Na Amazônia, um estudo publicado hoje mostra que a terra indígena Apyterewa, no Pará, foi a mais pressionada pelo desmatamento no segundo trimestre deste ano, entre abril e junho.
Chamada de “Ameaça e Pressão de Desmatamento em Áreas Protegidas”, a pesquisa é publicada trimestralmente pelo Instituto do Homem e Meio Ambiente da Amazônia (Imazon). Nesta última edição, o levantamento mostrou que a Apyterewa também foi o quatro território no ranking de todos os tipos de áreas protegidas da Amazônia que mais sofreu com a pressão do desmatamento, atrás apenas das APAs Triunfo do Xingu e do Tapajós, no Pará, e da Resex Chico Mendes, no Acre.
Áreas protegidas mais pressionadas1ª – APA Triunfo do Xingu (PA)2ª – APA do Tapajós (PA)3ª – Resex Chico Mendes (AC)4ª – TI Apyterewa (PA)5ª – Flona do Jamanxim (PA)6ª – Resex Jaci Paraná (RO)7ª – Esec da Terra do Meio (PA)8ª – PES de Guajará-Mirim (RO)9ª – Resex Guariba-Roosevelt (MT)10ª – TI Cachoeira Seca do Iriri (PA)
Localizada no município de São Félix do Xingu, a Apyterewa já havia sido a terra indígena mais desmatada na Amazônia em 2021, o que apontava a necessidade urgente de ações de proteção ao território. Neste ano, em maio, novas invasões de grileiros foram registradas no local, onde reside o povo Parakanã. Conforme a Polícia Federal, os invasores inclusive haviam deixado rebanhos bovinos sobre a terra indígena.
“Somente no mês de junho, a TI Apyterewa concentrou 52% de todo o desmatamento ocorrido nas terras indígenas da Amazônia. Foram 14 km², o que corresponde a 1.400 campos de futebol”, explica Larissa Amorim, pesquisadora do Imazon.
Pará tem metade das 10 terras indígenas mais pressionadas
Além do território do povo Parakanã, outras quatro terras indígenas localizadas no Pará figuraram no ranking das mais pressionadas pelo desmatamento na Amazônia entre abril e junho. A Cachoeira Seca do Iriri, do povo Arara, foi a segunda colocada. A maior parte de sua área está localizada no município de Altamira, vizinho de São Félix do Xingu.
Em quarto ficou o território Kayapó, dos povos Mebêngôkre Kayapó, Mebêngôkre Kayapó Gorotire, Mebêngôkre Kayapó Kôkraimôrô, Mebêngôkre Kayapó Kuben Kran Krên e isolados do Rio Fresco. Essa terra indígena também tem a maior parte de sua área em São Félix do Xingu. No mesmo município, ao lado da Apyterewa, fica a terra indígena Trincheira/Bacajá, que ocupa a quinta posição no ranking das mais ameaçadas. Lá, residem os povos Mebêngôkre Kayapó, Mebêngôkre Kayapó Kararaô e Xikrin (Mebengôkre).
“Altamira e São Félix do Xingu, na maioria dos meses, estão entre os 10 municípios com maior destaque negativo em relação ao desmatamento da Amazônia Legal. Isso infelizmente acaba refletindo nas áreas protegidas que estão presentes em seus territórios”, relata Larissa Amorim, pesquisadora do Imazon.
Já na divisa do Pará com o Amazonas e com Mato Grosso, nos municípios de Jacareacanga e Itaituba, fica a última terra indígena paraense a figurar no ranking das 10 mais pressionadas, a Mundurucu. Ela ocupa a nona posição e é habitada pelos povos Apiaká, Isolados do Alto Tapajós e Munduruku.
“Os estados do Pará, Mato Grosso e, mais recentemente, o Amazonas, constantemente ocupam as primeiras colocações dos rankings de desmatamento na Amazônia. A divisa entre os três estados é um ponto crítico quando falamos de destruição da floresta, inclusive dentro de áreas de proteção ambiental já demarcadas como a Terra Indígena Mundurucu”, relata Bianca Santos, pesquisadora do Imazon.
Terras indígenas mais pressionadas1ª – TI Apyterewa (PA)2ª – TI Cachoeira Seca do Iriri (PA)3ª – TI Karipuna (RO)4ª – TI Kayapó (PA)5ª – TI Trincheira/Bacajá (PA)6ª – TI Alto Rio Negro (AM)7ª – TI Yanomami (AM/RR)8ª – TI Aripuanã (MT)9ª – TI Mundurucu (PA)10ª – TI Sepoti (AM)
Apesar do aumento da pressão, terras indígenas são as áreas mais protegidas
Mesmo muito pressionadas pelo avanço do desmatamento em seus territórios, que triplicou nos últimos 10 anos, as terras indígenas ainda são as áreas mais protegidas da Amazônia. Em 2021, conforme dados do Imazon, apenas 2,5% da devastação ocorreu nos territórios indígenas. Isso mostra que, além de garantir um direito constitucional aos povos originários, demarcar novas áreas indígenas é uma ação efetiva de combate ao desmatamento.
Metodologia contabiliza ocorrências de desmatamento
Com uma metodologia que olha o número de ocorrências de desmatamento, e não a área total desmatada, a pesquisa serve para alertar os órgãos públicos sobre quais são os mais pressionados e ameaçados pela devastação. E, consequentemente, os que podem ter as maiores áreas destruídas caso ações não sejam tomadas. O estudo classifica como pressão as ocorrências de derrubada da floresta que acontecem dentro das áreas protegidas e como ameaça as registradas ao redor, a uma distância de até 10 km.
Em relação às áreas protegidas mais ameaçadas, o Parna Mapinguari, que fica na divisa entre o Amazonas e Rondônia, liderou o ranking entre abril e junho. E o território Uru-Eu-Wau-Wau, que também fica em solo rondoniense, foi a única terra indígena a aparecer no ranking que leva em conta as ocorrências de desmatamento ao redor das áreas.
Áreas protegidas mais ameaçadas1ª – Parna Mapinguari (AM/RO)2ª – Resex Chico Mendes (AC)3ª – Flona do Iquiri (AM)4ª – Flona do Aripuanã (AM)5ª – APA do Tapajós (PA)6ª – Parna dos Campos Amazônicos (AM/MT/RO)7ª – Flona do Tapajós (PA)8ª – Flona de Balata-Tufari (AM)9ª – Flona do Jatuarana (AM)10ª – TI Uru-Eu-Wau-Wau (RO).
Fonte: Imazon