Redação Planeta Amazônia
Mais de 1,8 milhão de pessoas são afetadas anualmente por eventos climáticos extremos na Amazônia brasileira, segundo estudo publicado nesta quinta-feira, 13, na revista Nature Communications. Os dados apontam que povos indígenas e comunidades tradicionais representam 75% da população atingida pelos impactos das mudanças climáticas.
A pesquisa é uma das primeiras a analisar perdas e danos no bioma amazônico sob uma perspectiva integrada, destacando os efeitos sociais e econômicos dos desastres climáticos. Segundo o levantamento, os prejuízos na região somam mais de 650 milhões de dólares por ano, chegando a 5,7 bilhões de dólares entre 2000 e 2022. Os municípios com menos de 50 mil habitantes — onde se concentram grande parte das populações indígenas — são os mais vulneráveis.
“As mudanças climáticas estão multiplicando a pobreza na Amazônia. Nossos dados mostram que os municípios menores estão perdendo quase 10% do crescimento econômico por causa de desastres climáticos”, afirma Patrícia Pinho, diretora adjunta de pesquisa do IPAM e uma das autoras do estudo. Para ela, o cenário revela “uma crise silenciosa e desigual que exige respostas urgentes baseadas em justiça”.
Segundo a pesquisa, as perdas econômicas causadas por extremos climáticos cresceram 370% entre 2000 e 2022. Setores como agricultura, pecuária, infraestrutura e saúde estão entre os mais afetados. No período analisado, foram registrados 4.792 desastres na região, com aumento de dez vezes na ocorrência de queimadas, cinco vezes nas inundações e três vezes nas secas e ondas de calor.
Os autores alertam que a variabilidade climática também ameaça a segurança alimentar e nutricional, especialmente porque os impactos na agricultura tendem a ser subestimados. Além dos danos materiais, o estudo inclui as chamadas perdas residuais, que envolvem bem-estar, território e vínculos culturais.

Para Patrícia Pinho, a intensificação dos desastres compromete o futuro de crianças e jovens, gera migração forçada e amplia o risco de erosão cultural. “As pessoas estão perdendo a capacidade de se adaptar”, pontua.
O estudo destaca que reconhecer desigualdades não é suficiente: é preciso adotar políticas de justiça distributiva e oferecer apoio social e tecnológico às populações afetadas. Entre as recomendações, está a criação de um fundo específico de perdas e danos para a Amazônia, inspirado no mecanismo global aprovado na COP27.
Segundo a autora, um fundo regional permitiria respostas mais rápidas e eficazes aos impactos climáticos. “Se a Amazônia está nos olhos do mundo, devemos direcionar apoio não apenas para a floresta e a biodiversidade, mas para a vida das pessoas também”, conclui.

