Redação Planeta Amazônia
Que tal usar a dança para falar sobre ciência? O desafio foi lançado pela revista Science, uma das mais importantes revistas científicas do mundo no concurso “Dance Sua Tese (Dance Your Ph., em inglês) para cientistas de todo o mundo, e um dos vencedores é um brasileiro. O engenheiro florestal Israel Sampaio, de 33 anos, foi um os ganhadores do concurso que teve a inscrição de pesquisadores de 12 países e 28 performances em quatro categorias: Ciências Sociais, Biologia, Química e Física.
O baiano fez mestrado no Programa Clima e Ambiente (PPG-Cliamb/ Inpa-UEA) e está concluindo o doutorado em Ciência de Florestas Tropicais (PPG-CFT) do Inpa, instituto com sede em Manaus e referência mundial nos estudos de biologia tropical. Sampaio estuda como a biossíntese de ácido abscísico (ABA), um hormônio regulador de estresse das plantas, pode influenciar na resposta das árvores ao aumento de temperatura e à seca.
Israel contou sobre sua pesquisa, numa dança contagiante embalada por forró, samba de gafieira e carimbó tendo como cenário um laboratório a céu aberto, a Base de Manejo Florestal do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia ( Inpa/MCTI).
O vídeo de Sampaio foi o mais visto no Twitter do concurso, com mais de 15 mil visualizações, até o anúncio dos vencedores no dia 13 de março. No canal do Youtube de Israel Sampaio o vídeo dele já está com 9,2 mil visualizações.
Segundo Sampaio, um dos primeiros processos fisiológicos da árvore em resposta ao aumento da temperatura e condições de seca, ou seja, condições de estresse, é a produção do hormônio proveniente de plantas, o fito-hormônio ácido abscísico. Um processo parecido ocorre com os seres humanos em situação de estresse, que passa a produzir mais cortisol, um hormônio que possui os mesmos elementos químicos do ácido abscísico.
O ácido abscísico atua no fechamento dos estômatos e induz a uma série de sinalizações químicas de defesa das árvores. Os estômatos são células presentes nas folhas das árvores responsáveis pelas trocas gasosas com a atmosfera (vapor d’água, oxigênio e compostos orgânicos volatéis), e com isso o ácido abscísico consegue regular a perda de água das árvores quando elas estão sob estresse hídrico e quando a temperatura é muito elevada.
“Eu me sinto lisonjeado com o resultado. Este é um projeto que foi idealizado e abraçado por muitos amigos e pesquisadores, envolvendo várias referências da vida. Nossa ideia foi levar a ciência para a sociedade de forma divertida, envolvendo a arte, a dança e a música”, revela Sampaio.
Desafios
Participar do concurso da Science foi um desafio abraçado por mais de 40 pesquisadores e bolsistas de iniciação científica, mestrado, doutorado e pós-doutorado ligados ao Laboratório Manejo Florestal (LMF/Inpa) e ao Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia – INCT Madeiras da Amazônia do Inpa, além de egressos do Inpa e de outras instituições. Sampaio ainda contou com a participação da sua parceira de dança a dois a Rozane Mesquita (professora de História) e sua amiga violinista Dani Colares (professora de Música e Inglês). O doutorando e seus apoiadores levaram quase um ano para transformar a ideia em produto.
Tímido com as palavras, Sampaio se soltou com os ritmos pelos quais é apaixonado. O estudante cantou, dançou carimbó, forró e samba de gafieira para tratar de um tema complexo de forma leve, divertida e em linguagem compreensível a todos. Na produção do vídeo, ele atuou em tudo: direção, arte, cenografia e edição. “Foram três dias de filmagem e um mês editando. Sentei ao lado do filmmaker e ajudei a montar o vídeo do jeito que eu idealizei”, lembra Sampaio.
A música Canção foliar da Amazônia, trilha sonora do videoclipe, é emocionante e transmite de forma poética a ciência envolvida na Tese de doutorado de Sampaio. A composição da música foi um grande feito de um grupo de amigos músicos e cientistas pelo qual Sampaio tem uma grande admiração no cenário musical de Manaus.
Apoio
A produção do vídeo contou com o apoio do LMF e INCT-Madeiras da Amazônia do Inpa, pesquisas que recebem financiamento da CNPq, Capes e Fapeam, e do Grupo de Pesquisa Química Aplicada à Tecnologia GP-QUAT da Universidade do Estado do Amazonas (GP-QUAT/UEA), liderado por Sérgio Duvoisin.