A família morava dentro de área reivindicada pelo irmão de João Cleber, prefeito da cidade. São Félix do Xingu é a segunda cidade que mais emite gases-estufa no Brasil. Isso ocorre pela grande concentração de gado (que, em seu processo de digestão, produz metano, um potente gás-estufa) e pelo desmate constante na região. O primeiro lugar, atualmente, é ocupado por AltamiraNão foi só o desmatamento que teve um crescimento considerável no mês passado. As queimadas também deixaram sua marca. A Amazônia teve o mês de agosto com mais queimadas desde 2010. Nos 31 dias do mês foram registrados 33.116 focos de queimadas, o que representa um aumento de 18% em relação a agosto de 2021, apontam dados do Inpe.
Desmatamento e queimadas andam praticamente juntos. Os desmatadores (em geral, grileiros e produtores rurais) derrubam a mata, deixam que ela seque no solo e, durante o período seco no bioma (que está ocorrendo agora), usam fogo para “limpar” a área.
A situação de fogo em setembro já se mostra mais crítica do que foi no ano passado, segundo dados do Inpe. Os dados são atualizados diariamente e, em oito dias, apontam mais de 20 mil focos de queimadas, um valor que já é superior a todo o mês de setembro de 2019 e de 2021, considerando somente o período do governo atual.
“Bolsonaro pode sair do governo, mas deixa de herança para seu sucessor uma crise ambiental na Amazônia como não se via desde os anos 1990 e uma crise social sem precedentes. O crime organizado dominou a região, e a liberação de armas para civis torna muito mais perigosa a tarefa de retomar a fiscalização e o controle do desmatamento”, afirma, em nota, Marcio Astrini, secretário-executivo do Observatório do Clima, rede que reúne dezenas de entidades socioambientais.
“Os dados mais recentes de desmatamento e queimadas na Amazônia infelizmente confirmam que teremos um ano com recordes trágicos para o bioma”, diz, em nota, Mariana Napolitano, gerente de ciências do WWF-Brasil. “As pesquisas já mostram que, em algumas regiões amazônicas, a estação seca aumentou em mais de um mês. Temos também temperaturas mais elevadas e menor volume de chuvas.”
Cristiane Mazzetti, porta-voz de Amazônia do Greenpeace Brasil diz, em nota, que “a destruição ambiental nos últimos anos ganhou velocidade e escala já que as porteiras foram escancaradas por um governo que abraça e incentiva o crime ambiental através de suas ações e omissões, não se sabe o dia de amanhã e é melhor garantir enquanto a porteira está aberta”.
Astrini ainda diz que recuperar o controle do desmatamento demanda planos concretos. “Mas até agora os candidatos à sucessão de Bolsonaro têm falado muito pouco sobre como pretendem retomar o controle da região”, afirma o secretário-executivo do Observatório do Clima. (PHILLIPPE WATANABE/Folhapress)