Expedição científica no Amazonas reúne pesquisadores de todo o Brasil e pode revelar espécies inéditas na região

Redação Planeta Amazônia

A primeira expedição científica do projeto “Tsiino Hiiwiida: revelando múltiplas dimensões da biodiversidade de plantas e fungos no Alto Rio Negro”, realizada no município de São Gabriel da Cachoeira (AM), resultou na coleta de cerca de mil amostras e na identificação de possíveis novas espécies da flora amazônica.

Vinculado à iniciativa Amazônia +10 e com coordenadoria geral do pesquisador do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa/MCTI), Charles Eugene Zartman, a expedição aconteceu em 16 dias e contou com três acampamentos, divididos em dois grupos de  pesquisadores,  bolsistas indígenas, além de parceiros da 2ª Brigada de Infantaria de Selva do Exército Brasileiro no município de São Gabriel da Cachoeira.

foto: Divulgação Projeto Tsiino Hiiwiida

Desafios e descobertas

Após a definição dos locais de coleta, da logística e do protocolo de segurança com a oficina da expedição, os pesquisadores se dividiram para cobrir diferentes áreas que alcançam até 600 metros de altura, na região cercada pela rica diversidade biológica.

O primeiro grupo de coletas seguiu para a comunidade indígena Itacoatiara Mirim, na BR-307 e na localidade conhecida como Ilha do Açaí. “O objetivo principal desse grupo terrestre liderado pelo Prof. Dr. Clístenes Williams Araújo do Nascimento (UFRPE) foi investigar plantas acumuladoras de metais pesados e outros elementos incomuns”, comentou o coordenador geral do projeto de pesquisa. 

O segundo grupo foi em direção à Serra do Curicuriari, conhecida popularmente como Serra da Bela Adormecida. “Esse grupo foi composto por oito membros, e teve o apoio de três bolsistas  da comunidade indígena São Jorge que passaram um total de oito dias em dois acampamentos, ambos nas cabeceiras do igarapé Arabo. A equipe acampou em dois locais diferentes para ampliar o número de localidades amostradas, podendo gerar uma maior diversidade de plantas catalogadas”, detalhou o pesquisador do Inpa.

De acordo com Zartman, foram realizadas coletas em florestas de terra firme, baixios, campinaranas, áreas de afloramentos rochosos e vegetações ripárias. Com o período de permanência foram coletadas cerca de mil amostras de fungos, líquens, e plantas, dentre elas: briófitas, pteridófitas, gimnospermas e angiospermas, nas formas de vida terrícola, epífita e saprófita.

“As coletas, que estão atualmente na fase de secagem, triagem (herborização) e identificação já apresentam algumas possíveis espécies novas como, por exemplo, uma espécie de árvore emergente com parentesco com o uchi (Humiriaceae), além de outras coletas de plantas raras como um exemplar do gênero Zamia, uma planta de sub-bosque representante das Gimnospermas, grupo de plantas parentes dos pinheiros e araucárias”, revelou o coordenador geral do projeto.

Interação com as comunidades

Para o pesquisador, o sucesso da expedição do projeto “Tsiino Hiiwiida” também se deve à participação direta das comunidades, como um componente fundamental da parceria. “O projeto Tsiino Hiiwiida, possui todas as licenças e anuências dos órgãos, associações, e das comunidades, para a realização da pesquisa. As comunidades indígenas são parceiras diretas do projeto, contando atualmente com seis bolsistas indígenas que desenvolvem atividades de campo e recebem treinamento dos pesquisadores, além de possibilitar uma troca intensa de conhecimentos locais sobre a diversidade de plantas regionais e técnicas de coleta e documentação da biodiversidade”, completou.

A viagem aconteceu entre 19 de julho e 02 de agosto e contou com a participação de pesquisadores do Inpa, além de especialistas do Instituto Federal do Amazonas (Ifam – São Gabriel da Cachoeira), da Universidade Federal do Amazonas (Ufam), do Instituto Federal do Maranhão (IFMA-São João dos Patos), do Instituto Federal do Tocantins (IFTO), da Universidade de Brasília (UnB), Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), do Instituto de Pesquisas Ambientais (IPA – SP), do Jardim Botânico do Rio de Janeiro (JBRJ), da Universidade Federal da Paraíba (UFPB) e Universidade Federal Rural de Pernambuco (UFRPE), além de parceiros de outras localidades do Brasil e da expertise da logística da 2ª Brigada de Infantaria de Selva no município de São Gabriel da Cachoeira.

Sobre a iniciativa Amazônia +10


O projeto “Tsiino Hiiwiida: revelando múltiplas dimensões da biodiversidade de plantas e fungos no Alto Rio Negro” foi um dos 20 projetos de pesquisa selecionados no edital Expedições Científicas, lançado em novembro de 2023 pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) e pelo Conselho Nacional das Fundações Estaduais de Amparo à Pesquisa (Confap). 

Ao todo, são 77 grupos de pesquisadores vinculados a 18 diferentes Fundações de Amparo à Pesquisa (FAPs), além das agências estrangeiras UK Research and Innovation (UKRI) do Reino Unido, e Swiss National Science Foundation (SNSF), da Suíça.

By emprezaz

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