Encontro de empreendedores da região Norte leva biodiversidade da floresta a São Paulo

Redação Planeta Amazônia

Os negócios que costumam movimentar o bairro de Pinheiros, na capital paulista, tiveram um sabor, aroma e até cores e visual bem diferentes de tudo o que os empresários da região estão acostumados.

Em uma iniciativa inédita, a Azul Linhas Aéreas trouxe para São Paulo 20 empreendedores da região Norte e suas produções locais para um encontro de dois dias com empreendedores da metrópole interessados em investir e promover a sociobioeconomia da floresta Amazônica.

Em parceria com o CIVI-CO Hub de Impacto socioambiental e a Associação Coletivo Pinheiros, além do apoio da Assobio (Associação dos Negócios da Sociobioeconomia da Amazônia), o evento – que foi dividido em feira de produtos e painel de debates — fomentou vendas de produtos típicos, troca de contatos e experiências e muitas discussões com especialistas, na sede da CIVI-CO, no bairro de Pinheiros (SP).

Jonhy Brito produz e comercializa farinha de mandioca de uma produção familiar/foto: Guilherme Ramos

No primeiro dia, duas dezenas de marcas dos mais variados produtos desenvolvidos com matérias-primas da Amazônia puderam ser conhecidos, adquiridos e degustados pelos visitantes e convidados, representantes do empresariado paulistano. Entre os itens expostos, estavam desde bolsas, colares, cremes hidratantes e sabonetes a bebidas, geleias exóticas, farinhas, chocolates e sorvetes. Tudo resultado da ousadia, do espírito empreendedor e do investimento de microempresários da região com os mais diferentes perfis: profissionais liberais que decidiram empreender; pesquisadores, estudiosos e curiosos que decidiram pesquisar as propriedades e benefícios da natureza e criar produtos inéditos e aprovados; e ainda os produtores natos, que mantêm a produção artesanal como herança familiar e que desejam ampliar seu negócio. 

O segundo dia do encontro foi marcado pelo painel Desafios e Oportunidades da Sociobioeconomia: conectar para concretizar, que contou com a presença de mais de 80 participantes no Auditório do CIVI-CO. O debate reuniu empreendedores paulistanos, lideranças de empresas e associados de negócios com atuação na Amazônia para discutir e encontrar soluções coletivas para promover a sociobioeconomia na região Norte do país.

Para a diretora executiva do CIVI-CO, Ana Luiza Prudente, que participou do painel, essa reflexão e iniciativas como essa são essenciais e urgentes. “Acreditamos em um capitalismo consciente e regenerativo, com um modelo que prioriza o lucro com propósito. A economia precisa ser benéfica para todos os envolvidos na cadeia produtiva. Fomentar a sociobioeconomia da Floresta Amazônica também é apoiar esta economia inclusiva e circular que irá impactar positivamente os negócios de todas as regiões do Brasil”.

Movimento ARA – Todas as Amazônias sob o mesmo Céu

Esse encontro com empreendedores pode se tornar anual ou mesmo atrair a parceria de outros bairros e cidades pelo país e faz parte das ações promovidas desde o ano passado pelo Movimento ARA – Todas as Amazônias sob o Mesmo Céu Azul – criado pela Azul e parte do seu plano estratégico de ESG. O objetivo da companhia é incentivar e manter projetos e ações, como essa, que estimulem os negócios de microempresários e promovam, com responsabilidade social e ambiental, a sociobioeconomia na região.

Aproveitando a presença da Azul Cargo Express, a unidade logística da Azul, em 5 mil municípios do país (ou 96% do território nacional), a Azul tem levado produtos amazônicos para os principais centros comerciais do Brasil – com tarifas menores, a preço de custo. Já foram transportadas mais de 24 toneladas de itens de diversos segmentos, incluindo produtos que nem chegariam ao cliente final, se não fosse pelo transporte aéreo.

