Em meio ao pesadelo das queimadas, projeto da UEA é aliado na conscientização sobre a qualidade do ar na Amazônia

Cassandra Castro

O ano de 2024 entra para a história brasileira como um período marcado por tragédias ambientais sem precedentes. Em abril, as enchentes atingiram o Rio Grande do Sul, devastando vários municípios e em agosto, o Brasil testemunhou um agravamento nas ocorrências de queimadas que, somadas a outros fatores climáticos e também à ação humana, destroem enormes áreas e biomas importantes, como a Amazônia, o Cerrado e o Pantanal.

Segundo dados do Programa Queimadas, do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), o Brasil iniciou o mês de setembro com mais de 154 mil focos de calor registrados este ano, sendo que a maior frente de fogo está na Amazônia.

Como se não bastassem as perdas significativas ocasionadas pelo fogo, outro drama passou a fazer parte da rotina do brasileiro: o desafio de respirar em meio à fumaça, algo que não está mais concentrado em uma região específica, mas que tomou conta de praticamente todo o Brasil. Um cenário que é desafiador para todos, desde a sociedade até as esferas do poder, organizações da sociedade civil e também a comunidade científica.

Educação para transformar

Um projeto de extensão do curso de graduação em meteorologia da Universidade do Estado do Amazonas chamado Educair que tem como foco principal educar os alunos da rede pública de ensino da Região Metropolitana de Manaus sobre a importância da conservação da floresta e  do ar limpo, acabou virando um grande aliado do meio ambiente. Para atrair a atenção desse público alvo, o projeto apostou na tecnologia e desenvolveu o Sistema Eletrônico de Vigilância Ambiental (SELVA).

Segundo o professor da UEA, Rodrigo Souza, o SELVA originalmente surgiu como uma ferramenta de trabalho dentro do projeto maior, o Educair , mas acabou ganhando visibilidade e amplitude. “ O Selva não foi algo concebido originalmente para ser o que se tornou hoje, uma ferramenta de utilidade pública para informação da população em geral”, relata. O que surgiu como um projeto de cooperação entre a UEA, a Fundação Universitas de Estudos Amazônicos e a Fundação francesa Cuomo, ganhou corpo e novas parcerias como fundações do terceiro setor, secretarias de estado e órgãos como o Instituto de Proteção Ambiental do Amazonas (Ipaam), Defesa Civil e o Ministério Público. Rodrigo Souza também afirma que a rede de monitoramento do SELVA é uma rede solidária. “ Nada impede que o setor privado também se interesse por este tipo de iniciativa socioambiental e entre neste desafio com a gente”.

Além de dar informações a respeito da qualidade do ar em locais monitorados, a iniciativa também alcançou outros méritos, como o de incluir o assunto qualidade do ar na pauta do dia, um tema importante que era negligenciado. “ A gente espera que mais pessoas façam uso da plataforma para que elas possam se prevenir, se expondo menos aos ambientes poluídos”, destaca o professor.

Instalação de sensores no Careiro da Várzea, na região metropolitana de Manaus//foto: Rodrigo Souza

Rodrigo Souza também fala sobre os desdobramentos dos fenômenos climáticos no Brasil. “ Eventuais queimadas que acontecerem na região amazônica vão impactar na qualidade do ar que respiramos. Os ventos transportam fumaça das regiões que queimam para a Região Metropolitana de Manaus. Isso vai se repetir provavelmente ao longo de setembro e outubro”. 

Ele enfatiza o papel fundamental da prevenção e de ações que ajudem a minimizar os impactos. “ É importante ter campanhas educativas sistemáticas e contínuas que devem entrar no calendário das escolas com relação às realidades locais em tempo de mudanças climáticas e eventos extremos”. Outro ponto importante é a ação articulada também entre as diversas esferas do poder público ( municipal, estadual e federal), além da contribuição da população. “Esse fogo todo é predominantemente antrópico ( por ação do homem), como universidade temos um papel importante na questão da educação ambiental e formação de recursos humanos. É necessário que se mude a cultura do fogo na nossa região”, afirma.

Informação como aliada

Mesmo com um time considerado pequeno, a equipe do projeto Educair e ferramenta SELVA conta com colaboradores de outras universidades que mandam sugestões e interagem com o trabalho realizado. O grupo sempre está envolvido em discussões técnicas, científicas e em trabalho de campo.

Para as pessoas interessadas em acompanhar o projeto e também ter acesso aos alertas sobre a qualidade do ar na região, existem três opções: o portal do projeto Educair, o portal eletrônico da plataforma SELVA e também os aplicativos do app SELVA nas plataformas android e IOS para celular. Para quem baixa o aplicativo SELVA, ainda há a opção da pessoa realizar um cadastro no qual é solicitado o nome do interessado e email e, com isso, ela pode escolher como quer receber os alertas e de quais cidades. O SELVA cobre a América do Sul e todos os 62 municípios do Amazonas.

By emprezaz

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