Redação Planeta Amazônia
Os biomas brasileiros apresentaram recordes de incêndios em 2024. Nos 11 primeiros meses do ano, o número de focos aumentou 43,7% na Amazônia, 64,2% no Cerrado e 139% no Pantanal, em comparação ao mesmo período de 2023. Os dados são do Programa Queimadas do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe).
Ao longo de 2024, os três biomas enfrentaram secas extremas, que favoreceram o alastramento de incêndios. Na maior parte do Brasil, os incêndios costumam se intensificar entre agosto e outubro, com um pico em setembro, mas em julho de 2024 já havia sinais de que o país enfrentaria uma das piores secas da história e os incêndios ficaram fora de controle.
Entre 1 de janeiro e 30 de novembro de 2024, foram registrados 134.979 focos de incêndios na Amazônia. O número representa um aumento de 43,7% em comparação ao mesmo período em 2023 (93.938 focos) e é o maior registrado desde 2007 (mais de 181 mil focos). O valor é 43,5% superior à média de focos nesse período nos cinco anos anteriores (2019-2023), que é de 94.057 focos.
Considerando apenas o mês de novembro, foram registrados 14.158 focos de incêndios na Amazônia, o que representa um aumento de 1,5% em comparação aos 13.940 focos em novembro de 2023. O valor é 46,2% maior que a média para o período nos cinco anos anteriores (2019-2023), que é de 9.679 focos.
Números do Laboratório de Aplicações de Satélites Ambientais (Lasa), da Universidade Federal do Rio de Janeiro, divulgados pelo Ministério do Meio Ambiente e Mudança Climática (MMA) indicam que as porções de floresta nativa da Amazônia atingidas pelo fogo em 2024 totalizaram 13 milhões de hectares de 1º de janeiro a 20 de outubro. É uma área comparável à da Inglaterra.
Segundo Mariana Napolitano, diretora de Estratégia do WWF-Brasil, a seca extrema que o bioma enfrenta desde 2023 é uma combinação de um El Niño intenso com mudanças climáticas e desmatamento acumulado na região.
“O desmatamento colabora para o agravamento da crise climática que já nos afeta diretamente com o regime irregular de chuvas, secas históricas, ondas de calor extremas e enchentes. Essa combinação da alteração climática provocada pelo aquecimento global com a degradação ambiental criou um cenário favorável ao uso criminoso do fogo para uma conversão da floresta”, afirmou Mariana.
Segundo ela, com mais de 18% de sua cobertura perdida, a Amazônia perde uma parte significativa de sua capacidade de produzir chuva e umidade, especialmente nas porções sul e sudoeste do bioma.
“Já estamos muito perto da faixa que a ciência calculou para o ponto a partir do qual a floresta amazônica não consegue mais se sustentar e se transforma em um ecossistema mais pobre, seco e degradado. Isso representa um altíssimo risco para nosso país, para o continente e para o planeta como um todo porque a Amazônia é um regulador climático, com importante participação no regime de chuvas da América do Sul, e um dos mais ricos habitats para a biodiversidade tropical”, afirmou.
No Cerrado, no acumulado do ano até o dia 30 de novembro, foram registrados 79.599 focos de fogo: um aumento de 64,2% em comparação ao mesmo período do ano passado (48.474 focos). O valor é 37% maior que a média do mesmo período nos cinco anos anteriores (2019-2023), que é de 58.070. O valor registrado nos 10 primeiros meses do ano é o maior para o período desde 2012,quando foram detectados mais de 88 mil focos.
Em novembro, o Cerrado teve 2.944 focos de incêndios, uma redução de 9,1% em comparação ao valor registrado em novembro do ano passado (3.242 focos). O número em 2024 é 9% menor que a média dos cinco anos anteriores (2019-2023) para esse período, que é de 2.701 focos de incêndios. Segundo dados do Lasa-UFRJ divulgados pelo governo federal, entre 1 de janeiro e 20 de outubro, a área queimada no Cerrado foi de 14,6 milhões de hectares – aproximadamente o dobro da área da Irlanda.
De acordo com Daniel Silva, especialista em conservação do WWF-Brasil, a destruição do Cerrado agrava ainda mais a crise climática que produz secas extremas e intensifica os incêndios
“Os biomas brasileiros estão conectados. A conversão e o desmatamento do Cerrado geram desequilíbrios para a Amazônia e o Pantanal, afetando a disponibilidade hídrica em outros ecossistemas, contribuindo para secas, aumento dos incêndios e ondas de calor. Por isso, não adianta conservar só um bioma, precisamos ter políticas consistentes para diferentes áreas do país. E, no Brasil, barrar o desmatamento é o ponto mais importante para evitar efeitos ainda mais severos da crise climática”, disse Silva.
No Pantanal, do início de 2024 até 30 de novembro, foram detectados 14.483 focos de incêndio. Um número 139% maior que o registrado no mesmo período no ano passado (6.067 focos). O número é 53,2% maior que a média para o período nos cinco anos anteriores (2019-2023), que foi de 9.449 focos.
O número registrado em 2024 é o segundo maior da série histórica do Programa Queimadas, iniciada em 1998, perdendo apenas para 2020, quando foram registrados mais de 21.900 focos de incêndios nos primeiros 11 meses do ano. O ano de 2020, porém, foi marcado pelos piores incêndios da história do Pantanal, que chegaram a devastar mais de 30% da área total do bioma.
No mês de novembro, foram registrados 191 focos de incêndio no Pantanal. O valor representa uma queda de 95,3% em comparação com o número de focos registrados no mesmo período em 2023 (4.134 focos). O valor em novembro de 2024 é 85,6% menor que a média do mesmo período nos cinco anos anteriores (2019-2023), que é de 1.333 focos de incêndios.
De acordo com dados do Lasa-UFRJ, divulgados pelo MMA, a área queimada no Pantanal entre 1 de janeiro e 20 de outubro de 2024 foi de 2,5 milhões de hectares, uma área maior que o País de Gales.