Para Filipe Alvarez, o objetivo agora é não parar por aqui e expandir a missão da Azul de conectar pessoas e promover o desenvolvimento do país por meio dessa conexão. Segundo ele, os planos de ESG na companhia começam pelo S, de Social, portanto, iniciativas como esse encontro de empreendedores da Amazônia e paulistanos são muito importantes. “Queremos continuar pensando e promovendo iniciativas que estimulam o conhecimento sobre a diversidade e riqueza de todas as regiões do país e que, assim, fomentem os contatos e as relações de negócios com todos os perfis de empreendedores”, conclui.

Depoimentos de alguns empreendedores da região Norte

“Meu lema é levar meus produtos de Uarini, que fica a 573 km de Manaus, para o mundo. Levar o hábito do consumo de farinha nas refeições e até nos preparos de outros pratos, como brigadeiro e arroz marroquino, por exemplo, para outras regiões do país. É um prazer mostrar nosso conhecimento, que vem de gerações e de um município tão distante, em um evento como esse”.

Jonhy Brito, produtor e proprietário da Uarini Grãos dourados, marca que comercializa farinha de mandioca de uma produção familiar. São três tipos de tamanhos de grão e, além da versão tradicional, já há farinhas temperadas com alho, cebola, pirarucu, castanha e até cúrcuma. Jonhy se orgulha de ter ficado conhecido, quando o chef francês Claude Troigros usou um de seus produtos em um programa de TV. E depois visitou a loja e tornou-se cliente.

“Fazemos a produção em Belém, com manipulação das frutas da Amazônia e vindas da agricultura familiar, sem a adição de saborizantes, e enviamos para todo o país. Por isso, contar com uma logística segura e confiável é fundamental. Como é uma mercadoria perecível, precisa ser transportada de forma correta e ágil, para chegar mantendo a qualidade. Eventos assim, além dos contatos, é uma forma de levar conhecimento sobre a importância de se manter a floresta em pé, inclusive, para os negócios. O bacurizeiro, por exemplo, é uma árvore que precisa estar preservada, porque precisamos esperar o fruto cair para aproveitar o melhor da polpa”, conta.

Lorena e Bernardo Pinheiro, casal que produz sorvetes Blaus (de bacuri, taperebá, uchi, bacaba, açaí, entre outras) em Belém do Pará há 32 anos, e que já tem uma loja em Santo Amaro, em São Paulo, e usa a Azul Cargo para fazer chegar seus produtos também há 11 pontos (restaurantes, sorveterias, etc…) pelo país.

“Sabemos que há uma biodiversidade de frutas e ervas nativas na Amazônia ainda pouco conhecidas cientificamente e comercialmente, então a gente traz produtos que ofereçam essa comprovação científica e ofereçam aos clientes a potencialidade e a funcionalidade dessas espécies. Assim, além de ganhar visibilidade, abrimos mercado para os pequenos produtores. A parceria com a Azul foi importante, porque pelo site da Deveras conseguimos reduzir o frete para a entrega dos produtos para todo o país e, especialmente, sul e sudeste, onde estão nossos principais clientes. Também estamos conseguindo chegar, com melhores custos, em mercados pequenos na própria região da Amazônia.

Valéria Mourão é uma das proprietárias de empresa que alia o conhecimento científico ao conhecimento tradicional das comunidades locais/foto: Guilherme Ramos

Valéria Mourão, pesquisadora pós-doutora da Universidade Federal do Oeste do Pará (UFOPA), e uma das proprietárias da Deveras Amazônia, marca com seis anos no mercado, 25 tipos de produtos no mercado (geleias, compotas, desidratados e licores) e situada em Santarém, a oeste do Pará. A marca foi fundada por ela, por uma professora da UFOPA e um doutor em Ecologia e surgiu da necessidade de conectar o conhecimento científico com o conhecimento tradicional das comunidades locais sobre as diversas frutas e ervas nativas, como a vitória-régia.

By emprezaz

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Postagens relacionadas