Cassandra Castro
Conseguir aliar uma produção bem sucedida que respeite e até ajude na conservação do meio ambiente parece ser uma tarefa quase impossível, mas no sul do estado do Amazonas, na região de Apuí, agricultores com apoio do Instituto de Conservação e Desenvolvimento Sustentável do Amazonas – Idesam, estão produzindo café agroflorestal e café agroflorestal orgânico. O Café Apuí Agroflorestal possui certificação orgânica pela Rede Maniva de Agroecologia, movimento social que une agricultores e organizações no fomento à agroecologia no Amazonas. A comercialização do café é feita pela empresa Amazônia Agroflorestal.
A Gestora de projetos da Iniciativa Serviços Ambientais do Idesam, Elen Blanco Perez, fala como funciona o projeto: “O Idesam conta com diversos parceiros para garantir o financiamento do plantio das agroflorestas que irão produzir o café. Os produtores que participam da iniciativa recebem os insumos necessários, desde o preparo do solo até o plantio das mudas. Além do plantio, o Idesam também presta assistência técnica para ajudar os produtores a promoverem um manejo adequando dos sistemas e poderem colher uma boa safra.
Mas, nem sempre foi assim. A área onde ocorre a iniciativa Café Apuí Agroflorestal está localizada em uma parte do Amazonas conhecida como Arco do desmatamento. Em Apuí, há o projeto de Assentamento Rio Juma criado pelo INCRA em 1981, o que atraiu para o estado, dezenas de produtores rurais de base familiar, muitos vindos do sul e do sudeste do Brasil e que já estavam familiarizados com a forma tradicional de cultivo do café. Porém, as diferentes condições climáticas e de solo acabaram colocando a produção do café em declínio, o que deu lugar a outras atividades produtivas como a pecuária extensiva, que hoje é o principal meio de produção da região.
Produção Sustentável com agricultura regenerativa
A chegada do Idesam à região do Apuí trazia a expectativa de criar meios produtivos mais sustentáveis junto aos produtores, uma forma de frear o desmatamento que estava em alta já no ano 2000. Graças a uma observação feita pela equipe do Instituto que a situação do cultivo começou a mudar, conta Elen Perez: “A equipe do Idesam percebeu que pés de café que haviam sido abandonados e estavam crescendo à sombra de outras árvores, tinham uma produtividade maior do que aqueles que estavam sendo cultivados de forma tradicional. Assim, surgiu a ideia de se fomentar o plantio de café em agrofloresta, uma agricultura regenerativa, que incentiva o plantio de árvores para a produção”.
Além de revigorar a produção de café, os agricultores viram a recuperação de áreas degradadas com espécies nativas, o que possibilita uma diversificação na produção além de gerar outras fontes de renda. O Idesam atua como entidade parceira para garantir um comércio justo e com apoio a toda a cadeia produtiva, desde a coleta de sementes até o beneficiamento do café, afirma Elen Perez.
Até o momento, a Iniciativa Café Apuí Agroflorestal beneficia mais de 79 famílias ao longo da cadeia de produção, com um aumento de 300% na renda anual do produtor(desde o início do projeto). Também houve a recuperação de 162ha de áreas reflorestadas, com 71.840 mudas de espécies nativas plantadas. Além do Idesam, também há a empresa Amazônia Agroflorestal, responsável pela compra e comercialização do primeiro café agroflorestal sustentável da Amazônia brasileira.