Redação Planeta Amazônia
O Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa/MCTI) lançou a primeira Cátedra Indígena da Pós-Graduação do país, iniciativa que marca um avanço na valorização das ciências indígenas e no diálogo entre saberes tradicionais e a produção científica. A ação faz parte do Programa de Cátedra de Saberes Amazônicos, instituído por meio de acordo de cooperação técnica entre o Inpa e a Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes).
Segundo o diretor do Inpa, Henrique dos Santos Pereira, a criação da cátedra representa um marco para o sistema nacional de pós-graduação ao reconhecer a legitimidade dos sistemas de conhecimento dos povos originários. A proposta nasceu em 2024, durante a Conferência Livre “Sistemas de Conhecimentos Tradicional Indígena e Científico”, realizada no Instituto.
O lançamento ocorreu em Santarém, durante uma parada da Caravana Fluvial Franco-Brasileira IARAÇU – Rumo à COP30. A cerimônia reuniu representantes do Inpa, da Capes e integrantes da caravana.
A pesquisadora Ana Carla Bruno destacou que a presença indígena nas universidades aumentou nos últimos 20 anos, mas ainda é rara nos institutos de pesquisa. Para ela, a cátedra abre espaço para novas perspectivas: “A iniciativa permite reconhecer processos próprios de produção de conhecimento, construídos a partir de outras lentes”.
Duas modalidades de participação
O programa terá duas modalidades. A primeira contempla pesquisadores indígenas doutores, que atuarão como catedráticos convidados nos programas de pós-graduação do Inpa por um período de 12 meses. A segunda modalidade é voltada a mestres indígenas e lideranças de notório saber, reconhecidos por suas comunidades pelo domínio dos conhecimentos tradicionais, mesmo sem formação acadêmica formal.
Para Pereira, ambas as modalidades reforçam o propósito de promover um ambiente acadêmico intercultural, no qual métodos científicos e narrativas ancestrais dialoguem de forma ética.
O acordo entre Inpa e Capes prevê quatro editais de fomento, com bolsas de pós-doutorado e apoio financeiro. Um edital interno também será lançado para que programas de pós-graduação apresentem propostas e planos de trabalho. A seleção ficará a cargo de um comitê ad hoc, com participação de especialistas externos e representantes indígenas.
