Alejandro Fonseca Duarte – Doutor em Física-matemática, professor da Universidade Federal do Acre
El Niño-Southern Oscillation é um fenômeno climático de interesse planetário que junta, na sua sigla ENOS, palavras de origens espanhola e inglesa. A Terra é uma só, embora dividida em mares e terra. O clima da Terra também é um só, embora dividido em zonas climáticas e subsistemas (atmosfera, biosfera, hidrosfera, criosfera, litosfera). O aquecimento global vem mostrando essa unidade, chamada de clima global, colocado em risco pela emissão excessiva de gases de efeito estufa. Não haveria Terra, tal qual é, sem seu clima. Nós somos terráqueos da biodiversidade sustentada pela energia solar, somos cósmicos do sistema solar, da Via Láctea, do espaço e do tempo. Todas essas dimensões dão seu aporte instantâneo, de curto prazo, de longo prazo e de longíssimo prazo ao clima da Terra, caracterizado pelas suas variabilidades e mudanças naturais.
El Niño-Oscilação Sul (ENOS) é um padrão climático recorrente envolvendo mudanças na temperatura das águas no Oceano Pacífico tropical. Em períodos de anos, não regularmente estabelecidos, as águas superficiais naquelas áreas próximas ao Peru manifestam temperaturas acima daquelas próximas à Nova Guiné, isto define o fenômeno El Niño; ou alternativamente, as águas próximas ao Peru manifestam temperaturas abaixo daquelas próximas à Nova Guiné, isto define o fenômeno La Niña. Quando não acontece nem uma, nem a outra situação, quer dizer, a temperatura se mantém nos valores médios, então isso define o fenômeno chamado El Niño Neutro. Esses três padrões dinâmicos de Temperatura da Superfície do Mar (TSM) definem El Niño-Oscilação Sul (ENOS), sendo duas as fases extremas.
Esse comportamento aparentemente simples de aquecimento e resfriamento tem associações com chuvas, secas, circulação dos ventos, pressão atmosférica e demais variáveis meteorológicas em toda a Terra. Mas não há suficientes conhecimentos que relacionem, espacial e temporalmente, o fenômeno ENOS aos efeitos globais observados de forma unívoca. Isso não se deve à falta de monitoramento e investigação, mas à complexidade do sistema Clima da Terra, que não obedece ao determinismo fundamentado em causa e efeito. As observações, fora daquelas feitas pelas populações tradicionais de maneira local, têm descrição, na América do Sul, a partir do chamado descobrimento, em torno de 1500, século XVI. A ciência paleoclimática reúne informações, sobre incidência do fenômeno, datadas de milhões de anos.
Na segunda metade do século XX foi descoberta a conexão oceano-atmosfera definida pelo ENOS; seguidamente, o projeto estadunidense Sistema de Boias Oceano-Atmosfera Tropical instalou uma rede de monitoramento das condições meteorológicas e marítimas mediante instrumentações flutuantes fixadas em pontos entre as costas do Peru e da Nova Guiné e em embarcações que navegam pela região. A este sistema de monitoramento se juntou um sistema de comunicação via satélites da Administração Oceânica e Atmosférica dos EEUU (NOAA).
Aquecimento e resfriamento maiores ou menores, definem a intensidade do fenômeno, numa escala que qualifica as fases extremas como Fraco, Moderado, Forte e Muito Forte. A previsão do ENOS acontece muitos meses antes de suas manifestações serem perceptíveis mesmo assim é um dos fenômenos climáticos mais desafiadores, ainda mais nestes tempos de mudanças climáticas.
Possivelmente o monitoramento de variáveis relacionadas ao clima da Terra (em todos os seus subsistemas componentes) seja o de maior acúmulo de dados e informações e de aplicações desses dados e informações para benefício de todos os setores da sociedade. Compete à Organização Meteorológica Mundial (OMM), órgão das Nações Unidas, a responsabilidade de acompanhar, junto a pesquisadores, instituições e governos, o andamento do monitoramento e resultado de pesquisas sobre o ritmo do tempo e do clima, mediante dados obtidos em todas as áreas do planeta para contribuição à preservação ambiental.
Ahhh, aquele aprendizado! Matéria é tudo que existe, energia é uma forma da matéria; o balanço energético da Terra (relação entre a energia que procedente do Sol atravessa a atmosfera e, por outro lado, a energia que abandona a Terra através da atmosfera) é “uma corda bamba onde o equilibrista sofre de infinitas perturbações”. Entre as perturbações estão o desmatamento e as queimadas nas florestas tropicais, consequentemente a emissão de gases de efeito estufa, dai se dificulta a passagem de energia de volta da Terra para o espaço, há perda do balanço (equilíbrio) térmico, a temperatura média da Terra aumenta, como vem acontecendo desde a Revolução Industrial, resulta o aquecimento global; cujas consequências são atualmente sentidas na forma de eventos extremos de chuvas, secas, temperaturas (mais altas ou mais baixas) em qualquer lugar. O equilibrista não é só o clima da Terra, com ele “cairão” pequenas ilhas, comunidades originárias, habitantes de países pobres e populações em situação de risco; se fará cada vez mais comum o termo, refugiados ambientais.